Falta de sinalização, pontos de alagamento, pistas confusas e tormento para os pedestres. Os R$ 306 milhões gastos nas obras da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) não foram capazes de conter a série de acidentes graves, nem mesmo de diminuir os engarrafamentos. Entregue incompleta à população pelo então governador Rogério Rosso, em 2010, a rodovia se transformou em uma pista por onde os carros dividem espaço com o perigo, em decorrência de inúmeras falhas de projeto e de execução (leia arte), conforme a avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio.
Os problemas na drenagem pluvial da estrada provocam alagamentos em vários locais e aparecem como causadores de muitas colisões, como a que resultou na morte do médico Vitor Hugo Morato Moura, 30 anos. Na manhã do último domingo, o carro guiado por ele deslizou em uma poça d;água e acabou atingido por outro veículo, próximo a Águas Claras. Com a deficiência do sistema de escoamento da chuva, a terra desmorona dos barrancos sem grama e a lama se espalha pela estrada, outro fator apontado pelos pesquisadores como um perigo para os condutores.
Por conta das enxurradas, surgiram erosões nos taludes de terra às margens da estrada em que, na maior parte do ano, circulam 140 mil veículos por dia.
No viaduto do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), a força da água rachou as valas de concreto às margens da pista. Operários do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) fizeram ontem reparos no local.
Outro problema da via é a ineficiência dos mecanismos de orientação para os motoristas. Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, David Duarte, as placas ao longo da rodovia são pequenas e podem ser facilmente escondidas por ônibus, caminhões e veículos de maior porte. ;A falta de sinalização na EPTG é flagrante, é um crime contra a vida. As placas deveriam ser bem iluminadas e ficar em cima da pista, direcionando os fluxos;, sugere.
Pedestres
Quem depende do transporte público também encontra percalços pela EPTG. As estruturas suspensas para a travessia de pedestres estão longe do ideal, na opinião de Flávio Dias, especialista em transportes e pesquisador associado do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes da Universidade de Brasília (Ceftru-UnB). ;Foram feitas passarelas que não resolvem a questão da mobilidade. As rampas são difíceis de subir para os deficientes físicos e para as pessoas com problemas de locomoção;, avalia.
O barman Acácio Rocha, 21 anos, mora na Colônia Agrícola Samambaia e cruza todos os dias a passarela próxima à saída de Águas Claras. Para chegar até as rampas e as escadas, ele tem de atravessar um barranco de terra, sem qualquer calçada. Além disso, Acácio reclama de insegurança no local. ;A passarela é muito escura e oferece riscos de assalto;, explica. Os problemas se estendem às paradas de ônibus do canteiro central. Antes mesmo de começarem a ser usadas, elas apresentam sinais de deterioração e atos de vandalismo.
As falhas, segundo Flávio Dias, aparecem ainda no projeto da EPTG. O especialista exemplifica os problemas de escoamento e a falta de faixas de aceleração e desaceleração em áreas como o viaduto de Taguatinga e os acessos entre as vias principal e marginal. ;O motorista fica sem visão e tem de quebrar o pescoço para entrar na pista. É um perigo, uma ação malfeita do governo;, avalia o pesquisador.