Cidades

Tráfico alimenta escalada de violência que aumenta no Distrito Federal

Levantamento da Polícia Civil mostra que, até ontem, já houve um aumento de 29,2% no número de latrocínios e de 14,3% no de sequestros relâmpagos em relação aos 12 meses de 2010. Homicídios também cresceram: 3,4%

Adriana Bernardes
postado em 09/12/2011 07:01

O avanço do tráfico e do consumo de drogas tem servido de combustível para aumentar crimes contra a vida no Distrito Federal. O ano não terminou e a quantidade de assassinatos superou em 3,4% todos os registros de 2010. Os latrocínios subiram 29,2% e o roubo com restrição de liberdade ; conhecido como sequestro relâmpago ; registrou acréscimo de 14,3% (veja quadro). Na noite da última quarta-feira, mais duas pessoas foram vítimas desse tipo de crime. Um bandido armado abordou um casal no estacionamento superior do Shopping Conjunto Nacional, área central de Brasília, e o obrigou a dirigir rumo à Estrutural. Entre janeiro e ontem, foram 655 casos como esse.

As vítimas, de 21 e 23 anos, esperavam por uma terceira pessoa quando Luiz Jésus Ferreira Cruz, 24, com um revólver calibre .38, anunciou o assalto, por volta das 22h. O bandido entrou no banco traseiro do carro, pediu dinheiro e mandou o motorista seguir para a Cidade Estrutural. Ao deixar o estacionamento, a vítima, que estava dirigindo, deixou o veículo apagar em frente ao Teatro Nacional. Ameaçado, o jovem ligou o automóvel novamente e continuou o percurso. O criminoso teria mantido a mulher sob a mira do revólver o tempo todo. ;Ele queria dinheiro e falava para levá-lo logo para a Estrutural;, contou o jovem, que preferiu não se identificar.

Cerca de cinco minutos após a abordagem do criminoso, na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, o condutor viu três militares e jogou o carro na direção deles. De acordo com o sargento Ezequias da Silva Lima, do 6; Batalhão de Polícia Militar (BPM), os policiais quase foram atropelados. ;Para pedir ajuda, o motorista invadiu a calçada onde estávamos. A moça começou a gritar que eles estavam sendo vítimas de um roubo;, disse. ;O Luiz chegou a apontar a arma em nossa direção, mas percebeu que estava sem saída e decidiu se render;, completou o sargento. A arma utilizada no crime foi apreendida no assoalho do veículo. A jovem ficou em estado de choque. O casal, morador do Entorno, pensa até em mudar de cidade.

No momento da prisão, agentes da Secretaria de Ordem Pública e Social (Seops) e da Agência de Fiscalização (Agefis) realizavam a Operação Presença, para coibir o comércio de ambulantes e camelôs nas proximidades da Rodoviária do Plano Piloto, e auxiliaram os PMs na ação. Luiz Jésus foi encaminhado à 5; Delegacia de Polícia (Setor Bancário Norte) e autuado por roubo com restrição a liberdade da vítima e porte ilegal de arma de fogo.

Em Taguatinga, moradores ainda estão chocados com a morte de Nelza Maria de Faria Silva, 59 anos. Ela foi assassinada durante uma tentativa de assalto na última terça-feira. Na tarde de ontem, a família enterrou o corpo e, apreensiva, preferiu não dar entrevista (leia ao lado)

Prioridade
Para a direção da Polícia Civil, reduzir os casos de homicídios, de sequestros relâmpagos e prevenir e combater o uso e o tráfico de drogas são prioridades. Segundo o diretor-geral da corporação, Onofre de Moraes, boa parte desses crimes tem relação com as drogas. A análise do perfil das vítimas assassinadas, por exemplo, revela que muitas têm registro nos arquivos policiais por tráfico ou uso de entorpecentes, ou até mesmo homicídio motivado pela droga. ;Temos ainda um problema sério. A sociedade apoia a morte do bandido. É um erro. Não podemos deixar isso influenciar os policiais. Atrás de uma pessoa morta, existe uma família que chora. As pessoas têm direito à vida, não importa quem sejam;, comenta.

Uma das armas da polícia para combater de forma eficiente os crimes na capital será a implantação, em todas as delegacias da cidade, do Projeto Polaris. É um programa de computador desenvolvido pela Polícia Civil que permite aos investigadores acesso, em tempo real, a todas as ocorrências, com informações detalhadas sobre o dia, a hora e o local dos fatos. Saberão os tipos de crimes mais comuns cometidos em uma cidade, em uma quadra e em uma determinada rua, por exemplo. ;Se percebermos que determinado crime está aumentando na região, isso não será problema da delegacia da área. Vamos usar toda a estrutura disponível, principalmente o setor de inteligência.;

O aumento de veículos oficiais caracterizados nas ruas também deverá impactar positivamente na coibição de crimes. Segundo Onofre de Moraes, cerca de 80% da frota de 1,2 mil veículos rodavam sem identificação da corporação. A meta é identificar metade dos veículos, deixando apenas os de uso do serviço de inteligência descaracterizados. ;Quem está lotado na administração também é policial. E a presença de viaturas nas ruas aumenta a sensação de segurança;, defendeu Moraes.

Levantamento da Polícia Civil mostra que, até ontem, já houve um aumento de 29,2% no número de latrocínios e de 14,3% no de sequestros relâmpagos em relação aos 12 meses de 2010. Homicídios também cresceram: 3,4%

Povo Fala

Você já foi vítima de violência? Sente-se seguro?

Maykow Diniz
19 anos, estudante, morador de Samambaia

;Hoje em dia, o policiamento está muito fraco. A segurança foi corrompida por dinheiro e por falcatruas. Provavelmente, ninguém mais se sente seguro.;

Lenara Alves
16 anos, estudante, moradora de Valparaíso

;Já sofri uma tentativa de assalto perto da minha casa. O assaltante tentou levar meu celular. Tenho medo de que aconteça de novo, porque a sensação é horrível. Hoje, tomo muito cuidado, principalmente quando saio à noite.;

Evelly M. Martins
42 anos, microempresário, morador de Samambaia

;Tenho medo demais. Todo lugar em que a gente para tem bandido. Quando chego em casa, quando desço do carro, quando saio à noite, a qualquer hora. Quando meu filho chega tarde do colégio, tenho medo de que ele seja assaltado e seja até ferido.;

Andreia Costa
38 anos, pedagoga, moradora de Taguatinga

;Minha mãe já foi sequestrada há seis anos. Hoje, saio do banco olhando para os lados, porque a periculosidade em Taguatinga está muito alta. A gente não está imune a nada.;

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