postado em 07/12/2011 08:40
O Hospital Regional da Asa Norte (Hran) vai ampliar o atendimento a adultos e o Hospital Regional da Asa Sul (Hras) passará a investir na melhoria da prestação de serviços ao público materno-infantil. Conforme antecipado ontem pelo Correio, para fazer as mudanças, a Secretaria de Saúde do DF vai fechar a pediatria do Hran, que atende 2 mil crianças por mês. Os 19 médicos da unidade serão transferidos para o Hras. A medida é parte de um remanejamento que tem como objetivo dar mais atenção às crianças da capital. No entanto, o Ministério Público do DF e Territórios e Conselho Regional de Medicina questionam a medida. Segundo a secretaria, a mudança se justifica em virtude do baixo número de atendimentos feitos no local. Embora o site da pasta tenha publicado nota destacando que a mudança ocorrerá em março, o secretário de Saúde do DF, Rafael de Aguiar Barbosa, garantiu que nada será feito até que o Instituto da Criança e do Adolescente (ICA) ; que será instalado no Hospital Universitário de Brasília (HUB) ; fique pronto, para que não haja prejuízo à população. ;Não definimos data. Estamos discutindo um plano diretor para toda a saúde. A pediatria do DF tem um problema crônico e estamos tentando resolver isso com o remanejamento;, afirmou Barbosa. Segundo ele, a intenção promover uma gestão eficiente, com a otimização de recursos humanos.
Em entrevista ao Correio (Leia Três perguntas para), o secretário garantiu que as mães atendidas com excelência na unidade da Asa Norte não precisam se preocupar. ;São 19 pediatras no Hran para atender 66 pessoas a cada 24 horas. É um índice baixíssimo. Se tiver que transferir, vamos fazer isso. Os médicos são da rede e não de um só hospital;, frisou. Para ele, após feita a análise, o serviço do Hran não se justifica. O atendimento para adultos nas áreas de UTI e clínica-geral será ampliado. A intenção é investir na assistência de crianças no Hras.
Preocupada, Antônia Célia Lopes, 28 anos, discorda do secretário. Desde que nasceu, a pequena Thaíssa Evelyn, hoje com quatro meses, recebe atendimento de qualidade no Hran. Ela tem um problema na traqueia e precisa de tratamento especializado. ;Eles me abraçam, me chamam pelo nome, me conhecem. Minha filha é a princesa da pediatria. Outro dia, ela passou mal e fui levada para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), que é mais próximo da minha casa. Eles nem sequer fizeram um exame de sangue nela. Somente aqui, descobri que a minha filha estava com pneumonia;, disse.
Quando completar 11 meses, Thaíssa vai precisar tirar o tubo orotraqueal ; utilizado para a respiração artificial; e a mãe está apreensiva com a possibilidade de a unidade ser fechada. ;Não sei o que vou fazer. Desde que ela nasceu, só teve alta uma vez e, justamente, quando ela precisou de outro hospital não foi bem assistida. Não confio em mais ninguém;, completou. Ao lado de Antônia, a dona de casa Cristiane Silva Souza e a teleoperadora Ana Flávia de Oliveira manifestaram insatisfação com a mudança iminente. Todas pedem que o governo mantenha a pediatria do Hran.
Polêmica
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal deverá detalhar as mudanças à Promotoria de Defesa da Saúde (Prosus) e convencer de que a medida não vai piorar o atendimento na rede pública. O promotor Jairo Bisol vai notificar o órgão e pedir que o procedimento seja discriminado passo a passo. ;Esse é o caminho para a fiscalização. A princípio, a notícia nos impacta negativamente. Mas vamos apurar e, se o fechamento for nocivo à população, vamos recomendar que ele não aconteça;, disse Bisol.
[SAIBAMAIS]O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Iran Augusto Cardoso, foi mais enfático: ;Somos contra a suspensão de atendimento de qualquer unidade que esteja funcionando bem;. Embasado na Resolução n; 1.451/1995 do Conselho Federal de Medicina (CFM) e na Portaria 2.048/2002 do Ministério da Saúde, ele afirma que todos os hospitais devem ter pronto-socorro na área pediátrica. ;A mudança é ilegal. A unidade foi aberta com as urgências em cinco áreas básicas: pediatria, clínica médica, cirurgia, ginecologia e obstetrícia, e ortopedia. Eles não podem simplesmente fechar uma delas;, enfatizou.
Iram analisa que o diretor do Hran, Paulo Feitosa, e o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, podem sofrer penas com a decisão. ;É uma atitude irresponsável. Vamos abrir uma sindicância e, se necessário, cassaremos o registro dos dois. Não podemos admitir que uma atitude contra a população seja tomada;, analisou.