postado em 18/12/2011 08:00
Joana Pereira da Silva, 34 anos, mora com a filha recém-nascida, de 22 dias, em um barraco no Setor de Chácaras Santa Luzia, na Estrutural. Por causa do dinheiro, ela pretendia retomar o trabalho de diarista na próxima semana, antes mesmo de a criança completar um mês. Agora, o retorno ao serviço será adiado por alguns dias. Os planos mudaram quando mãe e filha receberam a visita de um grupo que distribuiu cestas natalinas na região.
Os voluntários chegaram para lembrar que o Natal está próximo e precisa ser comemorado. Não é difícil entender porque a data passaria despercebida por muitos moradores. A área não é asfaltada. Com as chuvas, o acesso é complicado até de carro. As pessoas caminham devagar, evitando os buracos da rua. As casas são improvisadas com placas de madeira, e a lama já invadiu os cômodos. Faltam esgoto e água encanada.
Quase 30 mulheres se uniram no início de julho deste ano e montaram o Grupo Infância, a partir do sonho da servidora pública Aline Albernaz. ;A ideia é pensar a infância. Essa é uma comunidade muito miserável e aqui tem muitas crianças soltas. Não queremos fazer um trabalho puramente assistencialista. Temos a proposta de auxiliar na ;emancipação; das crianças, para que elas cheguem à adolescência com perspectiva de uma vida melhor que a dos pais e vizinhos;, explica a idealizadora do projeto.
As cestas distribuídas foram arrecadadas em dois meses de campanhas entre amigos, familiares, igrejas, empresas e até mesmo redes sociais. Até ontem, mais de seis toneladas de alimentos foram reunidas na sede da Cooperativa Sonho de Liberdade. Cada um dos aproximadamente 500 kits montados inclui arroz, feijão, farofa, panetone, caixa de bombom e uma ave. Outras cestas devem ser montadas até o fim do mês. O objetivo inicial do Grupo Infância é atender famílias com crianças, mas, durante a entrega, a doação se estendeu a outros tipo de moradores, como idosos. ;Além do alimento, queremos trazer um pouco de paz e amor para eles, pois esse é o verdadeiro espírito do Natal;, diz uma das voluntárias, a empresária Ivanilce Ribeiro Queiroz. O grupo optou por não doar brinquedos, para respeitar o propósito de levar uma ideia diferente de Natal e porque outras pessoas já levam presentes para as crianças nesta época do ano.
A dona de casa Priscila Ferreira Lima, 24 anos, está grávida de sete meses do terceiro filho. O marido, Eduardo Delfino, 23, está desempregado. A família sobrevive dos bicos que ele faz. Quando a voluntária Aline chegou à casa deles, anunciada pela filha Kauane, 3, Priscila animou-se: ;Minha cozinha estava vazia. Agora, a gente vai poder fazer um jantarzinho aqui em casa;, comemorou.