postado em 13/01/2012 07:19
Por mais de cinco horas, o Km 30 da BR-060 ficou interditado nos dois sentidos. Cerca de 200 manifestantes atearam fogo a pneus e a pedaços de madeira e impediram que motoristas ultrapassassem o isolamento. Das 5h às 10h40, pelo menos seis quilômetros de engarrafamento se formaram em cada lado da rodovia. O movimento foi uma forma de protesto contra a morte de Jhone Vinícios Hilal de Almeida, 6 anos, afogado no último domingo em um buraco de dois metros de profundidade, formado em consequência de uma obra inacabada às margens da rodovia, na região do Engenho das Lajes, no Gama.
O protesto só terminou depois que representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) garantiram aos moradores a retomada das obras na próxima semana. Enquanto isso, caminhões-pipa devem fazer a drenagem da água, acumulada bem perto de diversas casas. Algumas famílias deixaram o local por conta do risco (leia Memória).
Com cartazes em lembrança a Jhone, os manifestantes começaram a chegar à rodovia por volta das 5h15. No asfalto da
BR-060, tinta branca estampava os dizeres ;Justiça para Jhone;. Para o pai da criança, o afogamento foi uma tragédia anunciada. A obra do viaduto na pista que liga Brasília a Goiânia começou em 2009, mas acabou interrompida. Desde então, na época de chuvas, o local sofre com os alagamentos. ;Fizemos outros protestos antes e alertamos para o problema, mas nada foi feito. Perdi o meu único filho pela falta de providência do Estado;, desabafou o pintor Jonathan da Silva de Almeida, 26 anos.
Os manifestantes só autorizavam veículos especiais a passarem pela barreira de isolamento. ;Fizemos três protestos antes da morte dele. Enquanto o governo não tomar uma atitude, vamos permanecer dessa forma;, afirmou o corretor de imóveis Gilberto Barbosa, 53 anos. Policiais militares do DF e de Goiás, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e militares do Corpo de Bombeiros permaneceram no Km 30 para garantir a segurança das pessoas.
O engenheiro Luiz Carlos Magalhães Guerra, do Dnit, afirmou que a construção será retomada na segunda-feira. ;O material utilizado foi pedido, mas ainda não chegou. Vamos fazer a drenagem da água hoje (ontem) e amanhã (hoje) e deixar um funcionário monitorando a área;, informou. O prazo para o término da obra é de 90 dias, contando a partir da assinatura do contrato com a empreiteira responsável pelo trabalho. Com isso, o Dnit tem até 8 de março para a conclusão do empreendimento.
Outra queixa dos moradores é a invasão da água das chuvas em diversas residências, localizadas próximas à margem da rodovia. ;Muitas famílias perderam tudo. Saíram de casa só com a roupa do corpo e estão morando de favor na casa de vizinhos;, disse o comerciante Jader Fabiano Fernandes, 26 anos. Em relação a esse problema, Guerra pediu que os prejudicados procurem a área jurídica do Dnit para expor os problemas.
Engarrafamento
Sem caminhos alternativos, os motoristas tiveram de esperar o fim da manifestação para seguir viagem. De acordo com informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o engarrafamento para quem seguia em direção a Goiânia atingiu seis quilômetros. Na via oposta, o acúmulo de veículos era visto ao longo de 10 quilômetros. Os caminhões eram maioria. Alguns carros ainda tentaram passar por um gramado ao lado do protesto, mas acabaram impedidos.
O empresário Luciclei Rosa Silva, 38 anos, foi um dos primeiros a serem impedidos de seguir na rodovia, por volta das 5h15. ;Eu estava passando e falaram que se eu continuasse iam apedrejar. Me explicaram que era um protesto por causa de uma criança que tinha morrido. Foram bem educados, mas acabei me prejudicando;, disse. O morador de Goiânia embarcaria para Manaus às 6h30 no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. ;Eu chegaria ao destino umas 9h30 para uma reunião com outros empresários. Agora, vou tentar remarcar a passagem para chegar lá ainda hoje.;
Afogamento
Na manhã do último domingo, o menino saiu de casa para andar de bicicleta. Às 14h, um morador do Engenho das Lajes viu os chinelos da criança boiando no canteiro da rodovia. O homem mergulhou na vala de dois metros de profundidade e resgatou o corpo de Jhone, sem vida.
Tragédia anunciada
Menos de dois meses antes de o menino Jhone Vinícios Hilal, 6 anos, morrer afogado em uma vala com dois metros de profundidade, o Correio publicou reportagens relatando o drama das famílias que moram às margens da BR-060 e sofrem com as inundações formadas em consequência de uma obra inacabada, na região do Engenho das Lajes, no Gama. Em 28 de novembro do ano passado, os moradores realizaram um protesto e fecharam a rodovia. Os manifestantes atearam fogo a pneus e a pedaços de madeira e pediram o término da construção do viaduto, além da abertura das manilhas de escoamento de água. Sem a conclusão da obra, iniciada em 2009, as ruas ficam alagadas e a água invade as casas de pelo menos 25 famílias. Um mês depois do protesto, em 28 de dezembro, o jornal contou novamente o problema. Na época, pelo menos cinco famílias precisaram deixar as casas construídas às margens da BR-060, por comprometimento na estrutura das residências. Na época das publicações, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que as obras do viaduto e a duplicação da BR-060 faziam parte de um convênio com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), que não foi cumprido.