postado em 14/01/2012 08:00
A previsão de crescimento nas vendas do comércio do Distrito Federal despencou e pôs à prova a blindagem da economia local contra crises externas. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Fecomércio indica uma expansão média de 7,26% no faturamento deste ano, mais de três vezes inferior à estimativa de 2011, quando os comerciantes previram, em janeiro, alta de 23,98%. Na avaliação dos representantes do setor, o resultado tende a ser ainda pior, uma vez que a maioria dos empresários consultados ; 56,25% ; nem sequer espera faturar mais do que no ano passado.
Os números da principal entidade representativa do comércio no DF desmontam um discurso sustentado pelo empresariado local nos últimos anos. Mesmo usufruindo de um público consumidor cuja renda per capita é, em sua maioria, estável e continua sendo a maior do país, o varejo da capital federal não estaria tão imune a crises externas como se acreditava. A turbulência internacional, sobretudo na Zona do Euro, e os temores de um ano com arrocho fiscal no cenário interno afetaram as expectativas dos lojistas e podem romper a bolha que protegia a conjuntura local.
A Fecomércio alerta para a grande diferença no total de entrevistados nos dois anos comparados, o que pode ajudar a explicar a discrepância entre as duas estimativas divulgadas. Em 2011, os pesquisadores ouviram 103 empresários e, este ano, 400, quase quatro vezes mais. O próprio presidente, Adelmir Santana, no entanto, não deixa de ser cauteloso ao comentar as perspectivas para 2012. Para ele, o índice médio de 7,26% surpreende e é ;bastante otimista;. ;De certa forma, esse número foge às previsões macroeconômicas do país;, avalia.
O peso do funcionalismo na economia do DF ; responsável por metade da massa salarial ; deve ser levado em conta e, este ano, não deixará de ser encarado como importante diferencial na comparação com outras cidades. No entanto, Santana adota, diante da última pesquisa, um discurso inédito. ;Ninguém pode fugir disso (da crise). O comerciante fica arredio e os consumidores limitam suas aquisições. Não podemos achar que a cidade vai ficar blindada contra toda crise para sempre;, afirma o presidente do Sistema Fecomércio.
Após recorrerem ao crédito com muita intensidade, muitos brasilienses, de todas as faixas de renda, acabaram endividados e decidiram adiar as compras por tempo indeterminado. A dinâmica do varejo dependerá em 2012, mais do que em anos anteriores. A oferta de crédito e as taxas de juros serão determinantes para traçar o desempenho do setor. Não se fala, por ora, em demissões, mas novas contratações não são previstas. E o nível de estoque não deve ter um aumento tão significante.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF), Antônio Augusto de Moraes, o percentual estimado pelos comerciantes é muito otimista. Se as vendas melhorarem 5% em relação a 2011, na avaliação dele, já será um ótimo resultado. ;Todo mundo anda muito cauteloso. Ninguém sabe o que vai acontecer;, diz. Não há, acrescenta Moraes, indicativos concretos de que o faturamento será alavancado. As vendas de dezembro, apesar de terem sido positivas, não atenderam a todos os segmentos.
As projeções nebulosas para 2012 são suficientes para influenciar no poder de compra do brasiliense, aposta Moraes. Para ele, o consumidor fica intimidado e deixa de encher as sacolas. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da chamada linha branca, que impulsionou as vendas no fim do ano passado, termina em março. O aumento do salário mínimo ; de R$ 545 para R$ 622 ;, em vigor desde 1; de janeiro, será usado para quitar dívidas, na avaliação do presidente do Sindivarejista-DF. ;A situação é crítica e não há perspectiva de mudança a curto prazo;, completa.
Dona de uma loja de roupas no Sudoeste, Rozinete Fernandes tem esperança de que o faturamento seja melhor em 2012. No ano passado, os reflexos da crise internacional e as variações do câmbio prejudicaram as vendas, segundo ela. ;O resultado não diminuiu, mas também não cresceu;, conta. Muitos consumidores, observou ela, se mostraram receosos na hora de gastar. ;O governo cortou gastos e os juros subiram. Brasília é movida a concurso público e, em 2011, praticamente não houve novas seleções;, acrescenta a comerciante. Não bastasse tudo isso, ela comenta que parte da clientela viajou para o exterior para comprar.
Colaborou Mariana Branco
Setor público
Como o Correio mostrou ontem na manchete do dia, o governo não vai negociar reajuste com servidores este ano. Aumentos, garante o secretário de Recursos Humanos do Planejamento, Duvanier Paiva, somente em 2013. O freio no valor do contracheque do funcionalismo apresenta relação direta com a economia local, já que mais de 50% da massa salarial do DF pertence aos servidores.