Cidades

Lesões causadas por acidentes em crianças tornam-se lições de vida

Vídeo idealizado pela Rede Sarah reúne histórias narradas em primeira pessoa por crianças vítimas de acidentes de trânsito. Nos relatos, há experiências que servem para educar milhares de futuros motoristas e pedestres em todo o país

postado em 25/12/2011 10:12

Vídeo idealizado pela Rede Sarah reúne histórias narradas em primeira pessoa por crianças vítimas de acidentes de trânsito. Nos relatos, há experiências que servem para educar milhares de futuros motoristas e pedestres em todo o país
Pedro Oshima Portugal estava voltando da escola. Foi atropelado por um caminhão que lhe acertou a mochila. Ele rodopiou, caiu, ficou internado 20 dias, uma semana na unidade de tratamento intensivo (UTI). Quando levantou, já não conseguia caminhar. O motorista não viu o menininho, na época com 10 anos.

Geovanni Buso tem os mesmos sonhos de antes do acidente. ;A diferença é que, agora, eu uso uma cadeirinha, mas os sonhos são os mesmos, e eu estou sempre correndo, você sabe né?; O garotinho parou de andar no dia em que lesionou a medula. Estava no banco de trás de um carro, amarrado por um cinto na região do quadril. Com o impacto da batida, acabou se ferindo. ;O cinto salvou a vida dele, mas provocou outro tipo de machucado. No nosso carro, sempre usamos a cadeirinha. Mas naquele dia a gente estava em outro carro, que não tinha a cadeirinha;, conta a mãe do pequeno.

Sarah Lopes estava entrando na adolescência quando, aos 13 anos, voltando de uma festa, sem o cinto de segurança, também se machucou. ;É bem diferente ver o mundo sentada. A partir desse momento, tive de reaprender. Eu estava começando a vida;, conta três anos depois da tragédia.

São histórias narradas em primeira pessoa, quase sempre por crianças que perderam os movimentos em graves acidentes no asfalto. Generosos depoimentos que falam de dor e superação e que enriquecem um trabalho de educação para o trânsito desenvolvido pela Rede Sarah Kubitschek, referência no tratamento de vítimas de desastres, a maioria deles nas pistas de todo o país.

Os relatos emocionam milhares de pequenos que se colocam na situação dos colegas que já não podem andar, que às vezes falam com dificuldades, perderam um bracinho, uma perninha e agora usam muleta, cadeira de rodas. Como mostrou o Correio em reportagem ontem, as crianças expressam em bilhetes e desenhos o que sentem quando visitam as enfermarias do Sarah, parte do Programa de Educação e Prevenção de Acidentes (Pepa). Só neste ano, 110 mil meninos e meninas de escolas públicas e privadas passaram pelo projeto.

Preparo
No entendimento de profissionais que estudaram muito, as crianças são as mais preparadas para absorver lições de bons modos no trânsito. É no que acredita a diretora-executiva do Sarah, Lucia Willadino, Ph.D. em neurociências. ;Elas captam os ensinamentos e são capazes de multiplicar o que aprendem, mudar o comportamento dos próprios pais, fazê-los entender o valor de atitudes simples que salvam vidas, como o uso do cinto, da cadeirinha, o respeito à velocidade das vias;, diz a médica, que só neste ano falou do projeto em quatro países.

Faz parte da experiência para as crianças que visitam o Sarah assistir a uma palestra montada por profissionais como médicos, antropólogos, jornalistas, que falam para um público infantil em uma linguagem apropriada e, por isso, são ouvidos com atenção. O vídeo, animado com desenhos e gráficos coloridos, traz informações preciosas. ;Você sabia que uma pessoa de 50kg, a uma velocidade de 70km/h, pode numa batida pesar uma tonelada por causa da desaceleração?;

Crianças entre 10 e 12 anos são apresentadas às estatísticas que podem tirar o brilho da infância. Metade dos acidentes (52%) que acontecem com pessoas até 14 anos são desastres no trânsito. Bem mais comum que as quedas (16%), traumas com instrumentos cortantes (26%) ou lesões por arma de fogo (7%). A plateia mirim acrescenta, por exemplo, sequela ao vocabulário. ;São manchas no cérebro, que mudam comportamentos.;

As palestras no Sarah abordam ainda acidentes domésticos, como o do menino que se machucou soltando pipa, ou do garoto que caiu do pé de manga, o outro porque teve uma hemorragia depois de cair no jogo de futebol. Ele era o goleiro. Todos perderam o movimento das pernas. São relatos tristes, mas educativos. Pessoas ainda em formação que passaram por situações de sofrimento e contam seus dramas como parte de uma iniciativa para diminuir histórias sem final feliz. O Sarah cedeu ao Correio, que desde o último domingo publica a série de reportagens Órfãos do asfalto, uma das palestras organizadas por profissionais que atuam na rede. Vale a pena conferir. O link está no site www.correiobraziliense.com.br.

Vídeo idealizado pela Rede Sarah reúne histórias narradas em primeira pessoa por crianças vítimas de acidentes de trânsito. Nos relatos, há experiências que servem para educar milhares de futuros motoristas e pedestres em todo o país

Como funciona

Programa de Educação de Acidentes (Pepa)

Quem
Alunos de escolas públicas e privadas, preferencialmente entre 10 e 12 anos

Onde
No auditório do complexo Sarah, que em Brasília foi projetado por Athos Bulcão. O artista privilegiou o verde e o azul, cores que acalmam.

Quantos
Só este ano foram formadas pelo projeto 110 mil crianças. Participaram das atividades 621 turmas, sendo 406 de escolas públicas e 215 de escolas particulares.

O quê
As crianças aprendem noções básicas sobre o cérebro, medula, reabilitação e cidadania, prevenção de acidentes de trânsito, por mergulho, além de brincadeiras perigosas.

Veja trechos da palestra no Sarah para prevenção a acidentes

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação