Quatro pessoas tiveram queimaduras de primeiro e segundo graus durante um incêndio em um prédio de Águas Claras. Uma delas teve grande parte do corpo atingida pelas chamas causadas por uma explosão. A combustão que fez o Residencial Solarium Park balançar no início da tarde começou em um apartamento do quarto andar, alcançou outras três unidades do mesmo pavimento e mobilizou 50 homens das equipes de socorro na Avenida Flamboyant. A via passou três horas isolada. Até a noite de ontem, as vítimas não corriam risco de morte e o quarto piso continuava interditado.
Tudo começou, segundo testemunhas e a Polícia Militar, quando moradores contrataram uma empresa para impermeabilizar o sofá. A principal suspeita é de que o produto químico usado tenha entrado em contato com o gás da cozinha e causado o incêndio. As labaredas atingiram os dois prestadores de serviço e o casal que reside no apartamento do quarto andar. Um dos funcionários sofreu queimaduras em 70% do corpo e foi internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). O outro recebeu atendimento em uma instituição particular, que não deu informações sobre seu estado de saúde até o fechamento desta edição.
O policial civil Fernando*, 38 anos, e a esposa Vânia*, 26, também foram encaminhados ao Hran. Com ferimentos superficiais na cabeça e mais graves nas pernas e braços, a mulher teve alta no fim da tarde. O marido dela, no entanto, continuou internado por conta das queimaduras de primeiro e segundo grau que atingiram 35% do corpo. Ao sair do Hran, Vânia evitou a reportagem. ;Meu esposo perguntou se seriam usados produtos inflamáveis durante a impermeabilização e disseram que não. O próprio funcionário afirmou não saber disso;, limitou-se a dizer.
Casados desde janeiro, Fernando e Vânia terminaram de mobiliar o apartamento há um mês. As chamas, porém, consumiram grande parte do objetos que eles haviam comprado. Com a explosão, as janelas da sala se quebraram. O impacto empenou as portas das três unidades vizinhas e do elevador, que teve de ser interditado em uma das duas torres do prédio de 19 andares. Apartamentos do quinto e do terceiro pavimento também tiveram avarias. ;Ainda bem que ninguém estava em casa. Os azulejos e o teto dos banheiros foram destruídos;, lamentou Samira Couto, 25, moradora do terceiro piso.
Pânico
Os condôminos do Residencial Solarium Park passaram por momentos de pânico. O enfermeiro Carlos Gomes, 40 anos, estava em casa, no 16; andar, quando ouviu a explosão no apartamento de Fernando e Vânia. ;Foi um estrondo e, na mesma hora, o prédio começou a balançar. Parecia que ia cair;, descreveu o morador. Desesperado, Carlos abriu a porta e seguiu pelas escadas de emergência. ;Todas as pessoas desciam gritando, em pânico. Só consegui descobrir o que estava acontecendo na hora em que cheguei do lado de fora e vi a fumaça saindo das janelas;, acrescentou.
A pesar da intensidade da explosão e do incêndio, não há riscos de desabamento no edifício. De acordo com o tenente-coronel Sérgio Bezerra, da Defesa Civil, a estrutura que dá sustentação ao prédio não foi abalada. Mas, segundo ele, o quarto andar foi gravemente afetado. ;Vai ser preciso consertar a parte interna de alguns apartamentos, como as portas, as estruturas de gesso e a canalização.;
*Nomes fictícios a pedido dos entrevistados
Veja o vídeo com as imagens do apartamento depois da explosão:
Prédio segurado
A perícia que será elaborada pela Polícia Civil e pelo Corpo de Bombeiros vai apontar em que circunstâncias começou o incêndio no prédio da Avenida Flamboyant. De acordo com a capitã dos bombeiros Lílian Marques Xavier, ainda não é possível afirmar se a causa foi o produto químico usado na impermeabilização contratada pelos moradores do quarto andar. O laudo deve apontar, entre outras coisas, se havia vazamento no sistema de gás encanado do Residencial Solarium Park.
Cerca de 500 pessoas moram nos 152 apartamentos do edifício, divididos em duas torres de 19 andares. O seguro do prédio, segundo o síndico Geovani Menezes, vai cobrir os prejuízos causados pelo incêndio. Ainda assim, Geovani garantiu que não havia problemas no prédio. ;Quando o sistema do quarto andar for religado, será verificado se há vazamento ou não. Mas isso foi ocasionado pelo produto químico. Estavam fazendo o serviço (de impermeabilização do sofá), enquanto a moradora cozinhava. O vapor entrou em contato com o produto e ocorreu a explosão;, afirmou.
A entrada dos funcionários no edifício não foi registrada e, até o início da noite, os responsáveis pelo condomínio ainda não sabiam qual firma foi contratada pelos moradores. Geovani admitiu a falha e afirmou que vai cobrar explicações da empresa de segurança responsável pela portaria do prédio.