Cidades

Chuva intensa deixa quase 1,8 mil moradores de áreas de risco em alerta

Antonio Temóteo
postado em 12/01/2012 07:22
Maria Joana, com a filha, Isabela, vê a erosão se aproximar da casa no Condomínio Sol Nascente:
As chuvas intermitentes desde meados de dezembro último deixaram em estado de alerta moradores de diversas áreas de risco, como Vila Cauhy, no Núcleo Bandeirante, Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia, Colônia Agrícola Águas Claras, em Vicente Pires, e Vila Rabelo, em Sobradinho 2. As comunidades dessas regiões temem desabamentos de casas, devido ao avanço das erosões, dos alagamento e das inundações pelas cheias dos córregos. O lixo acumulado é outra preocupação das pessoas, receosas diante da possibilidade de proliferação de doenças, como a dengue, e de aparecimento de roedores, vetores de outras moléstias.

No Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia, a situação é desesperadora. Devido à inexistência de galerias pluviais, água da chuva escorre pelo asfalto ou pelo que sobrou dele arrastando muito lixo, e grandes fendas começam a se formar nas ruas. Na Chácara 5, no Trecho 3 do bairro, duas crateras ficam cada vez mais próximas das casas a cada temporal. Os moradores contam que a força da correnteza desgasta os barrancos e aumenta o tamanho da erosão.

A dona de casa Maria Joana Fernandes da Silva, 36 anos, dorme cada vez menos com medo de perder a casa para o enorme buraco. Moradora do Condomínio Sol Nascente há quatro anos, ela contou que a erosão surgiu em outubro de 2010. Segundo Maria, o que parecia antes um poço, se transformou em uma monstruosidade e levou pelo menos três postes de energia elétrica. A comunidade tentou amenizar o desgaste da terra com a construção de barreiras para a água da chuva e, o que parecia uma solução, provocou a abertura de outro buraco.

Audenira, com o filho Breno: medo às margens do Córrego Vicente Pires
;Tenho muito medo e já perdi várias noites de sono. Meu receio é que aminha casa seja engolida por essa cratera. Estou desamparada. Espero que Deus tenha piedade da gente que mora aqui porque estamos abandonados. A Defesa Civil veio e disse para ficarmos em alerta. Disseram que poderiam nos remover daqui, mas até agora nada;, completou.

Desespero
O medo de perder o pouco que tem é compartilhado pela empregada doméstica Audenira Souza, 40 anos. Ela mora há oito anos com seis familiares, entre eles o filho Breno, 8, em uma invasão na Colônia Agrícola Águas Claras, às margens do Córrego Vicente Pires. Segundo ela, em janeiro a preocupação aumenta, porque as chuvas são mais fortes e os riscos de alagamento são grandes. Ela contou que em anos anteriores, com a cheia do córrego, a água chegou a um metro do portão da casa.

;A Defesa Civil veio aqui e disse que moro em uma área de risco. Fizeram um cadastro, mas não apareceram mais. Meu sonho é sair daqui para viver em um lugar melhor. Aqui, a gente não tem água nem luz. Mantenho a casa com R$ 545. Além de tudo, existe muito lixo acumulado, e o cheiro é horrível. As pessoas deixam latas, pneus e garrafas espalhados, o que aumenta o risco de dengue.;

Na Vila Cauhy, no Núcleo Bandeirante, os riscos de alagamento com a elevação do córrego Riacho Fundo também são motivo de preocupação para dona de casa Maria José Leme Cardoso, 58 anos, e o filho Paulo Rogério Gomes, 37. Moradores do local há 25 anos, eles contam que já viram alagamentos na área. A casa deles fica há cerca de oito metros de distância do córrego. ;Ninguém olha por nós. Os riscos aqui são grandes em tempos de chuva. A gente sonha sair dessa situação, ir para uma área urbanizada e em morar em uma casa melhor. Mas é complicado. Além do mais, temos que conviver com o lixo que depositam aqui. Acaba virando foco de mosquito da dengue e casa de rato;, completou Paulo.

Esvaziamento
Até setembro do ano passado, a Secretaria de Defesa Civil do Distrito Federal mapeou 25 áreas de risco, em 10 regiões administrativas. A estimativa é de que 1.740 pessoas moram nessas localidades. Segundo o subsecretário de Operações da Defesa Civil do DF, coronel Sérgio Bezerra, o número de áreas aumentou, mas não é possível dimensionar esse crescimento. Hoje, toda a equipe ; no total, 10 servidores ; está envolvida nas ações preventivas e de resposta a desastres. Segundo ele, a coleta desses dados ocorrerá depois de passada a temporada de chuva.

Na avaliação do subsecretário, são necessários, pelo menos, mais 10 servidores para o trabalho de prevenção e mapeamento de áreas de risco no DF. Atualmente, apenas dois engenheiros fazem parte dos quadros da subsecretaria. ;Desde outubro do ano passado, temos visitado e orientado as pessoas a observarem a evolução de erosões próximos às casas, a medirem as rachaduras nas residências e a fazerem a marcação de tal forma que possam acompanhar o tamanho das ameaças. Elas devem ficar em alerta nesse período;, completou.

Ontem, o tempo amanheceu nublado e a água caiu no início da tarde no centro da capital federal. Na terça-feira, foram 20 horas ininterruptas de chuva. Desde o início do ano, apenas não choveu nos dias 5 e 6. Segundo o meteorologista Luiz Cavalcanti, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Sol pode aparecer por algumas horas na sexta-feira, mas o fim de semana será chuvoso. ;Nessa época, a massa quente e úmida da Região Amazônica vem para o Centro-Oeste, provocando muita chuva. Associada a frentes frias vindas da Região Sul, os dois fenômenos causam a continuidade da chuva;, explicou.

Colaborou Roberta Abreu

Fim de semana com chuva
Até ontem, o Inmet havia registrado a precipitação de 155 milímetros, equivalente a 62,65% de toda a chuva prevista para janeiro, de 247,4 milímetros. Cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado. O período chuvoso segue até o início de maio. A previsão para hoje é de tempo nublado e chuva. A temperatura mínima deve ficar em 17;C e a máxima em 26;C. A umidade relativa do ar poderá variar entre 95% e 55%. Na sexta-feira e no sábado a previsão é de mais chuva.

Dicas
Veja algumas medidas que podem ajudar a evitar acidentes e inundações durante as chuvas:

; Não plante bananeiras (árvore pesada e de raiz superficial) em encostas, dando preferência às plantas mais leves e de raízes profundas, como o bambu;

; Não jogue lixo em encostas, córregos e bocas de lobo;

; Construa calhas nos telhados, conservanda-os limpas, e canaletas no chão para direcionar a água;

; Mantenha limpos ralos, esgotos, galerias, valas etc;

; Aterre buracos que acumulam água;

; Reforce muros e paredes poucos confiáveis;

; Providencie a poda ou o corte de árvores com risco de queda;

; Incentive a criação de grupos de cooperação entre os moradores em locais de risco.

Fonte: Secretaria da Defesa Civil,

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