Cidades

Governador determina a suspensão dos salários de policiais civis em greve

Além do corte, governador estuda pedido de apoio ao Executivo federal para garantir a segurança na capital. Sindicato da categoria se reunirá hoje a fim de definir os rumos do movimento, considerado ilegal pelo STF

Antonio Temóteo
postado em 25/11/2011 08:46
O policial flagrado na último terça-feira chutando um carro durante manifestação foi afastado das funções: investigação da corregedoria
O Governo do Distrito Federal decidiu endurecer o tom com o movimento grevista da Polícia Civil. O Executivo local suspendeu as negociações com a categoria e a diretoria-geral da PCDF afastou do trabalho o agente que chutou a porta de um carro na última terça-feira, durante passeata na Esplanada dos Ministérios. Conforme o Correio antecipou na quarta-feira, o governador Agnelo Queiroz (PT) determinou ontem o corte imediato do ponto dos policiais que não voltarem ao trabalho e ainda estuda pedir apoio do governo federal, por meio das Forças Armadas, para garantir a segurança da população.

O Supremo Tribunal Federal (STF) publicou ontem no Diário da Justiça a decisão do presidente da Corte, ministro Cezar Peluso, que suspende o movimento e determina a volta imediata ao trabalho. Além disso, à tarde, a juíza substituta da 8; Vara Cível Magáli Dellape Gomes determinou que o Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol;DF) seja notificado oficialmente, sob pena de multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.

Durante a posse de servidores da saúde, que ocorreu ontem no Teatro Nacional, Agnelo reafirmou que a Polícia Civil não terá aumento salarial, contestou a representatividade do sindicato e revogou todas as propostas feitas anteriormente. O governador também avisou que ;o GDF vai fazer rigoramente o corte do ponto;.

Segundo o chefe do Executivo, o governo negociou até o que era impossível com o sindicato. ;Na última assembleia, havia 200 pessoas para decidir os rumos de uma categoria que tem mais de 6 mil integrantes. Eles estão radicalizando;, disse Agnelo.

O secretário de Administração, Wilmar Lacerda, assegurou que o Distrito Federal não ficará sem segurança e, se for necessário, será solicitado apoio das Forças Armadas. O diretor-geral da Polícia Civil, Onofre José de Moraes, garantiu que todas as medidas legais serão tomadas para que os policiais voltem ao trabalho. ;Não vamos descumprir uma decisão do maior tribunal do país. Como eu vou pagar quem não vai trabalhar? Se a greve é ilegal, o policial tem que voltar;, completou

Adequação
O vice-presidente do Sinpol, Luciano Marinho, disse que os representantes da categoria foram convocados para uma reunião hoje na sede da entidade. O objetivo de definir os rumos da paralisação. Após o encontro, uma assembleia deverá ser marcada para os próximos dias. Segundo Marinho, o movimento será adaptado à realidade imposta pela decisão do STF, mas ele acredita, no entanto, que há perseguição do governo ao movimento.

;A última coisa que queremos é enfrentar uma decisão do Supremo. Se o governo tivesse mais responsabilidade com a segurança pública, teria acenado com atitudes mais razoáveis. Entendemos que esse posicionamento é enérgico. Não houve tempo de nos reunirmos porque não fomos notificados. O governo poderia ter cumprido o que nos ofertou antes da greve.;

Inversão de valores
O respeito irrestrito aos direitos fundamentais, a integração com a sociedade e o absoluto compromisso com o inalienável dever de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Segundo o site da Polícia Civil do Distrito Federal, essas são algumas funções exercidas pelos agentes da corporação. Ao descumprir decisão que considerou ilegal a greve que completa hoje 36 dias, a categoria despreza e desafia determinação da mais alta Corte de Justiça do país.

Com salário inicial de aproximadamente R$ 7 mil, os agentes do DF são os mais bem remunerados do Brasil. A paralisação, quase que total, dos serviços pune duas vezes o cidadão brasiliense, que, depois de ser vítima de algum crime, nem sequer consegue registrar a ocorrência na delegacia.

Na última terça-feira, um motorista teve o carro acertado por um chute de um policial civil que participava de manifestação na Esplanada dos Ministérios. Como se não bastasse deixar a população desassistida, alguns policiais ; não todos, ressalte-se ; ultrapassam qualquer limite de um protesto civilizado.

Conduta investigada
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) afastou ontem o agente que, na última terça-feira, chutou um Ford Ka preto durante passeata dos grevistas na Esplanada dos Ministérios. A imagem foi publicada com exclusividade pelo Correio na edição de quarta-feira. Uma sindicância foi aberta pela Corregedoria-Geral da PCDF para apurar o fato. Até o fim do processo, no entanto, o policial, que está de férias, deixará as atividades que desempenha em uma delegacia circunscricional e ficará lotado no Departamento de Administração Geral.

O diretor-geral da Polícia Civil, Onofre José de Moraes, disse à reportagem que a nova administração não tolerará qualquer comportamento que vá de encontro com a imagem e a ética da corporação. Depois de bloquear as faixas que circundam o Congresso Nacional durante a passeata, os grevistas fizeram um apitaço em frente ao Supremo Tribunal Federal. Foi quando o condutor de um Ford Ka tentou ultrapassar os manifestantes e teve o veículo danificado por um deles. O motorista ainda foi agredido verbalmente. ;Se for macho, para o carro;, teria dito o agente. Segundo Moraes, essas atitudes serão coibidas energicamente.

Segundo o corregedor-geral da PCDF, Adval Cardoso de Matos, possivelmente uma suspensão será aplicada ao policial e ele ficará sem remuneração durante esse período. ;Mas o prejuízo maior não é o financeiro. Se o agente não tiver um curso de progressão de carreira e quiser fazer, ele perderá esse direito. Por ser policial civil, ele está sujeito a uma punição maior;, detalhou

Para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), Ciro de Freitas, o agente não chutou o Ford Ka preto na Esplanada dos Ministérios. ;Quem estiver acusando vai ter que provar;, disse. Segundo Freitas, foi um fato isolado e o sindicato se empenhará na defesa do colega.

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