Cidades

Setor de serviços concentra metade dos empregos produzidos no DF

postado em 27/12/2011 07:50
O setor de prestação de serviços é considerado a espinha dorsal da economia de Brasília. As mais importantes estratégias para o desenvolvimento do Distrito Federal passam por esse segmento, que atualmente emprega 51% da população ocupada e responde por 93% do Produto Interno Bruto (PIB) local. Embora dominante, o segmento ainda se encontra estagnado e oferece itens de baixo valor agregado, como gastronomia e cuidados de beleza e saúde, por exemplo. Para 2022, o desafio é transformar o quadrinho em um polo de serviços de alto valor agregado. Tecnologia, biotecnologia, logística e outras especialidades que envolvem alto grau de conhecimento estão entre as opções viáveis para o DF do futuro.

A necessidade de Brasília e suas cercanias investirem pesado em serviços é histórica e tem razões estruturais. Com território pequeno e protegido por restrições de uso relativas a áreas de manancial e reservas ecológicas, o Distrito Federal não tem a opção de praticar agricultura extensiva ou sediar um parque industrial de grande porte.

Com uma população de alto poder e um mercado consumidor crescente ; hoje são 1,6 milhão de consumidores; até 2022 chegarão mais 600 mil, conforme a série ;Brasília 2022; mostrou ontem ;, o setor de serviços tem grande potencial de crescimento. Para o consultor de varejo Alexandre Ayres, da Neocom, migrar das atividades básicas para aquelas mais especializadas é o próximo passo natural para o DF. ;A gente tem capital humano e cliente. Não tem como imaginar qualquer solução para a economia que não seja no setor de serviços, e tem que ser de alto valor agregado;, defende.

Ayres elenca alguns segmentos nos quais a capital federal tem chances de ser bem-sucedida. ;A gente tem condições de criar um polo tecnológico. Também poderíamos nos voltar para a biotecnologia, uma vez que temos os laboratórios da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em nosso território. O turismo de negócios e eventos é uma outra opção. Existem várias vocações em Brasília;, destaca.

Ferrovia sucateada
Na avaliação do consultor, por sua posição geográfica central, o DF poderia tornar-se ponto de partida para a distribuição logística na região Centro-Norte. No entanto, em razão da falta de investimentos, a atribuição foi apropriada por Anápolis (GO), a 139 quilômetros da capital federal. ;Temos uma ferrovia sucateada, que há anos não é plenamente utilizada;, diz Ayres, referindo-se à estrutura que passa pelo Porto Seco do Distrito Federal, em Santa Maria. Entre outras deficiências, a estrada de ferro não conta com maquinários de grande porte para efetuar a descarga de volumes.

Dentre os vetores de desenvolvimento, tecnologia e turismo são os que vêm recebendo mais atenção das políticas públicas e sendo alvo de investimento do setor privado. A opinião é do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF), Adelmir Santana. No primeiro caso, ele destaca a proposta, que finalmente começa a sair do papel, de implantação da Cidade Digital, um polo que irá concentrar indústrias de softwares e serviços de tecnologia da informação (TI).

Quanto ao turismo, Brasília tem investido em seu potencial para atrair eventos. Favorecida por sua localização, traçado urbano e pelo fato de ser sede do poder público e de representações internacionais, tem lançado-se em campanhas para conquistar de congressos médicos a encontros diplomáticos. Além disso, vai sediar jogos da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo de 2014, o que servirá para alavancar o segmento. Para Santana, o sucesso de estratégias do tipo dependerá do envolvimento dos empresários e da vontade política do atual governo e dos próximos. ;O futuro tende a ser esse, mas vai depender de iniciativas governamentais;, opina.

Cliente
O presidente da Associação Brasileira de Tecnologia em Identificação Digital (Abrid), Célio Ribeiro, destaca que o DF tem ;uma vocação natural; para os serviços tecnológicos. ;A capital reúne todas as características de um local para ter esse tipo de mercado. As empresas estão junto do governo, um dos maiores demandantes, e é uma atividade que exige somente inteligência, podendo ser feita em espaços pequenos;, diz. Ele elogia propostas como a da Cidade Digital, mas cobra agilidade. ;Tem levado muito tempo para sair do papel e virar realidade;, critica.

Diretor de marketing da XTI, empresa que cria portais corporativos, Antônio Márcio Arício Carvalho conhece o peso do poder público como usuário dos serviços de assistência tecnológica. ;Já atendemos a grandes clientes privados, mas o principal consumidor ainda é o governo;, diz. De acordo com ele, a empresa deve continuar crescendo a partir das demandas da administração pública. ;O governo ainda precisa melhorar bastante sua interface com a sociedade. Para isso, precisa de ferramentas que facilitem a interação. Hoje, na Inglaterra, já existem aplicativos para telefone para os interessados em baixar dados sobre o poder público. São oportunidades que os mercados do Brasil e do DF podem explorar;, acredita.

O consultor Alexandre Ayres avalia como positiva a interação dos prestadores de serviços tecnológicos com os governos federal e distrital. Entretanto, chama a atenção para a necessidade de o Distrito Federal reduzir a dependência de sua economia dos recursos da administração pública. ;O DF tem desconcentrado gradualmente esse peso, mas precisa trabalhar ainda mais nisso. Enquanto o dinheiro vai jorrando da máquina pública, fica tudo bem e vai-se procrastinando as soluções. Mas, em um cenário de enxugamento de gastos por parte do Estado, a economia de Brasília ficará prejudicada;, declarou ele, defendendo que a atual situação, com 50% da massa salarial nas mãos dos servidores ; que correspondem a 22% da força de trabalho empregada ; não é a ideal.

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