Cidades

Universidade de Brasília cresce, mas estrutura deixa a desejar

postado em 11/12/2011 08:05

A Universidade de Brasília (UnB) cresceu. Expandiu o território, os cursos, o corpo docente e a quantidade de alunos. Da data de fundação até hoje, 89.148 estudantes se formaram na universidade em graduações, mestrados e doutorados. Só nos últimos três anos, a instituição de ensino superior ganhou 203 mil metros quadrados em edificações, quase 40% a mais do que tinha em 2007. A educação a distância se espalhou pelo território nacional , com 31 polos para difundir 12 graduações. Em 96,8 mil metros quadrados, a população pode ver câmpus espalhados por diversas cidades e ter acesso ainda a um hospital exclusivo para formar os aprovados no vestibular da entidade, o Hospital Universitário de Brasília (HUB).
Marcelo Ribeiro, estudante de física:
O programa de expansão chegou para aumentar o acesso à universidade, mas é um fator que gera também preocupação. Com o aumento do número de vagas, a nova discussão é quanto à qualidade do ensino oferecido. Embora ainda seja a melhor instituição de ensino superior do Distrito Federal, a UnB sofreu uma queda no ranking entre as que passaram por avaliação do Ministério da Educação ; levou em conta a nota do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Desde 2007, ficava entre a 10; e a 11; colocações. Em 2010, caiu para a 19;.

Para o senador Cristovam Buarque, a queda não está diretamente ligada à perda de qualidade na UnB, mas, sim, a setores como a educação básica. ;Antes, o acesso ao vestibular era menor. O número de pessoas que passam na seleção aumentou devido ao número de vagas. Mas, muitas vezes, elas não têm uma formação educacional boa. Para que o ensino superior aumente a qualidade, é necessário também ter escolas públicas que ofereçam uma boa educação para todos;, ressaltou.

Já o reitor da UnB, José Geraldo Sousa, comemorou pelo menos o aumento na nota do Enade. Desde 2007, a universidade alcançou a melhor nota no Índice Geral de Cursos (IGC). Chegou a 3,91, com média 4, considerada boa diante de uma avaliação que classifica o desempenho das instituições com faixas de 0 a 5. ;Nós ganhamos outros prêmios de qualidade este ano. Estamos em um momento de refundação e o nosso primeiro quesito para crescer é pensar em um bom corpo docente;, disse.

Porém, com relação à estrutura os alunos ainda sofrem. Na Asa Norte, alguns reclamam de falta de bebedouros, de banheiros sem papel higiênico ou interditados, de cadeiras quebradas e outros problemas. Em Ceilândia, a dificuldade passa pela conclusão das obras. Depois de três anos de atraso do prazo inicial para a entrega dos prédios, a UnB prometeu concluí-los apenas em 2012. Os alunos invadiram a reitoria e acamparam no local por 11 dias para conseguir uma resposta.
[SAIBAMAIS]
Mesmo assim, o estudante Marcelo Ribeiro, 18 anos, morador da Asa Sul, não teve dúvidas ao escolher em qual instituição cursaria física. Ele levou em conta o reconhecimento da instituição no meio acadêmico. ;Tive a oportunidade de estudar em outras faculdades, mas escolhi a UnB por causa do peso do diploma no mercado de trabalho;, explicou. Marcelo acredita que a universidade mudou bastante ao longo de 50 anos, mas confia na mobilização de alunos e de educadores para garantir a qualidade do ensino e a formação de cidadãos. ;A UnB ainda é referência no país;, apontou.

Festividades
No mesmo dia em que se comemora a sanção da lei que autoriza a criação da UnB, começam também os eventos de celebração do aniversário. Serão 12 meses ; de 15 de dezembro de 2011 ao mesmo dia de 2012 ; de festas, que vão recontar a história da universidade. A Comissão UnB 50 anos prepara exposições fotográficas, edições de livros e a retomada de projetos como o Festival Latino-americano de Arte e Cultura (Flaac). Sucesso na década de 1980, a edição de 2012 vai incorporar também a cultura africana nas apresentações.

Segundo o professor aposentado e membro titular da Academia Brasileira de Ciências Isaac Roitman, 72 anos, o ano 50 na UnB terá seis eixos de apresentação: destacar marcos históricos com análise crítica; revisitar a universidade; divulgar a produção intelectual e artística; aproximar a instituição da sociedade brasiliense; planejar a UnB para as próximas décadas; e destacar o papel acadêmico dos ex-alunos. ;A comissão quer concretizar ideias antigas que não tiveram tempo de sair do papel;, revelou. Outro aspecto interessante é que a UnB será homenageada no carnaval de Brasília pela escola de Samba Acadêmicos da Asa Norte.

Novo modelo em prática

Em julho de 1985, Cristovam Buarque assumiu a reitoria com a missão de mudar um espaço no qual os estudantes gritavam, mas não eram ouvidos. ;Foi o cargo mais importante da minha vida. Ser governador, senador, nada se compara. Foi um tempo em que pude fazer as mudanças que se esperava. Conseguimos redemocratizar a universidade e trazer a filosofia antiga de Darcy Ribeiro, só que com uma metodologia diferenciada;, contou.
Conhecido como Minhocão, o ICC tornou-se uma marca registrada do prédio que abriga a maioria dos departamentos e das salas de aula
A gestão durou até 1989. Foram abertos cursos noturnos, e a instituição voltou a ser um centro de debates. ;Fizemos o estatuto, criamos os centros avançados multidisciplinares e os departamentos por núcleos temáticos e ampliamos o acesso à instituição;, disse Buarque. O
atual senador pelo PDT acompanhou a maioria das mudanças que aconteceu na UnB. ;Tentei instituir o Programa de Avaliação Seriada (PAS) ainda na minha gestão, mas não consegui. Porém, logo quando assumi o GDF, conversei com o reitor e conseguimos implantar a avaliação realizada a cada ano do ensino médio;, acrescentou. Ele foi eleito governador em 1994. E o PAS, instituído em 1996.

Do início até os dias atuais, ele acredita que a educação e os universitários não são os mesmos, e uma evolução normal modificou o perfil da universidade. ;A forma de ensinar mudou, e os estudantes também. Isso porque a sociedade brasileira está diferente. O aluno de hoje nasceu na democracia, depois da queda do muro de Berlim e no fim do socialismo. Os de antes tinham utopias, os de hoje estão descrentes com a corrupção;, explicou o ex-reitor.

O professor aposentado e membro titular da Academia Brasileira de Ciências Isaac Roitman começou a lecionar na UnB em 1972 e acompanhou de perto as mudanças sofridas pela instituição. ;Cheguei na época em que uma remontagem era feita. Diversos professores tinham pedido demissão na ditadura e tentávamos recuperar o corpo docente, refundar a educação. A UnB passou por uma crise, mas se reergueu;, constatou.

Amigo de Darcy Ribeiro, Roitman conta que o antropólogo chegou a se irritar com o desvirtuamento de seus ideais logo após o período militar. Ficou desiludido e até se manifestou de maneira agressiva, mas depois viu esperança na reconstrução e pediu, antes de morrer, para deixar todas as suas obras na universidade. Inaugurado no ano passado, o Memorial Darcy Ribeiro, conhecido como Beijódromo, concretizou o pedido.

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