Roberta Machado, Adriana Bernardes
postado em 15/12/2011 11:00
Moradores e representantes comunitários de outros bairros apoiam a iniciativa do Setor Sudoeste de incentivar pessoas a eliminar o hábito de dar dinheiro a pedintes. Na tentativa de conter o aumento da população de rua, a região nobre intensificou a campanha ;Dê oportunidades, não dê esmolas;. A ideia, que já havia causado polêmica em junho com a distribuição de cartazes, reiniciou o debate sobre o tema nas últimas semanas. Embora a controvérsia tenha vindo à tona apenas nos últimos meses, o presidente do Conselho Comunitário do Sudoeste, Elber Barbosa, ressalta que procura conscientizar os moradores há 11 anos. ;Outrora tínhamos moradores de rua que necessitavam de ajuda, hoje a maior parte é profissional. Eles nos constrangem colocando a cara dentro do nosso carro ou até usam o disfarce de mendigo para traficar drogas;, criticou o representante.
Segundo Elber, a polícia frequentemente flagra vários criminosos que intimidam moradores a dar dinheiro e até mesmo alugam pontos de mendicância para terceiros. ;Os que não são bandidos são encaminhados para albergues e igrejas, que tentam fazer com que o cidadão seja acolhido. Mas nem sempre o espaço é adequado;, explicou o presidente do conselho. Ele ressalta que as prefeituras e o conselho também se unem para realizar trabalhos de doações em instituições carentes e lançaram uma campanha para recolher donativos neste Natal.
A presidente do outro Conselho Comunitário do Setor Sudoeste, fundado em 1996, Christiane Tabosa, também pretende lançar uma iniciativa semelhante este mês. A proposta é conscientizar a população a não dar esmola, e também busca diminuir os sequestros e os assaltos no Sudoeste. ;Temos o apoio das polícias Militar e Civil, e da Administração do Sudoeste. Queremos fortalecer a segurança na cidade, principalmente no Natal, que é o período mais crítico;, afirmou a presidente.
Outros bairros
No Guará, os líderes comunitários também pretendem lançar, na próxima semana, uma campanha para pedir o fim da esmola. A comunidade estuda adotar medidas para reduzir o número de mendigos que já tomam conta de pontos da cidades, como as paradas de ônibus e as proximidades da Igreja São Paulo Apóstolo, na QE 7 do Guará 1. ;Já participei da conscientização dessas pessoas. Tirá-los da rua é um trabalho difícil. O primeiro passo é não dar esmola;, afirma o prefeito comunitário do Guará, Laurindo Gomes Mesquita.
A campanha do conselho do Sudoeste também é aprovada pelo presidente do Conselho de Segurança Comunitária de Brasília, que inclui, além do Plano Piloto, a Vila Planalto, a Vila Telebrasília e a Granja do Torto. Mas a entidade prefere trabalhar com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest). ;Sempre que a situação começa a incomodar, acionamos a Sedest e, em no máximo uma semana, eles fazem a abordagem dos moradores de rua. O problema é que não existe uma política pública para essa parcela da população e eles acabam voltando;, lamenta o presidente do conselho, Saulo Santiago.
A presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Eliete Ribeiro Bastos, acredita que a campanha é válida, mas considera que a iniciativa pode ser mal interpretada. ;Aos olhos da opinião pública, aparece como uma questão da elite que não quer se envolver na questão. E não é por aí, é um problema social;, opinou. ;A dificuldade que temos é que o brasileiro tem um coração generoso. Mas a esmola minimiza o problema, não resolve.;
Hábito de ajudar
Mesmo com o apoio de moradores de outras regiões, alguns habitantes do Sudoeste continuam resistentes à ideia da extinção da esmola. A professora Scheyla Brito, 43 anos, tem o costume de ajudar moradores de rua com dinheiro, e garante que deve manter o hábito. ;Não concordo com isso. Sou cristã e acho que temos de ajudar quem precisa;, ressaltou. Para ela, a campanha não é eficiente na resolução do problema. ;Isso é hipocrisia. Se os mendigos dormissem nas cidades satélites, ninguém ligaria.;
A assistente social Maria Lúcia Lopes, doutora em Política Social, ressalta que esse tipo de campanha já foi feita em vários lugares do Brasil. ;Compreendo que desenvolvam um trabalho para eliminar as fontes de atração da rua, sobretudo os que usam crianças. A esmola expõe o cidadão a uma situação vexatória e não resolve o problema;, explicou a especialista.
Porém, para Maria Lúcia, condenar quem decide colaborar com os moradores de rua não é a melhor solução para eliminar a tradição da esmola. Segundo ela, campanhas como essa deveriam educar a população sobre os motivos que levam pessoas a morar na rua, além de ter o respaldo de políticas sociais que garantissem aos pedintes direitos como educação, saúde e moradia. ;Desenvolvemos diversas formas de solidariedade, por questão religiosa, coação ou diferentes motivações. O cidadão tem o direito de ser como é, de acordo com os seus valores;, ressaltou.