postado em 20/12/2011 08:00
Há 55 anos, pela necessidade de montar uma infraestrutura básica para abrigar aqueles que participavam da construção de Brasília, surgiu o Núcleo Bandeirante, uma das localidades mais antigas do DF. As principais avenidas foram abertas pela Novacap, no fim de 1956. Antes mesmo de ser conhecida como Cidade Livre, o primeiro nome do lugar. Não é possível dissociar a história da capital federal da do Núcleo Bandeirante. Por isso, as comemorações do aniversário da cidade se estendem por um mês.
O dia de ontem foi dedicado aos pioneiros. Até mesmo Atahualpa da Silva Prego, aquele que abriu caminhos para a vinda de Juscelino Kubitschek, esteve presente. O homem que se mudou para a região cerca de 20 dias após a primeira visita do ex-presidente veio exclusivamente para o aniversário. Hoje, ele mora no Rio de Janeiro. Era o maior especialista em asfalto da época. Chegou com a missão de construir a pista do aeroporto, para permitir as inúmeras vindas da comitiva presidencial e os responsáveis pela construção da cidade. Um dos primeiros a encher os sapatos de terra, ele conta que chegou a passar fome, por falta de alimentos na região.
Silva Prego participou do Chá da Memória, que reuniu vários pioneiros, por iniciativa do Arquivo Público do DF, em parceria com a administração regional. Para resgate da história local, a ideia é reconhecer as imagens do arquivo. ;Trouxemos várias fotos e reunimos as pessoas para que elas se vejam nas imagens e contem os ;causos; por trás delas. Aproveitamos e homenageamos essas pessoas;, explica o superintendente do Arquivo Público, Gustavo Chauvet.
Histórias não faltam. ;Se eu for contar tudo que eu sei daqui, você pode trazer mais 10 bloquinhos desses;, aconselha João Cândido da Silva, 70 anos. Ele conta que mora no mesmo local desde 1960. ;No mesmo lugar em que cheguei, fiquei.; João Cândido veio, assim como tantos outros, procurar um emprego melhor. Na época, segundo ele, a cada dia a população da cidade aumentava em 20 a 60 pessoas, que desembarcavam dos ônibus vindos de várias regiões do país.
Presentes
Após a solenidade em homenagem aos pioneiros, os presentes cortaram o bolo de aniversário, na Praça do Padre Roque, na 3; Avenida. Papai Noel também chegou e distribuiu presentes aos moradores mais jovens. A cada fim de semana, um evento lembrou a data. Algumas obras também foram inauguradas.
O administrador Elias Dias explica que as comemorações refletem a alegria das pessoas por morarem na cidade. ;É uma honra participar dessa festa. A cidade merece, porque é um lugar onde você sai na rua e conhece os outros pelo nome. Isso é qualidade de vida;, afirma. Ele mesmo nasceu e cresceu no Núcleo Bandeirante, e sempre recorda as histórias do avô, pioneiro.
Por esse ar interiorano e pela possibilidade de encontrar empregos melhores no DF, Márcia Miranda, 25 anos, deixou Tocantins com o marido e fincou raízes na cidade. O casal já tem um filho brasiliense, Victor, 4 anos, e outros parentes, instalados na vizinhança. ;O lugar é calmo, tranquilo, bom pra criar meu filho, bem seguro;, enumera a dona de casa. Victor entrou na fila para ganhar um presente do Papai Noel e tirar uma foto com ele. A família aproveitou bem o dia de festa e, antes de voltar para casa, Márcia comentou: ;Não penso em ir embora não. Gosto muito daqui;.
Saiba mais
Antes, área rural
O local em que foi implantada a cidade, fora do perímetro do Plano Piloto, pertencia às fazendas goianas Bananal, Vicente Pires e Gama. O loteamento estava destinado a ter uso exclusivamente comercial e, por esse motivo, não eram concedidos alvarás para residências. Sua existência estaria limitada ao período da construção de Brasília (1956-1960). Os lotes foram cedidos sem a escritura definitiva e deveriam ser devolvidos à Novacap no fim de 1959. A fim de incentivar a vinda de comerciantes para a região, a localidade também estava livre do pagamento de impostos. Daí a origem do nome Cidade Livre. Com a aproximação da inauguração de Brasília, em abril de 1960, começaram os boatos de desmontagem da Cidade Livre. Teve início, então, um movimento de moradores que reivindicavam a fixação da cidade, contrariamente ao estipulado pela Novacap, o Movimento Pró-Fixação e Urbanização do Núcleo Bandeirante (MPFUNB). A vitória do movimento ocorreu com a fixação da cidade, por meio da Lei n; 4.020, de 20 de junho de 1961, no Congresso Nacional.