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Varejo ignora o feriado para ficar com fatia do 13º salário

postado em 29/11/2011 06:40
A primeira parcela do esperado 13; salário cairá na conta de boa parte dos brasilienses de hoje para amanhã. Enquanto educadores financeiros aconselham o uso do dinheiro extra para quitar dívidas, o comércio se prepara para abrir as portas no feriado do Dia do Evangélico e espantar a temporada ruim de vendas. O abono natalino injetará na economia local cerca de R$ 4,8 bilhões, 15,6% a mais do que no ano passado. O Distrito Federal registra o maior valor médio a ser pago no país: R$ 3.129.

Comerciantes decidiram ignorar o feriado de amanhã e abrir as portas normalmente à espera de 1,486 milhão de brasilienses que receberão o 13; salário, segundo os cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Alguns shoppings funcionarão como em dias normais e encaram a data como a largada para as vendas de fim de ano. As lojas de rua terão liberdade para optar pelo melhor horário.

O cenário atual difere bastante do observado em 2010, quando o varejo esperava o melhor Natal da história. Desta vez, superar o faturamento do último ano será suficiente. A crise econômica mundial deixou o mercado em alerta e freou o consumismo. A estimativa de aumento nas vendas feita pelo Instituto Fecomércio caiu pela metade: 6,32%. O preço médio do presente, porém, saltou para R$ 180,30, valor quase R$ 50 superior ao do ano passado.

Apreensão
Para atrair consumidores e faturar mais que o previsto, o comércio investiu R$ 8 milhões em promoções e decoração natalina, segundo levantamento do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF). ;Está todo mundo apreensivo. Estamos atravessando um momento um pouco turbulento, mas não tenho dúvida de que teremos um bom Natal;, comenta o presidente da entidade, Antônio Augusto de Moraes.

Lojas de brinquedos, vestuário, eletrodomésticos, informática e de telefonia celular são os segmentos mais otimistas. De acordo com o Sindivarejista-DF, os cartões de crédito serão usados em 74% das transações. Em alguns estabelecimentos, os cartões respondem por mais de 80% do faturamento. Em seguida, surgem as formas de pagamento em dinheiro (12%), a prazo (8%) e, em último lugar, quase em extinção, os cheques (6%).

No último fim de semana, engarrafamentos puderam ser vistos em centros comerciais da cidade. Os corredores estão movimentados, mas, segundo os lojistas, as sacolas ainda não começaram a encher. Na disputa por clientes, shoppings apostam em sorteios de carros e brindes. ;Há uma demanda reprimida, principalmente no último trimestre. É nisso que o setor está confiando;, reforça o presidente do Sindivarejista-DF.

No balcão de atendimento da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), no Setor Comercial Sul, onde a pessoa descobre se está ou não com o nome sujo na praça, o movimento costuma aumentar em 50% nesta época. Os principais varejistas recorrem aos bancos de dados para checar a lista dos maus pagadores. Depois, dão ordem a funcionários para que entrem em contato com clientes e ofereçam facilidades para pagamentos de débitos.

Prudência
Enquanto o comércio varejista, concessionárias e imobiliárias tentam seduzir os trabalhadores a torrarem o 13; salário, especialistas ouvidos pelo Correio insistem na recomendação: o dinheiro extra deve ser usado, antes de qualquer coisa, para quitar dívidas. ;Para quem está devendo, não tem choro nem vela. Não há escolha: é pagar as dívidas para não acumular prejuízos;, ensina o educador financeiro Álvaro Modernell.

Os que chegaram até aqui com as contas em dia podem pensar em usar a grana com outras coisas. Mesmo assim, Modernell sugere prudência. É preciso se lembrar, diz ele, das despesas com material escolar e com impostos após a virada do ano. Poupar parte do abono também é recomendável. Com o check list feito, sinal verde para a gastança. ;Afinal, dinheiro não é só para juntar, é para curtir a vida também;, completa o educador financeiro.

