Cidades

Projeto estimula concentração e disciplina em alunos da rede pública

postado em 07/12/2011 08:50
Por meio do projeto Ação Social Criança Feliz Notre Dame, dois professores, Edmilson Campos e Edmilson Júnior, levam arte e uma perspectiva de vida melhor a 240 crianças e adolescentes de Ceilândia e do Entorno. São educadores apaixonados pelo ensino e alunos com vontade de aprender. A fórmula não é segredo, mas está fora da rotina da maioria das salas de aula. Os dois regentes conseguiram reverter essa realidade.

Para participar do projeto basta ter de cinco a 18 anos e estar matriculado na rede pública de ensino. As matrículas são abertas no início do ano e as aulas práticas e teóricas são realizadas duas vezes por semana. Além de aprender a tocar um instrumento musical, os alunos ensaiam, têm a oportunidade de entrar para a banda sinfônica e participam de oficinas de artesanato, bijuteria e origami.

Edmilson Campos e Edmilson Júnior, pai e filho, eram voluntários em uma escola da Ceilândia e conheceram a freira Áurea Stradiotti no Colégio Notre Dame, onde eles lecionavam. A religiosa procurava uma área para desenvolver um projeto social, e os professores sugeriram a música. Ela lembra que no começo era apenas especulação. ;Lanche, reforço escolar e esporte, as instituições oferecem. Por que não sonhar e investir na música?;, questionava. Eles apresentaram a ideia à Congregação de Nossa Senhora, que concordou em ser mantenedora do projeto.

Os estudantes, devidamente paramentados para as apresentações: banda completa apresenta um repertório bastante variadoO processo
As atividades oferecidas gratuitamente à comunidade tiveram início em 2003, e, atualmente, contam com sete funcionários e pais voluntários. Instrumentos, uniforme, lanche, aluguel e pagamento dos professores são bancados pela instituição. Trata-se de um investimento caro, mas que gera retorno. ;Nossa função é tirar os meninos da rua com a música;, define a irmã.

Os resultados são mais concentração, equilíbrio e disciplina, além do convívio social. ;Aqui, é uma família. Eles desabafam e nós nos envolvemos muito mais que simplesmente vir e dar aula;, diz a freira. Ana Carolina Araújo, 17 anos, já passou por outras escolas de música, mas reconhece o estímulo dos instrutores. ;O diferencial é que aqui é um projeto social. Os regentes transmitem emoção pela música.;

Os integrantes da banda tocam em festas e eventos. Eles já passaram pelo Teatro Nacional e pelo desfile de Sete de Setembro. Difícil contar quantas apresentações já fizeram. ;Teve um ano que foram 36, mas quando fizemos parceria com o BRB, tocamos em 47 agências em um mês;, relata Edmilson Campos. ;Não tem uma vez que tocamos na Sala Villa-Lobos e ficou cadeira vazia. Sempre lota e eles colocam mais 200 lá atrás.;

Bastidores
Quem chega à sede do projeto não imagina a dimensão do empreendimento. À primeira vista, meninos e meninas agitados se amontoam em frente a uma pequena porta. Ao entrar, há uma variedade de talentos e sons. De acordo com o professor Campos, quem está ali é porque realmente quer estudar música.

Pedro Henrique dos Santos, 19 anos, tocou flauta pela primeira vez aos 6, seguiu o professor para continuar com as aulas e hoje é multi-instrumentista. Ano passado, ao descobrir dois tumores na cabeça, buscou a música para enfrentar a doença. Mesmo desgastado pelas sessões de químio e radioterapia, ele preferia trocar o repouso pelo projeto. Quando não conseguia tocar, assistia às aulas. Em casa, entrava no quarto e, sozinho, ensaiava clarinete, saxofone e flauta transversal.

;O que me ajudou foi a música, o incentivo da família, dos meus amigos e professores daqui. A música é uma forma de sair do cotidiano, do estresse, é quando eu me encontro;, desabafa. O tempo em que parte da banda se apresentava com a cabeça raspada em apoio ao amigo ficou para trás. Pedro está curado, ajuda na composição das partituras e leciona em Taguatinga.

Todo ano, são abertas de 30 a 60 vagas, preenchidas por ordem de chegada. Não há teste ou seleção, e a fila de espera é grande. O sucesso se deve à dedicação dos novos instrumentistas e à inovação da banda. Nas apresentações, eles trocam de figurino, se movimentam no palco e fazem coreografias. O repertório surpreende e vai de Whisky a gogo, na versão do Roupa Nova, a I gotta feeling , do The Black Eyed Peas, passando por O que é, o que é?, de Gonzaguinha, entre diversas outras músicas.

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