postado em 30/11/2011 08:14
A média mensal de casos de Aids no Distrito Federal teve queda de 12% em relação ao ano passado. Entre janeiro e outubro deste ano, 255 pessoas descobriram ser soropositivas para o vírus HIV, ou 25 por mês. A série histórica registra, desde 1985, um número aproximado de 400 novos casos por ano ; cerca de 33 mensais. Os homens continuam mais vulneráveis à doença do que as mulheres: representam mais de 72% do total de novas ocorrências. No recorte masculino afetado pelo vírus, quase 60% se contaminaram em exposição homo ou bissexual. Um dos dados mais preocupantes do boletim epidemiológico divulgado ontem pela Gerência de Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Saúde é o crescimento da incidência de casos entre jovens na faixa de 13 a 24 anos.Os resultados posicionam Brasília na 26; colocação no ranking de capitais com mais casos no Brasil. O entendimento da GDST/Aids é de que a capital está em processo de estabilização do número de ocorrências, mas precisa ainda baixar a incidência. ;É um desafio nacional. Estamos observando tendência de queda no Sudeste do país, por exemplo. No DF, justamente por estarmos conseguindo estabilizar a disseminação dos vírus, podemos considerar isso um avanço;, explica a assessora técnica da gerência, a enfermeira Leidijany Paz.
Apesar de o número de homens infectados ter diminuído, aumentou a proporção de soropositivos enquadrados na categoria homens que fazem sexo com homens (HSH). Em 2010, 50,4% do grupo masculino contaminado disse ter contraído o vírus em exposição homo ou bissexual. Em um ano, o índice cresceu em quase 9%. Em relação à disseminação do HIV entre mulheres, em 85% dos casos, elas foram expostas ao vírus em relações heterossexuais.
Para representantes de grupos de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBTs), o aumento de episódios se deve à falta de políticas públicas específicas. Michel Platini, presidente do grupo Estruturação, afirma que hoje há uma epidemia de Aids no DF e que sucessivos governos deixaram de acompanhar a sociedade civil na luta contra a doença. ;Há o preconceito institucionalizado e o descaso com os recursos destinados a isso. A Secretaria de Saúde não executa todo o orçamento para educação sexual e campanhas. E é preciso fazer campanhas específicas para esse público. A linguagem é diferente;, critica.
Juventude ameaçada
Um dos dados mais preocupantes revelados pela Secretaria de Saúde ontem diz respeito à expansão da disseminação do vírus entre adolescentes e jovens adultos com idades entre 13 e 24 anos. Desde o início da série história, em 1985, até outubro deste ano, o DF registrou 682 notificações de Aids nessa faixa etária, sendo 431 homens e 251 mulheres. Desde 1997, a incidência média era de seis casos por 100 mil habitantes. Em 2010, no entanto, a notificação de novas 34 contaminações entre jovens elevou esse índice para 6,7 episódios a cada 100 mil habitantes.
Jovens homens expostos a relações homo ou bissexuais são, novamente, o grupo mais suscetível. Em 2010, 76% das pessoas do sexo masculino de 13 a 24 anos ficaram enquadradas na categoria de ;exposição a homo/bissexual; e 20% a heterossexual. ;No DF, a categoria de exposição homossexual caracteriza de forma mais importante a dinâmica da epidemia entre os homens, com expressão relevante em todas as faixas etárias, em especial entre os adolescentes;, descreve o boletim epidemiológico.
O gerente da GDST/Aids, Luiz Fernando Marques, reconhece que há deficiências e problemas na rede de amparo e prevenção, mas acredita que apenas o trabalho em conjunto de sociedade, governo e escola pode reverter a situação. ;Falta prevenção individual e também programas de prevenção. Não apenas do governo, mas também nas escolas. Sentimos muita dificuldade de professores e profissionais de saúde para trabalhar com temas como esse, de alta complexidade;, avalia. Entre as 640 instituições de ensino no Distrito Federal, apenas 120 estão preparadas para lidar com educação sexual e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
A infectologista Ana Izabel Costa de Menezes, médica do Instituto Acreditar e do Hospital das Forças Armadas, acredita que não houve educação continuada quanto à Aids. ;O perfil do adolescente é de assumir riscos. Falta trabalho nessa faixa etária. Na França, há escolas que têm máquinas de camisinha. É um público que precisa ser bombardeado com propaganda para entender que a contaminação existe e que a Aids, apesar de ter mudado de cara e ter tratamento, é uma doença muito grave;, diz. O GDF lança em 1; de dezembro, em comemoração ao Dia Mundial de Combate à Aids, o vídeo da campanha Seja Qual For o Seu Parceiro, Use Camisinha.
Centro de tratamento
O Distrito Federal tem nove centros de referência de tratamento a pacientes com Aids. Os mais procurados são as unidades mistas do Plano Piloto e de Taguatinga, o Centro de Saúde n; 11 de Brasília e o ambulatório do Hospital Universitário de Brasília. O Hospital-Dia, na Asa Sul, é a referência para toda a rede. O governo federal subsidia os retrovirais e as
campanhas educativas.