postado em 27/12/2011 07:15
A violência no trânsito causou ontem mais duas mortes em rodovias do Distrito Federal. Em pleno processo de implantação de medidas de segurança na DF-002 (mais conhecida como Eixão), iniciado na semana passada pelo Governo do DF, a vendedora ambulante Francisca de Assis da Silva, 59 anos, perdeu a vida após o carro em que estava bater em uma mureta na altura da 213/214 Sul. Ela se soma a outras sete vítimas de acidentes que morreram este ano na pista (leia Memória ao lado). Ao longo de todo o ano passado, foram nove óbitos no local. Na DF-230, perto de Planaltina, o pedreiro Luiz Carlos dos Santos, 35, também perdeu a vida após uma forte colisão.
Como de costume, Francisca e o marido Raimundo Alexandrino da Silva, 64 anos, acordaram ontem, ainda de madrugada, e encheram o carro com alimentos para vender em frente ao Venâncio 2000, no início da Asa Sul. Eles saíram do Riacho Fundo com o porta-malas cheio de pães, garrafas de café e um botijão de gás. Maria Cleunice Gomes Paiva da Silva, 28, nora do casal, seguia no banco traseiro do Gol verde placa KCZ 6222-DF, guiado por Raimundo. Ele perdeu o controle do carro às 6h. O veículo rodou no asfalto e acertou uma mureta de concreto no lado direito da pista. O impacto tirou a vida de Francisca, que estava sentada na frente. Raimundo e Maria Cleunice foram levados ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) com ferimentos por todo o corpo.
A cada tragédia no Eixão, reacendem as discussões a respeito da segurança na DF-002. No último dia 21, o GDF anunciou um pacote de medidas para conter as mortes na via; entre elas, estão a instalação de oito radares na pista, a intensificação do policiamento e a colocação de quatro câmeras para monitorar o trânsito. Os especialistas elogiam a iniciativa (leia reportagem na página 22).
A mudança de conduta dos motoristas, no entanto, é apontada como uma das principais alternativas para reduzir a violência nas pistas. ;Nos casos de hoje (ontem), não dá para afirmar o que houve. Mas a grande maioria não ocorre por omissão do Estado. É culpa do cidadão. Só vamos conseguir reduzir os acidentes quando os condutores mudarem o comportamento;, afirmou o superintendente de Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Murilo de Melo.
O que aconteceu segundos antes da colisão que tirou a vida de Francisca ainda não foi descoberto. Alguns familiares e os agentes de trânsito, no entanto, levantam a suspeita de que Raimundo tenha dormido ao volante. Segundo o cabo Raul de Paula, da Companhia de Polícia Rodoviária (CPRv), não havia marcas de frenagem no asfalto. O militar ressaltou que somente a perícia da Polícia Civil será capaz de apontar as causas exatas do acidente.
Guerra diária
A guerra travada todos os dias no trânsito do Distrito Federal também separou ontem o pedreiro Luiz Carlos dos Santos, 35 anos, de sua família. Os bombeiros e os policiais não sabem ao certo como o Uno verde placa JEB 1877-DF, que era conduzido por Luiz Carlos, foi arremessado por cerca de 100 metros até colidir com uma árvore às margens da DF-230, rodovia distrital que margeia o Arapoanga, em Planaltina. Testemunhas disseram que ele aguardava a vez para sair do bairro e acessar a estrada. Quando entrou na pista, teria sido atingido em cheio por uma Saveiro branca, placa MWM 4356, de Posse (GO), que transportava duas mulheres.
O pedreiro que bateu o carro a poucos metros de casa morreu na hora do acidente, por volta das 6h40. Dentro do veículo, estavam também a mulher da vítima, duas amigas e o filho de uma delas. Iam todos em direção ao Plano Piloto para mais um dia de trabalho. As duas mulheres que estavam na Saveiro vinham ao DF para fazer entregas das hortaliças produzidas em Goiás. As seis vítimas foram levadas ao Hospital Regional de Planaltina, mas estão fora de perigo.
A população cobra do governo medidas para garantir mais segurança naquela pista. Marido de uma das vítimas do acidente no Arapoanga, o pedreiro Daniel de Jesus Diniz acredita que é preciso colocar quebra-molas ou duplicar a DF-230 para evitar outras tragédias, como a que tirou a vida de seu amigo Luiz Carlos. ;Essa pista é muito perigosa, tem vários acidentes e atropelamentos. O Luiz dirigia com cuidado, não corria. Era um homem trabalhador, vivia sempre de casa para o trabalho;, afirmou.
Balanço trágico
Em 2011, mais de uma pessoa morreu por dia nas ruas, avenidas e rodovias que cortam o Distrito Federal. Até o último dia 4, o Departamento de Trânsito (Detran) registrou 395 acidentes fatais na capital. Ao todo, 449 pessoas perderam a vida neste ano vítimas da violência no trânsito. De cada 10 mortes, oito são de homens.
Colaborou Adriana Bernardes