As rachaduras nas paredes da Igreja de São Sebastião, no Setor Tradicional de Planaltina, mostram o que o tempo e o descaso do governo fizeram com a construção do século 19. Basta uma rápida olhada na estrutura para identificar o estrago. O templo, construído por escravos e concluído em 1870, não resistiu à urbanização e sofre com a falta de cuidados. A parede dos fundos cede um pouco a cada dia e começou a tombar. Desde 2007, a Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina luta para preservar o patrimônio da cidade.
Este ano, a associação conseguiu a primeira vitória. Com a rápida evolução dos estragos nas paredes da igreja, representantes da Administração Regional de Planaltina estiveram no templo para verificar os principais problemas e, desde o início deste mês, acompanham as trincas na edificação. As pilastras de madeira também precisaram de um reforço para evitar que a estrutura caia. ;Um dos nossos avanços mais significativos neste ano foi conseguir chamar a atenção do governo para isso aqui, mas eles demoraram muito. Até os escoramentos já são um ganho para nós;, ressaltou a presidente da associação, Simone dos Santos Macedo.
O diretor de obras da Administração Regional de Planaltina, Marcos Paulo Gonçalves, explicou que os técnicos fixaram selos de gesso nas paredes para monitorar os avanços das trincas. Segundo ele, as rachaduras apareceram em decorrência de um problema na parede dos fundos, que está cedendo. ;A parede tem entre 35cm e 40cm, é muito grossa e verificamos que tem um afundamento lento. Vamos fazer uma sondagem no solo para identificar a causa do problema. O laudo deve ficar pronto em 10 dias e os trabalhos devem começar no primeiro semestre do próximo ano;, adiantou. As obras serão realizadas pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
Redes sociais
Simone conhece de perto os principais problemas do Setor Tradicional de Planaltina. Por meio das redes sociais, começou uma campanha para salvar a Igreja de São Sebastião, um dos monumentos históricos da cidade. ;Desde a construção, o templo passou por alguns reparos, mas foi apenas uma reforma maquiada, porque ela não está resistindo ao tempo;, lamentou a presidente da associação. Na avaliação da moradora de Planaltina, a urbanização regional atrapalhou a preservação das edificações.
De todas as antigas construções, somente a igreja de São Sebastião e o Museu Histórico e Artístico de Planaltina são tombados pelo Governo do Distrito Federal. Mesmo com o título de patrimônio, o governo não é capaz de assegurar a preservação da história da cidade. ;O museu passou por uma reforma em 2008 que custou R$ 600 mil, mas hoje já está cheio de rachaduras e, quando chove, molha tudo do lado de dentro. Outro problema é a circulação de veículos pesados pelo centro histórico, o que abala as estruturas antigas;, alertou Simone.
Segundo o diretor de preservação da Secretaria de Cultura, Jonatas Barreto, o objetivo do órgão é recuperar completamente a Igreja de São Sebastião. ;Vamos verificar a estrutura do solo onde ela foi construída e elaborar um projeto para recuperá-la. Num segundo momento, vamos trabalhar para preservar a igreja, que precisa de uma restauração geral;, garantiu.