Cidades

Crateras se formam nas pistas do DF, enchem de água e danificam veículos

postado em 11/01/2012 07:02

Quando o tempo fecha e a água começa a cair, além da atenção redobrada para evitar colisões, os motoristas não podem tirar os olhos do asfalto. Os buracos aparecem e se tornam armadilhas. Cheios de água, muitos ficam escondidos. Especialmente em dias como o de ontem, quando o brasiliense enfrentou quase 20h ininterruptas de chuva. Em todas as cidades do DF, é possível encontrar rachaduras e até algumas crateras nas pistas. Especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que o asfalto do DF tem boa qualidade se comparado ao de outras regiões do país, mas é preciso fazer manutenções com mais frequência e levar em conta o aumento do número de veículos que trafegam pela capital.

Na madrugada de ontem, um buraco na Estrada Parque Guará (EPGU), próximo ao zoológico, deixou vários carros com pneus estourados e rodas amassadas. Embaixo de muita chuva, os motoristas faziam fila na pista para trocar os compostos ou esperar pelo guincho. Por volta das 10h, dois cones sinalizavam o local do perigo. Perto dali, na via de acesso do Setor Policial para o Eixão, um imenso galho de árvore foi colocado para alertar os motoristas quanto a um novo ponto de risco.

O aposentado João Soares, 61 anos, estava de plantão ao lado do carro do filho, o vigilante Henrique Sérgio Santos de Sousa, 34, que teve dois pneus estourados no local, por volta das 7h, quando ia do trabalho para casa. ;Vimos cair quase 10 carros desde que chegamos. É, no mínimo, humilhante. Ele saiu cansado, trabalhou a noite toda, paga os impostos e parece que não tem direito a nada;, desabafou João Soares. Ele conta que mora no P Sul, em Ceilândia, onde também encontra buracos em várias vias.

No período chuvoso, o asfalto antigo, sem manutenção ou de baixa qualidade transparece em forma de rachaduras e buracos. O especialista em engenharia civil Dickran Berberian explica que o asfalto tem quatro camadas: o revestimento asfáltico, na superfície, às três na base. ;Se o material não for bom, a espessura não for adequada ou se a base não estiver bem compactada, os buracos vão aparecer. Considerando um pavimento bem feito, mas que está se deteriorando antes do tempo, a causa deve ser o aumento do fluxo de veículos que passa por ele ou o peso de cada um;, detalha o professor da Universidade de Brasília (UnB). Ele diz ainda que o país tem tecnologia e conhecimento satisfatórios para construir pistas de qualidade, mesmo em comparação a países desenvolvidos. Bastaria, segundo Berberian, ter vontade política e a verba necessária.

Outro fator que contribui para o surgimento das fissuras no asfalto é a falta de um sistema de drenagem eficaz. ;Quando a água atinge a base do pavimento, que deve ser compactada, ela se racha e os problemas aparecem. Nesse caso, o correto é refazer o trecho;, avalia a professora de engenharia civil da Universidade Católica de Brasília (UCB) Renata Conciani. O diretor de urbanisimo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Erinaldo Sales, explica que a empresa está levantando os pontos críticos do DF para quantificar os valores necessários para as reformas e levar ao governo.

Trabalho aos domingos

Durante as chuvas, de acordo com Sales, tapar buracos é a única opção. Ele garante que a quantidade de equipes que a empresa tem disponível é suficiente para atender à demanda da época. ;A gente procura os intervalos sem chuva para reforçar o trabalho. Quando não dá para começar pela manhã, vira o caos, mas aí começamos a operar às 16h e vamos até a noite, como hoje (ontem). Também vamos trabalhar extraordinariamente aos domingos;, salienta.

A Novacap informou que comprou 35 máquinas para reforçar as operações tapa-buracos e de recapeamento. Elas estão atuando desde o mês passado. Enquanto o maquinário antigo é capaz de tapar 200 deles diariamente, o novo, orçado em R$ 3,5 milhões, consegue fazer até 600. Em 2011, a Novacap utilizou 180 mil toneladas de massa asfáltica para os serviços de reparo nas pistas, dispondo de R$ 50 milhões. Cada caminhão caçamba pequeno, usado em operações usuais, leva em média cinco toneladas.

Os moradores do Recanto das Emas esperam que a cidade esteja na fila para receber a operação. A situação da pista de mão dupla na entrada da cidade é lamentável. Os motoristas têm de subir na calçada para desviar de uma cratera ou invadir a mão oposta. As pessoas que aguardam um ônibus na parada sobem no assento para não se molharem com a água que espirra dos buracos. ;É um problema para os pedestres também. Eu mesma tenho um filho cadeirante e fica impossível andar com ele quando a rua está assim;, reclama Maria Lima de Jesus, 47 anos. Ela morava em Ceilândia. Mudou-se para o Recanto das Emas há quatro meses e os problemas permaneceram os mesmos. Nas duas cidades, ela tem dificuldades em pistas esburacadas ou irregulares.

Volume acima da média

Em 10 dias, o Distrito Federal registrou 53% do volume de chuva previsto para o mês de janeiro, o que corresponde a 131 milímetros. A média de chuva para este mês é de 247mm. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de que continue chovendo bastante até amanhã. De acordo com a meteorologista do Inmet Maria das Dores de Azevedo, a média de janeiro deste ano ainda pode se normalizar. ;Se parar de chover agora, ficamos abaixo do esperado, mas a umidade do ar está elevadíssima;, afirma. A umidade mais baixa de ontem ficou em 86%. Maria das Dores diz que, na sexta-feira, o brasiliense deve ter uma trégua. Por enquanto, o volume de água foi tão alto que a Companhia Energética de Brasília (CEB) abriu três comportas da barragem do Lago Paranoá na manhã de ontem. Segundo a CEB, as comportas só serão fechadas quando o nível voltar a baixar. O lago estava 1,78m acima do nível do mar. O máximo que ele suporta é 1,8m.

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