Cidades

Mesmo com desemprego em queda, DF precisa depender menos do funcionalismo

postado em 07/01/2012 08:16
Leonice Silva de Sousa veio do Maranhão há dois meses em busca de emprego: %u201CTopo qualquer coisa%u201D
Brasília não é a capital das oportunidades para todos. Um contingente de 270 mil moradores do Distrito Federal e do Entorno ainda não foi contemplado por essa terra. É gente que espera uma chance há meses, anos ou mesmo décadas. Quanto mais tempo sem emprego, mais distante fica o sonho de conseguir um lugar no mercado. Alguns desistiram de procurar e sobrevivem com a ajuda de familiares, amigos ou graças a programas sociais. Outros dividem as longas horas vagas entre bicos, entrega de currículos e idas e vindas a agências do trabalhador.

O índice de desemprego recua desde 2003 no DF. No ano passado, alcançou o recorde de 11,9%, em novembro. O governo celebrou a menor taxa da série histórica, iniciada em 1992. Mas, mesmo com o resultado, o percentual se manteve acima da média nacional (9,7%) e deixou claro que a situação não é das melhores. Entre as sete regiões do país pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a proporção de desocupados em Brasília fica atrás somente de Recife (12,8%) e Salvador (15,5%), onde o desemprego é encarado como problema crônico.

A realidade do mercado de trabalho local, associada a um setor produtivo pouco diversificado, preocupa especialistas. Se o DF continuar tão dependente do serviço público para oferecer emprego a quem precisa, os brasilienses sentirão nos próximos anos as trágicas consequências desse cenário. Estimativas indicam que, em 10 anos, Brasília e os municípios vizinhos abrigarão 4,4 milhões de habitantes. Sem vaga para todo mundo, o avanço populacional pode coincidir com o aumento dos índices de criminalidade, como em outros centros urbanos.

Cenário pior
A pressão exercida pelos moradores do Entorno, assunto recorrente desde o surgimento da capital, continua sem medidas concretas capazes de amenizá-la. Se as 10 principais cidades goianas vizinhas ao DF fossem levadas em conta, a taxa de desemprego da virtual área metropolitana saltaria para 14,6%, menor apenas que a de Salvador. As projeções (veja arte) foram feitas a pedido do Correio pelo diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) e presidente do Instituto Brasiliense de Estudos da Economia Regional (Ibrase), Júlio Miragaya.

Enquanto os governos federal, do DF e de Goiás praticam um jogo de empurra, estudos reforçam exaustivamente a alternativa para melhorar a dinâmica do mercado de trabalho da região. ;Se fixarmos a mão de obra nos locais de moradia das pessoas, diminuiremos a pressão sobre o DF e aumentaremos o leque de oportunidades para quem reside aqui;, explica o presidente do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon-DF), Jusçanio de Souza. A industrialização do Entorno se apresenta como a solução mais viável e urgente.

Há dois meses, Leonice Silva de Sousa, 31 anos, desembarcou na rodoviária de Águas Lindas, a 70km do centro de Brasília, vinda do interior do Maranhão. Mudou-se em busca de um emprego que ainda não encontrou. ;Topo qualquer coisa;, diz, desesperada. Ela trabalha desde os 12 anos, mas na carteira só constam as experiências como cozinheira de uma carvoaria e zeladora de uma escola. No maior supermercado da cidade goiana, não há mais vagas. ;Se tiver alguma chance, vai ser no Plano (em Brasília);, completa Leonice, que não terminou os estudos e não tem cursos no currículo.

Quem paga as contas da casa da maranhense é o companheiro. Ele chegou ao Planalto Central três meses antes e teve um pouco mais de sorte: conseguiu uma oportunidade para trabalhar de pedreiro e, com a primeira quantia de dinheiro que juntou, pagou a passagem de Leonice. Agora, faz bicos de segunda a sábado para garantir o sustento do casal. ;Essa história de chegar aos lugares e pedir emprego não funciona. Parece que eles têm medo da gente. Falam que vão ligar, mas o telefone nunca toca;, desabafa a mulher, longe dos três filhos, que ficaram no Nordeste sob os cuidados da avó materna.

Leonice exemplifica o lado mais cruel do mercado de trabalho em Brasília e no Entorno. Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) dos últimos 20 anos, divulgados no fim do ano passado, traçam um perfil detalhado dos desocupados na capital federal e evidenciam as desigualdades de acesso. Conquistar uma vaga é uma dura tarefa para negros, mulheres, jovens e moradores da periferia. As maiores taxas de desemprego estão relacionadas a pessoas com essas características. Quando, enfim, ganham uma oportunidade, recebem salários menores.

Área metropolitana
Para os cálculos, foram considerados os seguintes municípios: Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Cidade Ocidental, Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Alexânia, Águas Lindas, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás e Formosa.

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