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Fim de um casamento mexe também com a vida financeira dos novos solteiros

Custos com o processo de separação, prejuízos na partilha dos bens e despesas para bancar uma segunda casa fazem os gastos subirem até 40%

postado em 04/12/2011 08:00
Coração partido e uma pilha de dívidas a pagar. Quando o casamento termina, além da mágoa, amontoam-se os canhotos das novas obrigações, que, desta vez, não poderão ser divididas com o companheiro ou a companheira. As despesas para sustentar um novo lar, bancar os honorários de advogados e custear as necessidades dos filhos, nem sempre contempladas pela pensão, fazem com que o divórcio seja um dos eventos mais traumáticos da vida emocional e financeira de homens e mulheres. De acordo com especialistas, após a separação a renda familiar precisa ser dividida em dois novos lares, o que pode reduzir o poder de compra de cada um em mais de 40%.

Custos com o processo de separação, prejuízos na partilha dos bens e despesas para bancar uma segunda casa fazem os gastos subirem até 40%Em Brasília, lidar com o rompimento faz parte da vida de 5,8% da população. São mais de 127,2 mil pessoas que já passaram por um casamento, número que cresceu 66% nos últimos 10 anos. Em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), eram 76,6 mil divorciados. Hoje, a incidência dos casos na capital federal supera a média nacional (4,8%), de acordo com o Censo 2010.

Para as pessoas que estão diante da decisão de interromper o casamento, os educadores financeiros tentam mostrar que há caminhos menos prejudiciais às finanças. O primeiro deles é o acordo. Quando as duas partes conseguem se entender sobre a necessidade do rompimento e sobre como dividir os bens, é possível resolver a situação no cartório e gastar, em média, 80% a menos do que em um divórcio não amigável. Além das taxas para o tabelião, que começam a partir de R$ 80, é preciso, obrigatoriamente, contratar um advogado. A vantagem é que o prazo para a conclusão do processo é curto: cinco dias.

A advogada Fátima Teresa Cruz explica que o divórcio litigioso, além de mais caro, é demorado e traumático. ;Quando não há consenso, é necessário recorrer ao Judiciário. Desde a entrada da petição até a conclusão, são necessários 60 dias, em média, sem contar que dá mais trabalho para os dois, que precisam se envolver muito no trâmite. Justamente por isso é um processo mais doloroso;, diz.

Algumas medidas judiciais se tornam necessárias na separação litigiosa, como pedir o afastamento de um dos dois do lar, exigir o pagamento de pensão ou a guarda das crianças. Montar todos esses documentos também encarece o divórcio. ;Lembrando que, no caso de envolver filhos menores ou incapazes, não é possível ir ao cartório, é necessário ir à Justiça e assim ter o acompanhamento do Ministério Público. A pensão não é mais só até os 18 anos do filho, como alguns pensam, mas até que durem as necessidades;, reforça.

Igualdade
A divisão igualitária do dinheiro para o sustento dos dependentes ; na proporção de 50% para cada um ; também não existe. Ambos contribuem de forma proporcional com os rendimentos individuais. Para o educador financeiro Álvaro Modernell, a receita para evitar eseses e outros desgastes está no equilíbrio. ;Não adianta puxar a corda de um lado para o outro. Quando há briga, o lado psicológico fica muito abalado. Isso afeta o rendimento profissional e, como consequência, pode, no mínimo, prejudicar a renda;, diz.

Além disso, a hora de repartir os bens e dividir o dinheiro deve ser vista como oportunidade de negócios. ;Se a partilha for feita às pressas, o primeiro que aparecer vai comprar pelo preço que quiser. O melhor pode não ser dividir tudo igualzinho, pela metade. Talvez valha mais coordenar o que fica para cada um. Essa medida pode ser mais vantajosa do que simplesmente vender e dividir o dinheiro;, recomenda.

"Foi um baque financeiro"

A doceira Cristina Barros, 38 anos, sentiu na pele as amarguras financeiras de uma separação. Ela se casou com o namorado que conheceu aos 15 anos. ;Foram mais de sete anos de namoro e oito de casamento;, conta. Quando eles decidiram se separar, ela já era funcionária pública, mas, diante da renda que os dois somavam, a parte com que ela contribuía representava apenas um terço do total. ;Foi uma crise. Eu não me preparei para isso. Um baque financeiro muito grande, porque eu tentei manter a minha vida como era antes, mas sozinha não conseguia e fiquei perdida;, lembra.

Sem que houvesse brigas, eles dividiram os bens e ela optou por comprar um apartamento. ;Eu subi no salto, comprei roupas, viajei. Quando percebi, estava cheia de dívidas. Depois de cinco anos, vendi meu apartamento e decidi mudar de vida;, diz ela. Cristina fez as malas para passar uma temporada estudando gastronomia na Espanha. ;Hoje, montei uma cozinha e estou conciliando o serviço público e a profissão de doceira, mas como terei de assumir essa nova profissão como a única em breve, tenho feito muitos investimentos.;

Cristina Barros, divorciada há oito anos:

Apesar de a vida ter tomado um rumo inesperado, que a agrada, Cristina não recomenda a separação. ;Tem um lado sombrio, a dor é profunda. A parte emocional fica destruída. É difícil voltar a acreditar em relacionamentos;, confessa. Mesmo assim, considera que a experiência acabou sendo importante. ;Me preparou para lidar com outras tantas situações na minha vida. Não gastamos muito no divórcio, houve consenso e um amigo nosso foi o advogado. Só imagino que com mais maturidade seja possível superar as crises. Entretanto, se eu seria mais ou menos feliz, eu não saberia responder;, reflete.

Poupar e racionalizar

É consenso que a maioria das separações são turbulentas. E aí reside o principal erro financeiro que um casal pode cometer quando se divorcia. Muitas vezes, o estresse do rompimento é tão grande que um dos dois decide sair de casa apenas com a roupa do corpo. Tempos depois, a poeira baixa e chega o arrependimento por não ter dividido o que é de direito para cada um.

A professora de administração financeira da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Maria do Carmo Schwandner Ferreira explica que os momentos de fragilidade são naturais, pois ninguém se prepara eles. ;Os grandes ritos de passagem são comemorados. E a separação é uma grande mudança de vida também. Mas não exige comemorações, e sim reflexão. As pessoas precisam refazer as contas, ver se será possível continuar vivendo no mesmo nível. O custo fixo muda, o que era rateado passa a ser de cada um: aluguel, luz, água, condomínio, mudança, móveis;, afirma.

Justamente por isso é essencial ter consciência do novo momento para não se complicar, se endividar e criar uma situação ainda mais difícil. ;Conheço muitas pessoas que se separaram e estão muito bem sozinhas, verdadeiros heróis e heroínas que tiveram coragem para lutar e se deram bem na vida. Agora, não custa que as pessoas aprendam a fazer uma poupança para emergências;, recomenda. Para a professora, poupar significa viver com 70% do que se recebe de salário e aplicar o restante. ;Ninguém precisa viver o casamento pensando que vai se divorciar, mas ter um dinheiro guardado pode ser um grande alívio em um momento complicado como esse;, destaca.

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