Cidades

A redação do Correio ficou mais triste ontem, com a perda de João Bosco

postado em 23/12/2011 07:41

Ele fará falta, muita falta. Para familiares, amigos, colegas de trabalho e leitores do Correio Braziliense. As capas deste jornal perderão um pouco de brilho sem o capricho e a dedicação de João Bosco Adelino de Almeida. Aos 47 anos, ele morreu na madrugada de ontem, vítima de infarto. Passou mal ao chegar em casa, pouco depois de dar os últimos retoques na primeira página da edição do dia, feita em homenagem às vítimas de acidente de trânsito na capital do país.

Paraibano de São Bentinho, município do sertão nordestino a 360km de João Pessoa, Bosco tinha orgulho de sua terra. A simplicidade era uma de suas características mais marcantes. Apesar da responsabilidade que carregava nas costas como editor de arte de um dos mais importantes jornais do país, não deixou de lado a camaradagem com os colegas. Sossegado, parava nas mesas para falar de futebol com os colegas (era flamenguista) e cobrar o dinheiro dos bolões da Mega-Sena, sempre organizados por ele.

A calça jeans era seu uniforme. O terno e a gravata, só vestia para receber os prêmios (e como os vestiu): foram dois Esso na categoria Primeira Página, em 2006 e em novembro deste ano, o último da carreira. Com a equipe, acumulou ainda diversos reconhecimentos da Society for News Design (SND). Desde 2005, o Correio se destacou todos os anos na premiação internacional considerada o Oscar da diagramação e arte em periódicos,graças ao empenho dele.

Bosco iniciou sua trajetória de sucesso no extinto jornal Correio do Brasil. No Correio Braziliense, trabalhou por mais de duas décadas, das quais nove anos na função de editor de arte. Antes, foi diagramador, chefe da diagramação e subeditor de arte. Esteve à frente das duas últimas reformas gráficas do jornal e de outros vitoriosos projetos dos Diários Associados. Chefiava 41 ilustradores, diagramadores e infografistas. Gastava horas ajudando a planejar as capas.

O diretor presidente do Correio Braziliense, Álvaro Teixeira da Costa, registrou seu pesar pela morte de Bosco. ;É uma perda lamentável. Um dos profissionais mais talentosos que conheci, a quem o Correio deve muito pela excelência das suas primeiras páginas;, disse. Para o diretor de redação do Correio, Josemar Gimenez, o jornal terá de se reinventar. ;Perdemos um grande mestre da arte gráfica, um profissional que ajudava muito o Correio a ser vitorioso e a ter reconhecimento internacional;, afirmou.

A editora-chefe do Correio, Ana Dubeux, ressaltou os prêmios conquistados pelo editor de arte. ;Bosco deixou para sempre sua marca no memorial das capas dos jornais brasileiros. Nenhum outro profissional foi mais premiado do que ele. O Correio perdeu o mais habilidoso craque do time. Eu perdi um irmão;, afirmou. O governador Agnelo Queiroz divulgou uma nota de pesar pela morte de João Bosco. ;João Bosco revolucionou diariamente as capas e as páginas do jornal, com profissionalismo e criatividade. Seu trabalho projetou o jornalismo do Correio Braziliense e de Brasília nacionalmente e internacionalmente;, escreveu Agnelo.

Família
Caçula de 24 irmãos, Bosco amava a família. Era casado, pai de três filhos. Dedicava-se com entusiasmo às coisas de casa. Servia de exemplo para a filha mais velha, Kelly Almeida, repórter do caderno de Cidades do jornal. ;Homem de caráter e persistência, ele consegue mostrar que a vida, por mais dura e difícil que seja, é bonita e deve ser vivida com intensidade e honestidade. Te amo, Bosco!”, definiu a filha no Facebook.

A repentina morte de um dos nomes mais reconhecidos do Correio pegou a redação de surpresa e trouxe tristeza às vésperas do Natal. Pela internet, colegas lembraram ao longo do dia o talento profissional e as qualidades pessoais do editor de arte. No jornal, todos custavam a acreditar na notícia. O enterro do corpo de Bosco, no fim da tarde de ontem, reuniu centenas de pessoas no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, em Brasília. Uma chuva fina acompanhou o cortejo e três salvas de palmas prestaram a última homenagem.


Depoimentos

"Bosco era um chefe que sabia dosar rigidez, cobrança e elogio. Sempre parabenizava os funcionários quando gostava do trabalho. Nunca faltou como profissional exemplar. É um cara que com certeza vai fazer falta. Às vezes a gente pensa que outra pessoa vai substituir. Mas, nesse caso, não. Vai ser muito difícil alguém ocupar o lugar dele"
Marcelo Ramos, subeditor de arte, trabalhou com Bosco durante 25 anos, 16 deles no Correio

"Ele acreditava na equipe que liderava, esse era o diferencial. Bosco sabia identificar o potencial de cada funcionário e arrancar dele o melhor. Era um chefe otimista com o resultado produzido pelas pessoas com quem trabalhava. Devo muito a ele"
Anderson Araújo, subeditor de arte do Correio

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação