postado em 03/12/2011 09:30
O salário dos servidores públicos em Brasília deu, nos últimos 20 anos, um salto suficiente para que a cidade sustente o título de capital dos concursos. Enquanto o contracheque do setor privado encolheu em média 4,6% entre 1992 e 2011, o rendimento médio real do funcionalismo local aumentou 44,1% no mesmo período, uma variação 7,6 vezes superior à observada entre a média salarial dos ocupados. Os dados fazem parte da consolidação da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) desde o início da série histórica, com base nos resultados até setembro deste ano.Dos setores listados no levantamento, a administração pública apresenta o menor crescimento do total de trabalhadores em duas décadas: o contigente saiu de 123 mil pessoas, em 1992, para 193 mil, em 2011. O avanço de 56,9% é quase metade da expansão registrada no comércio, que cresceu 116%. Mesmo com o nível ocupacional em ritmo menos expressivo, o funcionalismo se mantém como atividade econômica de maior peso no mercado de trabalho do Distrito Federal em relação à massa de rendimentos, respondendo por metade do dinheiro distribuído todo mês.
[SAIBAMAIS]Em busca da tão pregada estabilidade e de melhor renda, Alcir Souza, 41 anos, se rendeu ao universo dos chamados concurseiros. Em 2009, passou para o lado das estatísticas que indicam os melhores salários pagos na cidade. Deixou a iniciativa privada e, aprovado em concurso, virou analista em ministério. O rendimento cresceu R$ 4 mil e a vida, diz ele, ficou mais fácil. ;No setor privado, as empresas sugam demais o trabalhador. Além do salário melhor, o funcionalismo proporciona mais qualidade de vida;, comenta ele, ao adotar um discurso unânime entre os servidores.
Como boa parte dos jovens brasilienses, Nágila Rúbia dos Santos, 24, já encarou os livros para tentar conquistar uma vaga em ministério, tribunal ou autarquia. Até que seja aprovada em um concurso, não reclama do trabalho de vendedora em uma loja de lingeries no Sudoeste e o salário de R$ 825 mais comissão para uma jornada de sete horas diárias, de segunda-feira a sábado. ;Penso em passar num concurso para ganhar mais e ter um emprego fixo. Na iniciativa privada, você pode ser mandado embora de uma hora para outra;, ponderou.
Preocupação
A força do serviço público no rendimento médio do DF preocupa o diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento (Codeplan), Júlio Miragaya. ;A responsabilidade pela criação de empregos fica com o funcionalismo e o setor de serviços, que têm suas limitações para absorver o crescimento populacional;, comentou. A agricultura e a indústria continuam com participação tímida. ;O mercado não está conseguindo atender as pessoas dispostas a trabalhar;, disse o analista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Daniel Biagioni.
Os números divulgados na manhã de ontem pelo Dieese e pela Codeplan mostram a queda da taxa de desemprego no DF, que este ano atingiu o menor índice desde 1992. Os 12,9%, no entanto, ainda superam a média nacional (10,1%) e colocam Brasília atrás somente de Recife (13,5%) e Salvador (15,9%) no percentual de desocupados. Os técnicos alertam que a falta de diversidade no mercado de trabalho e a pressão exercida pelos moradores do Entorno afeta a oferta local de vagas. A PED aponta um contigente atual de 172 mil desempregados no DF, mas levando em conta a região metropolitana esse número saltaria para 270 mil.
Desemprego
Em tom de preocupação, o superintendente do Dieese no DF, Clóvis Scherer, afirmou que a situação do emprego na capital do país tem sido beneficiada pela grande quantidade de pessoas deixando a população economicamente ativa. ;Se não fosse isso, o problema seria maior. A taxa de desemprego é recorde, mas ainda é muito alta. O DF não está conseguindo atender as expectativas da população;, comentou Scherer. Em outubro, pelo quarto mês consecutivo, o cenário melhorou, com o aumento do rendimento médio, puxado, como de costume, pelo serviço público.
Os órgãos responsáveis pela elaboração da PED reforçaram a urgência em incluir a realidade das cidades vizinhas ao DF no levantamento. O secretário de Trabalho, Glauco Rojas, avisou que aguarda reuniões com representantes de Goiás para tratar do assunto. O diretor da Codeplan Júlio Miragaya criticou: ;Não dá para esperar, fica parecendo desculpa. Sem levar em conta o Entorno, os números que apresentamos são mascarados, não condizem com a realidade do mercado de trabalho do DF;. A presidente da Codeplan, Ivelise Longhi, defendeu o uso da PED na elaboração de políticas públicas.