Cidades

Aos 50 anos Parque Nacional de Brasília é ameaçado por lixo e invasões

postado em 26/11/2011 08:00
Barracos da Estrutural montados praticamente dentro do parque: agressões constantes ao meio ambiente trazem dor de cabeça aos fiscais

A apenas 8 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, animais silvestres do cerrado circulam alheios ao universo da burocracia. Os dois ambientes convivem num espaço tão curto graças ao Parque Nacional de Brasília. O coração verde da capital resiste a secas e incêndios e se renova a cada ano. Esse processo se repete há tempos na unidade de conservação, que, em 29 de outubro, completou 50 anos. A fundação do parque está diretamente relacionada com a construção de Brasília, processo para o qual foi feito um acordo entre o Ministério da Agricultura e a Novacap, que mantinha, em parte da área, um viveiro destinado à arborização da nova capital.

Conhecido como Água Mineral, o parque tem riquezas naturais diversas. O bioma onde nascem as águas que se espalham por todo o território nacional e vivem 50% das espécies de aves e mais de 40% dos vertebrados terrestres do Brasil virou tema de exposição fotográfica, no Museu da República, para as comemorações do cinquentenário. A ideia é chamar a atenção para a necessidade de preservar o parque e todas as áreas do cerrado.

Por duas trilhas de pequena dificuldade, a da Capivara, com 20 minutos de percurso; e a do Cristal Água, cujo trajeto pode ser feito em uma hora, é possível ter uma amostra do que a unidade guarda. De acordo com o analista ambiental Gilson Pacheco, responsável pela área de uso público da reserva, a primeira trilha é ideal para corrida, enquanto a outra seria mais para contemplação. ;Você faz exercício e está em contato direto com a natureza. Nós recomendamos que se façam as trilhas com acompanhamento, porque é uma área de animais silvestres;, lembra. Gilson se refere a capivaras, antas, répteis, veados, macaco-prego, catitus ou queixadas ; espécies de porcos selvagens ; e até onças.

Renovação
Em alguns pontos das trilhas e das matas é possível encontrar troncos queimados, resquícios dos últimos incêndios enfrentados pela unidade. ;Dois dias depois de o fogo passar, você pode ver as cinzas ainda quentes e as flores renascendo. O cerrado tem um poder de renovação muito grande. As cascas das árvores têm proteção para cerca de 60;C. Essa vegetação já teve que passar por mil e uma adaptações;, destaca Gilson, que trabalha no parque há 12 anos. ;É bonito ver as flores nascendo com as cinzas ainda quentes.;

Além dos incêndios, como o que queimou um terço do parque em 2007, o lugar sofre agressões de outros tipos. Os fiscais Luiz Bizerra e Armindo Pereira da Silva fazem rondas diárias para zelar pela segurança do local. Contam que já andaram mais de 300 quilômetros em um dia. Nos caminhos percorridos, surpreendem e multam pescadores e caçadores e não raramente encontram carros queimados, jogados às margens das cercas. Luiz está no parque há 20 anos, e Armindo, o funcionário mais antigo da reserva, há 38. ;Ajudei a construir a piscina, as cercas. Na época, não existia nem a Asa Norte. Morei 26 anos aqui, onde meus filhos foram criados. Dou a minha vida pelo parque;, afirma Armindo, que já poderia ter se aposentado há três anos. Ele chegou lá numa época em que as rondas eram feitas a cavalo e quando ver animais pelas matas era mais frequente.

;Agora, tem as invasões do Lago Oeste, da Estrutural, e o lixão que chegou bem próximo. Estamos cercados;, lamenta Luiz. Em alguns pontos, o entulho é jogado em cima da cerca. Nas proximidades do lixão, o ambiente se transforma. Há muitos urubus, moscas, ratos, o cheiro é forte e algumas árvores já apodrecem por conta da contaminação. ;Antes, a gente via jaguatiriquinhas, tamanduás, antas, capivaras, emas, porcos. Hoje, dá pra ver, mas eles sumiram um pouco;, completa.

Os fiscais ainda se impressionam com a vida selvagem. Apontam os animais, esperam que passem pela estrada e lembram histórias, como a dos três buracos, locais fundos e cheios d;água e para onde a maioria dos animais se dirige a fim de saciar a sede. ;É lá que a onça bebe água;, dizem, exibindo marcas que o animal deixa nas árvores próximas. Lendas também têm vez por ali, como a do espírito de uma mulher vestida de branco que circularia na área.

Para Gilson Pacheco, é preciso conscientizar as pessoas de que em uma unidade de conservação ;não se leva nada além de lembranças, e não se deixa nada além de pegadas;. O limite de visitação é de 3 mil pessoas. O número é resultado de um estudo do impacto que cada pessoa causa em um dia. Os funcionários ressaltam ser importante que os brasilienses visitem e comemorem o aniversário de um lugar que faz parte da história da cidade e ajuda a manter o meio ambiente em equilíbrio.

Ecossistema
Os municípios abrangidos pelo Parque são Sobradinho, Brazlândia, Brasília e Padre Bernardo (GO). Criado pelo Decreto Federal n.; 241, em 29 de novembro de 1961, o Parque Nacional teve seus limites redefinidos pela Lei Federal n; 11.285, de 8 de março de 2006, e atualmente possui uma área de 42.389,01 hectares, equivalente a 42 mil campos de futebol. O parque protege ecossistemas típicos do cerrado do Planalto Central e abriga as bacias dos córregos formadores da represa Santa Maria, responsável pelo fornecimento de 25% da água potável que abastece a capital federal.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação