Cidades

Sem assistência, instituições que ajudam viciados podem fechar as portas

postado em 12/12/2011 13:10
Areolenes Curcino Nogueira, diretora da comunidade terapêutica Instituto Crescer, em Vicente Pires
A professora aposentada Areolenes Curcino Nogueira convive com usuários de droga todos os dias. Ela é a diretora da comunidade terapêutica Instituto Crescer, em Vicente Pires, e oferece uma perspectiva de mudança de vida para o dependente químico com terapias em grupo, oficinas e ações voltadas para o resgate da família e a reintegração à sociedade. Porém, todo o dinheiro aplicado no projeto sai do bolso de Areolenes e de voluntários. Assim como o Instituto Crescer, as entidades assistenciais do DF não recebem incentivos, como anunciado no Plano de Enfrentamento ao Crack, lançado pelo governo em 31 de agosto deste ano. Sem apoio financeiro, a casa corre o risco de fechar.

Como uma das estratégias para o combate às drogas, a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejus) previa a criação de 250 vagas em entidades terapêuticas, com aplicação de R$ 800 por usuário. Passados dois meses desde o lançamento do programa, no entanto, nada saiu do papel. Conforme o edital de convocação, as comunidades deveriam apresentar um projeto para ser analisado e aprovado pelo governo, mas até agora nenhum convênio foi firmado. Segundo a Sejus, o processo está em fase final, com assinatura prevista para seis parcerias até o fim do ano. Assim, cerca de 60 vagas serão disponibilizadas até janeiro. A aprovação depende de parecer da Procuradoria-Geral do DF.

No início de 2011, o Instituto Crescer chegou a assistir 22 pessoas, mas a diretoria teve de suspender o atendimento a novos pacientes. Agora, há apenas oito homens na luta contra o vício no local. De lá para cá, Areolenes deixou de viajar e de comprar presentes à família para se dedicar ao trabalho voluntário. Com isso, adquiriu muitas dívidas. A conta de energia está há três meses atrasada. O pagamento da de água também foi negociado várias vezes. Caso o governo não apresente uma solução, ela vai fechar a casa em 30 de dezembro. ;Eu banco tudo, mas não dou conta sem ajuda. O governo lançou um edital, nós apresentamos projeto só que não recebemos nenhuma resposta;, lamentou a professora.

A situação de Areolenes não é exceção. A reportagem do Correio entrou em contato com outras três comunidades terapêuticas. Todas sobrevivem graças ao apoio de voluntários. A Casa de Recuperação das Mulheres de Deus, em Ceilândia, enviou projeto para a criação de 10 vagas, mas também não recebeu resposta. ;Não sei como está a situação, mas até agora não temos nada;, disse a enfermeira do local, Rejane Teixeira.

Poucas opções
Quem procura atendimento também enfrenta dificuldade. Na semana passada, um homem de 35 anos foi ao Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) da Rodoviária do Plano Piloto, inaugurado no mesmo dia do anúncio do Plano de Enfrentamento ao Crack. Mas soube que não havia casas terapêuticas para que ele iniciasse um tratamento. ;Com muito esforço, estou há mais de um dia sem fumar (crack). Pensei que ia conseguir ajuda aqui, mas disseram que não tem vaga. Vou ver se consigo vaga no abrigo (de Águas Claras) para não ficar na rua;, contou.

[SAIBAMAIS]Famílias com melhores condições financeiras costumam procurar clínicas especializadas para tratar um parente viciado. Em uma delas, no Paranoá, 35 pessoas estão internadas. A estrutura conta com consultórios e uma ampla área com frutas para os pacientes, além de suítes com televisão LCD. Há 45 funcionários, entre médicos, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de serviços gerais, cozinheiros e um terapeuta. O custo mensal por paciente varia de R$ 7 mil a R$ 9 mil. Apesar dos valores altos, a clínica tem só duas vagas disponíveis. ;A procura é bem acentuada e hoje o crack se tornou uma epidemia, só perdendo para o álcool;, explicou o diretor administrativo da clínica, Rubens Gasparello Pinheiro.


Capsads no DF
; Guará ; 3381-6957
; Ceilândia ; 3471-9202
; Sobradinho ; 3485-2290 /3485-2286
; Santa Maria ; 8487-8636
; Rodoviária do Plano Piloto ; 3226-4631
; Paranoá ; 3369-9934

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