postado em 25/12/2011 09:14
O aluno que chega ao Centro Equestre Cavaleiros de São Jorge, na DF-495, a cerca de 11 quilômetros de Santa Maria, convive com limitações. São crianças, adultos e idosos de diferentes realidades sociais, com necessidades físicas e transtornos psicológicos. Pessoas que tiveram pouco contato com a natureza, com os animais e, principalmente, com o esporte. Lá, eles encontram uma terapia diferente, na qual aprendem a montar cavalos e a valorizar o meio ambiente. Com o tempo, melhoram a autoestima e desenvolvem habilidades locomotoras, esportivas e até musicais.
Thainá Rocha, 12 anos, tem problemas físicos decorrentes da falta de oxigênio no cérebro desde que nasceu. Há quatro anos, a família descobriu a equoterapia. Thiago Rocha acompanha a irmã cadeirante no centro, todas as manhãs de sábado, e define em dois sentimentos as mudanças. ;Alegria e entusiasmo. Ela ficou mais independente, melhorou a coordenação motora e a postura;, conta ele. Além da disposição física, ele diz que o medo e a impaciência com os animais deram lugar ao carinho e à atenção aos bichos.
A organização não-governamental (ONG) Cavaleiros de São Jorge surgiu há quatro anos, isolada do centro urbano, para oferecer aos moradores do DF e do Entorno o serviço de equoterapia a baixo custo. O método beneficia a pessoa com necessidades físicas porque gera estímulos corporais, exige coordenação motora e controle muscular. Atualmente, são 30 pessoas atendidas, a maioria de classe média baixa. Para quem tem condições de pagar pelas aulas, elas custam R$ 150; mas alguns desembolsam R$ 100, R$ 50 e até R$ 30.
Sem remédio
Ana Carolina Sánchez trabalha há 11 anos com a equoterapia e é uma das fundadoras da ONG. Ela e Andréia Augusta são as atuais terapeutas do centro e acompanham todo o processo de interação entre a criança e o animal. Cerca de 60 pessoas já passaram pelos cuidados das duas, que contam apenas com o apoio de uma fisioterapeuta e o caseiro da chácara. Elas citam casos em que as atividades mudaram a vida das crianças. ;O Abel, de 11 anos, tem paralisia cerebral e, quando chegou aqui, não sentava sozinho no sofá e tomava remédio controlado para refluxo. Hoje, ele senta em qualquer superfície sem encosto e não toma mais remédio;, descreve Andréia.
A fala, o sistema cognitivo e a convivência social, que muitas vezes é limitada à família, também são estimulados. Nos casos em que o problema é mais mental do que físico, as crianças são agitadas e até violentas. De acordo com Ana, a equoterapia as tranquiliza . ;Elas deixam de tomar remédio por causa das atividades. A gente pensa que 30 minutos é pouco, mas é o suficiente para ela passar a semana toda tranquila.;
Nas primeiras aulas, o aluno tem um espaço limitado por uma cerca para montar acompanhado. Com o decorrer das sessões, o avanço psicomotor é registrado. Após se adaptar ao ritmo do animal e interagir com ele, a criança tem autonomia para se manter só no cavalo e partir para a trilha. ;A Associação Nacional de Equoterapia recomenda 30 minutos para não esgotar os alunos. Eles adoram a trilha e, no caminho, contam histórias e veem animais do cerrado;, ressalta Ana. A chácara Boa Fé dispõe de uma área de 8.500m; de mata virgem e um córrego de água cristalina, com trilha ecológica aberta a visitações.
Paulo Henrique Oliveira, 9 anos, demonstra paixão semelhante à de Thainá com relação aos cavalos e cachorros mantidos pela ONG. O menino foi indicado para a equoterapia no Hospital Sarah devido à paralisia cerebral. Desde que começou, está mais atento, reconhece os animais na rua, aponta e logo se alegra quando falam o nome da égua em que monta, Magali. Os pais Paulo César Oliveira e Daniele Lairon levam Paulo toda quarta-feira à chácara e se surpreendem com os resultados após apenas quatro meses. ;Ele vê o irmão de sete meses tentando se levantar e imita. Apesar de não conseguir ficar em pé, ele se mantém sentado e faz força para se movimentar;, relata Paulo César.
Andréia e Ana afirmam não recebem financiamento governam ental. ;Ao passo de formiguinha;, como Ana descreve, elas acrescentam novas ideias. Andréia é musicista e inseriu os instrumentos e o canto na equoterapia. Por meio do projeto Vivências Musicais, pessoas conhecem a percussão e trocam conhecimento e experiências sobre a música. Como resultado, eles fizeram uma apresentação, chamada cantata especial, no Espaço Renato Russo, em agosto, setembro e outubro. Para Ana, a inclusão e o envolvimento de pessoas com necessidades especiais em atividades artísticas emocionou a plateia.
Além da equoterapia e do Vivências Musicais, o espaço oferece cuidados aos cavalos vítimas de maus-tratos, cavalgadas, trilhas e aulas de equitação esportiva e terapêutica. A última é destinada a pessoas com depressão, problemas emocionais e dificuldade de aprendizagem. Qualquer um pode participar das atividades, desde que tenha, no mínimo, dois anos e nenhuma contra-indicação médica.