Cidades

DF tem o segundo maior percentual de mulheres na população do país: 52,19%

Helena Mader
postado em 28/11/2011 06:20
Kelly e Cristiane, ambas solteiras, confirmam: veem muito mais mulheres nas baladas
A feminilidade brasiliense está nas curvas sensuais dos monumentos de Niemeyer, no traçado delicado do Plano Piloto idealizado por Lucio Costa e também nas estatísticas. As mulheres representam 52,19% da população de Brasília, de acordo com dados do censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os números mostram que o Distrito Federal é a segunda unidade da federação com maior percentual de pessoas do sexo feminino ; perde apenas para o Rio de Janeiro, onde as mulheres representam 52,31%. Nos bares, comércios e, principalmente, nas casas noturnas da cidade, é fácil perceber que elas são maioria.

A discrepância entre a quantidade de homens e mulheres também fez crescer o número de solteiros na capital federal. Em 2000, 975.067 brasilienses estavam à procura da cara-metade. Hoje, já há 1,2 milhão de solteiros em Brasília e eles representam 57,3% da população. Se forem incluídos os viúvos, divorciados e separados, o total de pessoas disponíveis na capital federal chega a 66,48%. Os números são facilmente traduzidos por queixas, que vêm especialmente do lado feminino.

A estudante de arquitetura Cristiane Maia, 24 anos, está sozinha há mais de um ano. Para ela, as estatísticas são inquestionáveis. ;Quando eu saio à noite com as minhas amigas, a sensação que temos é de que só tem mulher na balada;, comentou Cristiane. Amiga da estudante, a secretária Kelly Abrantes, 24 anos, faz coro às reclamações. ;É cada dia mais difícil encontrar homens solteiros. E sempre percebo que, na tentativa de se destacar, algumas mulheres apelam e acabam caindo na vulgaridade. O mercado está disputado;, brincou Kelly.

A engenheira eletricista Cecília Francisco, 32 anos, tem uma profissão predominantemente masculina. Ainda assim, ela confirma a sensação de que há mais mulheres do que pessoas do sexo masculino na capital federal. ;O pior de tudo é que faltam homens de qualidade no mercado;, apontou Cecília, com bom humor. A colega de profissão Jaqueline Godoy, 34, diz que muitas vezes vale mais a pena sair com as amigas casadas do que se aventurar em um local de paquera. ;Em Brasília, tem muita mulher independente e isso assusta os homens. Mas sou muito bem resolvida com o fato de ser solteira;, acrescentou Jaqueline, que no momento da entrevista, na última sexta-feira, estava acompanhada de um grande grupo de amigas comprometidas.

As explicações para o alto percentual de pessoas do sexo feminino em Brasília são variadas. A primeira não é um fenômeno exclusivo da capital federal: a grande mortalidade de jovens do sexo masculino. Do total de pessoas que morreram no Distrito Federal nos últimos 10 anos, 57,2% eram homens. Brasilienses do sexo masculino morrem muito mais do que as mulheres, especialmente entre 20 e 24 anos. Nessa faixa etária, 80,8% dos mortos eram homens. A violência urbana e os acidentes de trânsito são as principais causas da grande mortalidade entre rapazes.

Saúde
O economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), lembra ainda que a expectativa de vida é maior entre as mulheres. Principalmente porque os homens têm menos cuidados com a saúde. ;A tendência é que houvesse um equilíbrio entre os sexos, mas os homens morrem mais cedo, especialmente os jovens. Os mais velhos também se cuidam menos;, justifica o economista.

Aos 78 anos, Maria Helena Côrtes Paiva se alimenta com parcimônia e faz hidroterapia. Como fraturou uma vértebra recentemente, teve que abrir mão das caminhadas, mas não ficou sedentária. A moradora da 305 Sul ficou viúva há quatro anos, mas pretende viver ainda por muitos anos para acompanhar o crescimento dos cinco netos. Ela conta que, entre os casais de amigos que conviviam com ela e o marido, os homens morreram antes. ;Faço parte de um grupo de caridade que só tem mulheres viúvas. Não conheço nenhum viúvo, acho que hoje em dia as mulheres se cuidam mais e vivem por muito mais tempo;, relata.

Ilda Ferreira Magalhães, 85 anos, é outro exemplo da longevidade feminina. Em 2004, seu marido faleceu aos 77. Ela já superou a idade que o esposo tinha quando morreu e se cuida para ultrapassar os 90 anos. ;Faço caminhadas diárias, gosto de comidas leves e como muitas frutas. O segredo é não ficar parada; revela.

Entre os idosos, a quantidade de mulheres é ainda mais expressiva. Há 12.105 brasilienses do sexo feminino com idade entre 80 e 89 anos e apenas 7.237 homens nessa faixa. Entre a população com mais de 90 anos, há 2.228 mulheres e 1.052 homens. Já em meio às crianças de zero a nove anos, os meninos são maioria. Essa estatística comprova que a alta mortalidade masculina é a principal causa da discrepância entre os sexos em Brasília.

Economia
Júlio Miragaya explica que os homens só são maioria em unidades da federação que têm uma economia primária fortalecida. ;Regiões com atividade industrial ou outras como a mineração têm a população masculina maior. Isso acontece em Mato Grosso e em Rondônia, por exemplo, para onde migram homens em busca de emprego nessas áreas;, comenta o diretor da Codeplan.

A especialista em geografia das populações Rosa Ester Rossini, professora do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a força do funcionalismo público em Brasília é outra explicação para a maioria feminina. ;Em geral, há uma preferência ostensiva pela escolha dos homens nas contratações. As mulheres se impõem muito mais nos concursos públicos, já que não existe nenhuma diferenciação por sexo na hora de fazer as escolhas;, explica a especialista.

População carcerária
As mulheres são maioria em todas as cidades do Distrito Federal, menos em São Sebastião. Lá, existem 48.481 moradores do sexo feminino e 52.178 homens. Uma das explicações para o fenômeno é o fato de a população do presídio da Papuda estar incluída na cidade. Entre os municípios brasileiros com maior número de moradores do sexo masculino, a maioria tem grandes penitenciárias. Entre as regiões administrativas, o Plano Piloto (54,3%) concentra, proporcionalmente, mais habitantes do sexo feminino, seguido pelo Cruzeiro (53,6%) e pelo Guará (53,1%).

Colaborou Thaís Paranhos

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