Cidades

Pacientes reclamam da marcação de exames no Instituto de Cardiologia

Helena Mader
postado em 05/01/2012 07:42
Anderson de Oliveira com o filho, Felipe: preocupação com a possibilidade de interferência no tratamento do menino
O pequeno Felipe Souza de Oliveira enfrenta uma rotina hospitalar há seis anos. A primeira cirurgia cardíaca foi aos oito dias de vida, para corrigir um problema de estreitamento na aorta. A partir de então, ele já voltou à sala de operação três vezes. A criança é acompanhada pelos médicos do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (antigo Incor) desde o diagnóstico de seus problemas cardíacos. Foi o primeiro paciente atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na unidade médica e ganhou até as páginas dos jornais. Agora, porém, o sistema de marcação de exames no Instituto de Cardiologia mudou.

Para fazer um exame, o interessado procurava diretamente o instituto, que tem alto padrão de atendimento. A partir de agora, é preciso entrar em contato com o Sistema de Regulação da Secretaria de Saúde, que direciona o paciente para um local onde há disponibilidade para fazer os exames solicitados pelo médico. Assim, um paciente que antes era acompanhado pela equipe do Instituto de Cardiologia pode ser deslocado para outra unidade.

Foi isso que aconteceu com Felipe. No mês passado, a família do menino recebeu a notícia de que não poderia marcar os exames periódicos no Instituto de Cardiologia. O pequeno paciente tem indicação para uma nova cirurgia, mas os pais tiveram dificuldade para marcar os exames. Só conseguiram vaga no Hospital Regional de Ceilândia. Mas há um complicador. O ecocardiograma realizado na unidade não é filmado, como os exames feitos no Instituto de Cardiologia. E essa é uma exigência dos médicos que acompanham Felipe, para garantir o sucesso do procedimento cirúrgico.

Ressonância
A dona de casa Íris Souza de Araújo, 33 anos, está muito preocupada com o destino do filho. ;Ele faz o tratamento no Instituto de Cardiologia desde que nasceu. Lá, era muito fácil marcar os exames e conseguir as consultas e o atendimento era ótimo. Agora, o Felipe precisa de uma ressonância magnética do coração e a Secretaria de Saúde pede para esperarmos. Mas o caso é grave e até agora não conseguimos marcar esse exame.;

A família de Felipe procurou o Ministério Público do DF para relatar as dificuldades em marcar os exames e estuda ainda entrar com uma ação contra o governo local, para apressar a marcação da ressonância. ;Além disso, o ecocardiograma do Hospital de Ceilândia não tem a mesma qualidade dos que eles fazem no instituto. E isso pode prejudicar o tratamento do meu filho;, acrescenta a mãe do menino.

O pai de Felipe, o vendedor Anderson Ferreira de Oliveira, 33 anos, lembra que o garoto precisa de acompanhamento para ter uma vida normal. Ele vai começar a estudar no Centro de Ensino 41 de Taguatinga este ano, mas a família teme que, sem a cirurgia, Felipe não consiga acompanhar as aulas. ;Ele se cansa facilmente, toma remédio para pressão. Fica pálido toda hora. A única coisa que queremos é que o Felipe continue sendo atendido no Instituto de Cardiologia, para que não haja nenhuma interferência no tratamento;, explica Anderson.

Fila de espera
A médica do Instituto de Cardiologia do DF Cristina Machado Afiune diz que a marcação por meio do sistema central da Secretaria de Saúde, em vez do agendamento direto no próprio hospital, atrapalha os pacientes. ;Com isso, o governo acaba mandando pacientes graves, que se tratam conosco há anos, para hospitais da rede pública. E enviam pacientes com problemas mais simples para fazer exames no Instituto de Cardiologia;, contou a médica. ;O Felipe é meu paciente desde que nasceu. Ele precisa fazer exames seriados para identificarmos o momento ideal para a cirurgia;, acrescenta.

Em nota, a direção do Instituto de Cardiologia informou que o agendamento e a realização dos exames de pacientes são responsabilidade do Sistema de Regulação da Secretaria de Saúde e que cabe ao governo esclarecer eventuais dificuldades de agendamento desses exames.

A Secretaria de Saúde, por sua vez, informou que o contrato com o instituto foi ampliado para atender um maior número de necessidades dos pacientes. ;No entanto, a marcação passou a ser realizada pelo Sistema de Regulação da Secretaria de Saúde, o que permite a democratização do acesso e maior controle sobre os procedimentos realizados, que são custeados com recursos públicos;, diz a nota divulgada pelo governo. De acordo com a Secretaria de Saúde, o sistema sofre fiscalização, inclusive do Ministério Público.

;Um dos critérios adotados é o respeito à sequência na fila de espera, hoje com cerca de 100 pacientes;, informou a assessoria de imprensa da pasta. A sequência na fila, completou, é respeitada, mas também é levada em consideração a gravidade do caso.

Incor: agendamento de pacientes é responsabilidade do GDF

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