Cidades

Temporal mata estudante de 12 anos que tentava atravessar a rua em Luziânia

postado em 02/12/2011 07:27
Uma hora e meia de chuva. Tempo suficiente para fazer causar a morte de uma pessoa e estragos na cidade goiana de Luziânia, a 66km de Brasília. O temporal da tarde da última quarta-feira alagou casas e matou a estudante Kamila Rodrigues, 12 anos. A adolescente voltava da escola quando tentou atravessar uma enxurrada de mãos dadas com outros oito amigos, no Parque Estrela D;alva 7. A força da água, porém, carregou a menina por cerca de dois quilômetros. Após três horas de buscas, moradores da região localizaram o corpo dela às 22h, sob entulhos, no Córrego Mandu. No Setor Rosário, a água invadiu diversas residências e, em algumas, alcançou mais de um metro e meio de altura. Os bombeiros resgataram os moradores com barcos. Para evitar novos desastres, tratores recolhem entulhos e tentam recuperar parte dos danos.

Às 14h de ontem, uma multidão foi ao velório de Kamila, em uma igreja evangélica no Parque Santa Fé, a poucos metros de onde ela morava com a família. A estudante era a mais velha de três irmãs. Muito abalada, a mãe da menina preferiu não falar com a imprensa. Denise de Almeida Bessa, 16 anos, voltava para casa com a vítima e participou da corrente humana que o grupo fez para atravessar a água. ;Pensamos que, fazendo isso, não seríamos carregados. Mas cinco pessoas caíram. A Kamila passou por baixo das minhas pernas. Eu ainda tentei correr atrás e segurar a mão dela, mas não consegui;, lamentou a jovem.

Buscas
Ao saber do ocorrido, a mãe de Kamila, de acordo com testemunhas, pulou na enxurrada para tentar localizar a filha e foi resgatada por um morador. O Corpo de Bombeiros começou as buscas pela garota, mas precisou suspender os trabalhos por volta das 19h. ;Continuamos a procura. Éramos um grupo de 30 moradores e, com lanternas, fomos mergulhando em todos os buracos. Só paramos três horas depois, quando eu encontrei o corpo;, contou Marcos Antônio Gomes Fiuza, 40 anos.

Além do acidente fatal, os estragos da chuva, que começou por volta das 17h, são vistos por todo o município. No centro, uma cratera com 12 metros de profundidade na pista impede que carros e pedestres trafeguem pela faixa da direita. Após o temporal, a Quadra 1 do Setor Rosário ficou tomada por lama. ;A água jorrava forte pelo vaso sanitário. Em poucos minutos, minha casa estava inundada. Perdemos tudo. Toda a comida estragou;, contou a massagista Ana Virgínia Machado, 35 anos.

;Minha perda foi muito maior do que material. Perdi pedaços da minha história. Fotos da minha mãe e um quadro do meu pai foram danificados;, lamentou Rosângela Costa Camargos, 50 anos. A psicóloga estava sozinha quando a casa foi invadida pela água. Ela subiu em uma escada no fundo da residência e ligou para o filho pedindo ajuda. ;Os bombeiros chegaram de barco. Eles entraram pela casa da minha vizinha e me resgataram pelo muro. Não tenho nem roupas. Perdi tudo.;

A falta de sistemas eficazes de escoamento de água e a grande quantidade de entulho nas ruas de Luziânia são as principais reclamações dos moradores. ;Por onde a Kamila passou, carregada pela enxurrada, era para ter tubulões a fim de escoar a água. As manilhas estão jogadas na rua há meses e não fazem as obras. Sempre que chove acontece isso. É descaso total;, reclama o presidente da Associação dos Moradores do Parque Estrela Dalva VII, Edvar Albuquerque de Sousa, 38 anos.

O prefeito do município foi procurado pela reportagem, mas uma das secretárias do gabinete informou que Célio Silveira (PSDB) estava em Goiânia. O secretário de Desenvolvimento Urbano de Luziânia, Cláudio Meireles, informou que está sendo feita manutenção nas áreas de risco. ;Também serão realizados estudos para saber o que podemos fazer;, afirmou. Meireles contou que, na tarde de quarta-feira, o pluviômetro da região marcou 150 a 170 milímetros de chuva. ;É o equivalente a 10 dias de temporal;, estima. A reportagem tentou contato com a Defesa Civil de Goiás, mas as ligações não foram atendidas.

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Memória
Março de 2011
Centenas de famílias de São Lourenço (SC) tiveram de deixar suas casas após uma enxurrada atingir a região. Duas pontes da BR-116 ficaram submersas, nos Km 471 e 468, entre São Lourenço do Sul e Turuçu. Sete pessoas, com idades entre 55 e 83 anos, morreram em decorrência do desastre. A enxurrada resultante da forte chuva foi provocada por uma combinação de mar aquecido, muita umidade e instabilidade, que encontrou um bloqueio natural e ficou localizada sobre a região costeira.

Janeiro de 2011
Um homem morreu após ser arrastado por uma enxurrada durante forte chuva na cidade de São Paulo. O corpo da vítima foi encontrado debaixo de um carro parado no bairro da Mooca, zona leste da cidade. A região ficou em estado de alerta por quase quatro horas, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da prefeitura. O transbordamento do Rio Tietê também deixou a área da Casa Verde, na região norte, em alerta por 50 minutos.

Janeiro de 2010
Fortes chuvas mataram mais de 50 pessoas em Angra dos Reis (RJ) no primeiro dia do ano. O temporal começou na noite de 31 de dezembro de 2009 e se estendeu durante toda a madrugada de 1; de janeiro, provocando deslizamento de terra no Morro da Carioca, uma comunidade carente no centro. Em todo o estado, 2.797 pessoas ficaram desalojadas e 1.193, desabrigadas.

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