A consultora em varejo Karla Rosa fortalece o discurso de vigilância quanto à destinação do 13; salário. Transformar o dinheiro extra em dívida nova é a pior coisa que o trabalhador pode fazer. ;Antes de sair gastando, a dica é fazer as contas e saldar as dívidas do ano;, reforça. Impulsivamente, com a ilusão de aumento do poder aquisitivo, muita gente acaba aplicando o 13; sem pensar e vira o ano com a vida financeira ainda mais fragilizada.

Um centro comercial do Lago Sul aproveitou a chegada do 13; salário para promover um tradicional bazar com roupas de marcas renomadas com descontos de 50% a 70%. A 15; edição do Bazar Extra Chique será realizada entre 1; e 4 de dezembro. ;Quando virar o ano, ninguém mais vai oferecer cafezinho e ser seu amigo. E muito menos pagar suas contas;, alerta Álvaro Modernell. ;É papel do comércio fazer de tudo para iludir os consumidores.;

Como usar o benefício
; Pagar as dívidas. Para os endividados, esse é o melhor destino do dinheiro extra. Mesmo que não seja possível quitar todas, escolha as mais caras e as do cheque especial e as de cartões de crédito, por exemplo. Negocie descontos, principalmente para contas antigas.
; Lembre-se das despesas do início de ano. Se não tiver dívidas, guarde para o pagamento de impostos como IPTU e IPVA e para o material e uniforme escolares dos filhos.
; Poupe. Destine parte do 13; para poupança ou qualquer outro tipo de investimento que o prive do gasto imediato e impulsivo.
; Pense nos planos e projetos para o ano seguinte: troca de carro, compra da casa própria, cursos.
; Claro, não se esqueça dos gastos com as festas de fim de ano, como ceias e presentes.

Lojas abertas
Horário de funcionamento do comércio amanhã, feriado local:

; ParkShopping, Brasília Shopping : das 10h às 22h
; Pátio Brasil, Boulevard Shopping, Pátio Brasil, Taguatinga Shopping, Conjunto Nacional, Iguatemi: das 14h às 20h
; Liberty Mall (abertura facultativa): das 12h às 20h
; Comércio de rua Horário livre

Povo fala
O que você vai fazer com o 13; salário?

Jaqueline Ferreira, 23 anos, vendedora, moradora do Recanto das Emas
;Pagar minhas contas para entrar o ano-novo com o pé-direito. Vou ter de quitar as dívidas, não vai sobrar nada. E prometi quebrar todos os cartões de crédito. Em 2012, se tudo der certo, vou poder aproveitar o 13;, porque desta vez não vou ver nem a cor dele, de novo.;

Rafael de Souza, 20 anos, prestador de serviço, morador de São Sebastião
;Vou pegar o dinheiro extra e viajar para alguma praia, no Nordeste. Tenho conseguido manter minhas contas em dia, as dívidas sempre no limite. Então, vai ter grana livre para eu poder usar me divertindo depois de um ano inteiro de trabalho.;

Lucimária Pereira, 20 anos, promotora de vendas, moradora do Paranoá
;Já está certo: vou zerar meu cartão de crédito e pagar umas dívidas de maquiagem e produtos de beleza que comprei. Só que com o cartão livre, vou acabar comprando coisas neste fim de ano e fazendo novas dívidas, não tem jeito.;

José Orlando,29 anos, garçom, morador de Planaltina (GO)
;Ainda não parei para fazer as contas. Devo pagar um pouco de dívida, mas vou gastar um pouco para visitar minha cidade, no interior do Goiás. Não dá para ficar sem ir lá. Mesmo que eu tenha que pagar conta, vou dar um jeito de fazer essa viagem.;

Limpar o nome
; Para tirar o nome do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o consumidor deve procurar o credor ; loja, financeira ou banco ;, e renegociar ou pagar a dívida. Para saber se o nome consta no cadastro de inadimplentes, é preciso ir ao balcão de atendimento da CDL no Setor Comercial Sul, Quadra 6, Bloco A. Já os lojistas podem consultar o SPC pelo telefone 0800 941 9013 ou no site www.cdldf.com.br.

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