Cidades

Instalação de toldos na Feira da Torre abre polêmica entre os feirantes

postado em 05/12/2011 11:30
Aos poucos a nova Feira da Torre de TV perde as características do projeto original. Para proteger os clientes e os produtos do sol e da chuva, boa parte dos artesãos decidiu se unir e instalar toldos em frente aos boxes. Alguns optaram pela padronização e colocaram coberturas da mesma cor do estande, mas outros colocaram tendas e lonas de cores diferentes. Com a medida, os feirantes aproveitaram o espaço maior para expor a mercadoria e colocaram as peças do lado de fora dos boxes, no local de passagem dos frequentadores. A iniciativa provoca polêmica entre os feirantes e é considerada ilegal pelo governo.

Os artesãos discutiram qual a medida mais adequada para se proteger do sol e da chuva. Eles alegaram que após a colocação da cobertura, os clientes voltaram a aparecer. ;Sem isso o freguês não aparece;, argumentou um feirante que preferiu não se identificar. A feirante Nonata Barbosa, 45 anos, moradora de Sobradinho, faz parte do grupo que optou por colocar a cobertura. Ela contou que os artesãos do mesmo bloco se juntaram e decidiram padronizar o espaço. ;Na minha banca, o sol batia até na parede dos fundos. Os clientes entravam aqui e reclamavam do calor;, contou. Nonata disse que os donos dos boxes tiraram dinheiro do próprio bolso para pagar a cobertura. ;Está bem melhor e os clientes não têm mais queixa;, afirmou.

Em alguns conjuntos de bancas, os feirantes decidiram por padronizar o avanço da cobertura. Em outros, os toldos têm cores diferentes

A artesã Angela Luiza Trancoso Muniz, 62 anos, moradora da Asa Norte, optou por não colocar o toldo no boxe. Para ela, a estrutura deveria ter sido prevista no projeto original. ;Assim, ficaríamos protegidos e não deixaríamos de respeitar o patrimônio.; Angela acredita que a falta de uma cobertura não atrapalha a ida de clientes à Feira da Torre de TV. ;O nosso freguês vem de qualquer jeito. Sem contar que prefiro a luminosidade natural e o vento fresco, a chuva não me incomoda nem o sol;, disse. A artesã afirmou que vem sofrendo pressão de outros colegas para colocar o toldo.

Padronização
Na tarde de ontem, o professor Ralf Dantas, 50 anos, morador de Samambaia, visitou pela primeira vez a Feira da Torre de TV e gostou do que viu. Ele passeou com a namorada, a professora Valdirene Santos, 36 anos, moradora de Ceilândia, e aprovou o novo espaço, mas com ressalvas. ;O local precisava de uma revitalização, estava bastante deteriorado, fiquei satisfeito. Não sou contra a colocação de toldos, mas é preciso haver uma padronização prevista em projeto;, sugeriu. Para ele, a associação deve se mobilizar para tornar a feira cada vez mais atraente para o público, mas não pode se esquecer de alguns detalhes como a acessibilidade. ;É importante ter uma cobertura para os clientes, mas não dá para colocar os produtos e a gente ficar sem espaço para passar;, sugeriu.

O chefe da Unidade de Serviços Públicos da Coordenadoria das Cidades, Pasem Asad, explicou que técnicos da Companhia Urbanizadora da Capital (Novacap) elaboraram um projeto que prevê a cobertura dos boxes e da praça de alimentação e o paisagismo da feira. ;Não queremos cometer o mesmo erro da gestão passada, que apresentou um projeto aos artesãos e executou outro. Levamos a nossa proposta aos feirantes, mas eles recusaram e a estamos refazendo;, explicou. Quantos aos toldos, Pasem afirmou que eles são irregulares, mas a Coordenadoria vai agir com cautela para não prejudicar as atividades na feira. A equipe do Correio procurou a Associação de Artesãos, Artistas Plásticos e Manipuladores da Feira da Torre de Televisão (AFTTV), mas não obteve retorno.

Para saber mais // Projeto distorcido

Com um ano de atraso, as obras da feira foram entregues em abril de 2011. A mudança causou reação em alguns artesãos. Ele alegaram que a Secretaria de Obras não cumpriu o projeto original e faltavam itens como escadas de acesso à Torre de TV e elevadores, um posto policial, um Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e caixas eletrônicos. As diferenças entre o projeto e a estrutura final também foram alvo do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). A obra custou cerca de R$ 18 milhões, ou seja, 25% a mais do que o previsto. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios recomendou o adiamento do sorteio dos boxes entre os feirantes devido à suspeita de irregularidades no projeto e no processo de transferência, mas a Coordenadoria das Cidades ignorou a recomendação e alegou pressa para transferir o espaço aos artesãos e começar a reforma do monumento. No local, há 608 boxes, mas nem todos estão ocupados e aos poucos começam a ser descaracterizados.

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