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GDF identifica 214 pontos mal iluminados no DF propícios a violência urbana

O GDF identifica 214 pontos mal iluminados no Distrito Federal, todos apontados como locais propícios a assalto, estupro, tráfico de drogas e execução. Programa prevê a instalação de postes de luz nos próximos dois anos

postado em 07/01/2012 08:29

Iniciativa: Martha Alexandre (E), vizinha de Antônia, gastou cerca de R$ 100 para comprar e instalar 10 luminárias em rua da Vila Madureira, em Ceilândia
A insegurança na Vila Madureira, condomínio de Ceilândia, fez a feirante Martha Alexandre Queiroz Cunha, 35 anos, adquirir 10 luminárias e fixá-las nas paredes das casas localizadas no começo da rua onde mora, cheia de lotes vazios e de matagal. Para clarear o local, ela gastou cerca de R$ 100 e não se arrependeu do investimento. ;Eu não pago energia, mas, se não fosse pelas lâmpadas que eu coloquei, todo mundo estaria no escuro e a gente se sentiria ainda mais inseguro;, disse.

Locais mal iluminados são apontados pela Secretaria de Segurança Pública do DF como os favoritos de bandidos para a prática de crimes no Distrito Federal. Onde não há claridade são cada vez mais comuns assaltos, estupros, desmanche de carros e funcionamento de laboratórios de drogas. Além disso, esses locais servem como abrigo para bocas de fumo e até execuções. O governo mapeou 214 pontos que ganharão iluminação pública nos próximos dois anos, por meio do projeto Segurança com Energia. A ideia é intimidar a ação da criminalidade e reduzir a violência. A área central de Brasília, Ceilândia e Taguatinga, localidades com grande circulação de pessoas, serão as primeiras beneficiadas.

Em Ceilândia, 11 pontos foram mapeados pelo governo. Na Vila Madureira, a luz não chegou a todos os lugares. Trabalhadores caminham apressados e assustados na volta para casa. Apenas um ponto de iluminação existe na rua da Chácara 9, mas, quando a lâmpada queima, os moradores juntam dinheiro e compram outra. A troca é feita por um técnico conhecido na comunidade.

Antônia Alves Pereira, 47 anos, vizinha de Martha Alexandre, sofreu três assaltos no local. O último roubo ocorreu há quatro meses, por volta das 5h30. ;Levaram R$ 6 da passagem, o meu celular e um cordão;, contou. Nos outros dois ataques, os ladrões fugiram com o dinheiro do ônibus. ;Tem muita gente que vai trabalhar quando ainda está escuro, é um perigo. Lá para dentro da Vila, é pior ainda.; Para Martha, os moradores estão esquecidos. ;A CEB (Companhia Energética de Brasília) diz que, por não ser regularizado, não tem como colocar energia.;

Por determinação da Justiça, o GDF está impedido de instalar postes de luz e hidrômetros em áreas irregulares, como a Vila Madureira. Mas, segundo o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, a expectativa é de que seja feito um acordo com o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) para resolver o impasse. ;Nós mapeamos os locais onde o índice de criminalidade estava elevado, e a colocação dos postes de iluminação nesses pontos é prioridade;, explicou.

Becos
No Conjunto H da QNP 24, em Ceilândia, a passagem em um beco leva medo às pessoas. Apesar da sujeira, do entulho nas laterais e da pouca iluminação, o espaço é usado por dezenas de moradores da região. Vizinhos disseram ao Correio que o local foi palco de um homicídio há cerca de um ano. O estudante e operador de caixa Marcos Welber Guimarães, 17 anos, sempre atravessa o espaço por volta das 20h. ;Depois das 21h, eu nem passo por aqui. Prefiro dar a volta porque é realmente perigoso. Nunca fui assaltado, mas teve uma vez que eu estava falando ao celular e vi pessoas mal-encaradas. Desliguei o telefone e fui embora logo;, contou.

Em Taguatinga, 12 pontos serão iluminados até 2014, com a chegada da Copa do Mundo. Entre eles está o estacionamento do cemitério da cidade e uma área descampada, acesso a um supermercado. O local é utilizado durante a noite por usuários de drogas e para despachos. ;Ninguém pode andar sozinho por aqui porque é assaltado, principalmente se for depois das 22h. A polícia passa na pista asfaltada, mas não dá para ver o que ocorre no estacionamento e no descampado, de tão escuros que são;, disse o ajudante de caminhão Inácio Rocha Filho, 50.

Perigo no Plano Piloto

Iniciativa: Martha Alexandre (E), vizinha de Antônia, gastou cerca de R$ 100 para comprar e instalar 10 luminárias em rua da Vila Madureira, em Ceilândia
Na área central de Brasília, a escuridão também preocupa. Quem circula pelo Parque da Cidade tem medo de alguns acessos. Os que andam a pé entre a W3 Sul e a área de lazer precisam passar por um estacionamento frequentemente utilizado por usuários de crack. ;Eles sempre pedem dinheiro ou cigarro. A gente fica com medo, mas procuro não andar sozinho por aqui;, disse o cabeleireiro Luis Daniel Monteiro, 24 anos. ;Se tivesse iluminação, seria muito melhor, porque as pessoas saberiam quem está vindo na direção delas e mudariam de rumo ou apressariam o passo, se fosse o caso;, avaliou.

Quem depende de ônibus e quer conhecer pontos turísticos de Brasília, como a Torre de TV e a fonte luminosa, não pode esperar escurecer. Há uma calçada para pedestres que vai da Rodoviária do Plano Piloto até os dois locais, mas, pelas laterais, a área de gramado é escura. Ali, aumenta a sensação de insegurança.

A dona de casa Iracelir Freitas, 37 anos, passou a tarde com os filhos e uma sobrinha para conhecer Brasília. Parte do grupo mora em Vicente Pires e ficou nos arredores da Torre de TV até o anoitecer. Ao enxergarem a equipe do jornal parada na calçada, eles desconfiaram e mudaram de direção. ;A gente veio com medo desde quando saímos do Parque da Cidade. Cadê a luz aqui? Simplesmente, não tem e temos que encarar a escuridão. Quando vimos duas pessoas paradas na calçada, nosso coração bateu mais forte de tanto medo;, admitiu Iracelir.

Investimento
A Companhia Energética de Brasília (CEB) ainda faz um levantamento para saber quanto será investido nas cidades com a instalação da iluminação nova. A empresa também não soube informar quantos postes serão colocados. Em alguns locais, os técnicos receberão apoio da Secretaria de Segurança Pública, com carros da Polícia Militar. ;Temos notícia de que, quando a CEB chegava para colocar iluminação, os marginais a impediam porque a luz ia atrapalhar o negócio deles no crime. Vamos impedir isso e o resultado final será, com certeza, a redução da criminalidade;, garantiu o secretário Sandro Avelar.

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