Helena Mader
postado em 05/12/2011 06:43
O crescimento rápido da quantidade de alunos matriculados em instituições de ensino superior traz um novo desafio: a necessidade de aliar a expansão do total de vagas à qualidade da educação. Para atrair mais alunos e melhorar a arrecadação, muitas faculdades derrubam o preço das mensalidades, mas deixam de investir em infraestrutura e no corpo docente. Os resultados negativos aparecem nas avaliações realizadas periodicamente pelo Ministério da Educação (MEC). Duas instituições do Distrito Federal correm o risco de terem as graduações fechadas, por conta de notas baixas. Outras podem entrar na mira do MEC se não houver melhoria no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) , Sólon Caldas, o crescimento na quantidade de alunos matriculados em instituições de nível superior pode ser explicado pela ascensão das classes C e D. Além disso, ele atribui o fenômeno à expansão de programas como o Fies e o Prouni. ;Os juros do Fies caíram e também foi criado um fundo garantidor. Com isso, mais pessoas têm condições de arcar com as mensalidades;, comenta.

Para o representante da associação que reúne as instituições de ensino superior particulares do país, as exigências do mercado de trabalho aumentaram. ;Hoje, é muito mais difícil conseguir uma vaga em um emprego, sem diploma. Por isso, a demanda também cresceu;, justifica o especialista. Sólon garante que as instituições se esforçam para manter a qualidade do ensino. ;Essa é uma exigência dos próprios alunos. A maioria trabalha para pagar as mensalidades, então, esses estudantes jamais aceitariam uma educação de baixa qualidade;, acrescenta.
O diretor executivo da ABMES também diz que é preciso haver grandes mudanças na educação superior do Brasil. ;Hoje, os estudantes das classes mais altas têm o ensino custeado pelo governo. É preciso que haja uma política para mudar esse quadro, para corrigir essas distorções e criar um sistema mais justo;, finaliza Sólon.
Aos 18 anos, Brenda Ruas será a primeira da família a cursar uma graduação. Filha de uma dona de casa e de um técnico de futebol, a moradora de Brazlândia está no segundo semestre de pedagogia. Ela estuda no câmpus que o Centro Universitário Iesb abriu em Ceilândia para atender a demanda reprimida dos que no passado não tinham condições de frequentar uma universidade. ;Estudar perto de casa é um grande estímulo. No passado, só havia opções de faculdade no Plano Piloto. Mas eu prestei muita atenção na qualidade antes de escolher onde estudar. Não adianta olhar só o preço da mensalidade;, explica a jovem.
A reitora do Centro Universitário Iesb, Eda Machado, lembra que os alunos integrantes do Prouni são selecionados por meio da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que garante o ingresso de estudantes capacitados. ;Quase 70% das pessoas que cursam o ensino superior estão em instituições privadas. Isso mostra o tamanho da responsabilidade das particulares;, avalia.
Segundo ela, a expansão rápida tem um fator negativo: a proliferação de cursos de baixa qualidade. ;Muitas instituições não ajudam a formar profissionais capacitados para atuar no mercado de trabalho. Há cursos com mensalidades inferiores a R$ 200. Com esse valor, é impossível oferecer uma boa formação. Há muitos alunos perdendo tempo e dinheiro, já que só o diploma não é garantia de sucesso;, acrescenta Eda, que defende as avaliações do MEC para apontar instituições ruins.
Estagnação
O doutor em educação Erasto Fortes, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em políticas públicas e gestão da educação, explica que a oferta de vagas em cursos de graduação ficou estagnada nos anos 1990, quando o país privilegiou os investimentos no ensino fundamental. ;Hoje, temos 98% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas em instituições de ensino. Mas o problema é que essa política deixou de lado o ensino médio, o infantil e, principalmente, o superior;, afirma.
[SAIBAMAIS]O especialista garante que a falta de investimentos do governo nas universidades motivou o crescimento rápido das instituições particulares, inclusive dos estabelecimentos mais fracos. ;Até 2003, a expansão ocorreu principalmente no setor privado. Infelizmente, surgiram algumas ruins, que funcionam em sobrelojas ou em salas no subsolo de prédios. Os estudantes ficaram sujeitos a essa realidade, que só começou a mudar com o surgimento de programas como o Reuni, o Fies e o Prouni;, conclui Erasto.
O secretário-geral do Uniceub, Maurício Neves, também critica a proliferação de faculdades de baixa qualidade. ;Surgiu em Brasília e no resto do país o que chamamos de faculdades de R$ 1,99, que são instituições que se aproveitam da demanda crescente das classes C e D para oferecer cursos sem qualificação;, critica.
Para ele, o Programa Universidade para Todos é uma forma de selecionar alunos qualificados, que poderão estudar em estabelecimentos de ensino com bom nível. ;Nos primeiros anos do Prouni, os estudantes que entravam eram ainda mais capacitados, porque muitos passaram anos fazendo cursinho até que o governo criasse esse programa. Mas, certamente, o Prouni é um dos fatores que facilitaram o acesso às universidades;, explica Maurício.