Jornal Correio Braziliense

Cidades

Brasilienses enfrentam os riscos que obras inacabadas oferecem

Canteiros de obras abandonados são um transtorno para os moradores de várias cidades do Distrito Federal. Além da expectativa pela inauguração dos serviços, a comunidade ainda tem de conviver com os riscos que essas construções paradas representam. Rodovias inacabadas, asfalto instalado pela metade, ginásios sem cobertura e viadutos sem estrutura de segurança são alguns dos problemas. Os serviços incompletos podem ainda causar acidentes fatais, como o que aconteceu com o menino de 6 anos que, em 7 de janeiro, morreu afogado em um buraco ao lado de um viaduto inacabado, na BR-060.


As justificativas do governo para explicar as obras paralisadas são variadas. Alguns contratos estão suspensos por determinação do Tribunal de Contas do DF e outros interrompidos por problemas ambientais ou questões burocráticas de contrato. Na região do Mestre d;Armas, em Planaltina, a construção do sistema de drenagem está parada porque invasores ocuparam terrenos ao longo do canteiro de obra e, diante da impossibilidade de remover os moradores irregulares, todo o projeto terá que ser refeito.


Na mesma rodovia federal em que Jhone Vinícios Hilal de Almeida morreu afogado, ao lago do Engenho das Lajes, outro ponto da obra abandonada confunde os motoristas e coloca em risco a vida de quem passa pelo local. No viaduto da BR-060, ao lado de Samambaia, no entroncamento com a DF-180, a parte de baixo da estrutura viária não foi concluída. As pistas estão sem asfalto, não há nenhuma sinalização, nem iluminação. O sentido da mão e da contramão é definido aleatoriamente pelos condutores. Com isso, as chances de colisão são muito altas.


Em dias de chuva, quem desce do viaduto precisa tomar cuidado. A pista enlameada é terreno fácil para derrapagens. O funcionário público Edilson Passos de Araújo, 50 anos, conhece os riscos de passar pelo local.;À noite, fico com muito medo de acontecer um acidente;, reclama.


As obras na BR-060 começaram há dois anos, mas foram interrompidas por conta de divergências entre o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que romperam um convênio. Segundo o Dnit, será feita nova licitação e a obra será retomada e concluída ainda este ano. Com isso, os viadutos de Samambaia e do Engenho das Lages ficarão prontos.


Além de obras viárias, há dois canteiros de vilas olímpicas abandonados. No Setor O de Ceilândia, a construção começou há quase quatro anos, com valor estimado em R$ 7,6 milhões e previsão de término para fevereiro de 2009. Morador da QNO 9 de Ceilândia, o vigilante Israel Nunes, 26 anos, reclama da demora. ;Enquanto isso, a gente vê um monte de adolescentes envolvidos com drogas e com tráfico. Eles poderiam estar praticando esportes, caso a Vila Olímpica estivesse pronta;, reclama.

Regularização

O secretário de Obras do GDF, Oto Silvério, explica que o governo está empenhado em concluir as duas vilas. ;No caso do Setor O, o recurso havia acabado e ainda não conseguimos regularizar a situação. Na Vila Olímpica de Planaltina, estamos tentando resolver questões burocráticas no contrato;, explica.


Apesar das reclamações da população, o secretário de Obras conta que a maioria das construções que estavam abandonadas há um ano já foi reiniciada. ;Das 154 que estavam paradas, já retomamos 146. Então, há apenas oito obras sob responsabilidade da secretaria que permanecem interrompidas;, afirma Oto. Entre os serviços que foram reiniciados, ele cita como exemplos mais importantes a cobertura de mais de 140 quadras poliesportivas, a conclusão da Torre Digital e a via de ligação entre a L4 e a L2 Sul. ;O fato de as obras terem começado em outro governo jamais poderia ser uma justificativa para não concluirmos.;
Entre os serviços administrados pelo DER, dois ainda estão parados por determinação do Tribunal de Contas do DF. A duplicação da DF-047, a Estrada Parque Aeroporto, e o projeto da obra do corredor Eixo-Norte, que vai ligar Planaltina e Sobradinho ao Plano Piloto. Não há previsão para a retomada dos trabalhos.


Especialistas alertam para o risco que a demora das obras representa. Estruturas expostas e sem proteção acabam estragando. O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil, Júlio Peres, lembra que a paralisação por longos períodos encarece muito o serviço. ;É preciso levar em conta o custo da deterioração dos materiais e também a questão da mobilização. Quando você monta canteiro, transporta equipamentos, contrata pessoal. Se, depois de tudo isso, a obra para, há um custo para fazer a retomada, já que será preciso refazer essa estrutura administrativa;, comenta.

154

Total de obras que estavam paradas há um ano. Dessas,
146 já foram retomadas

Insegurança

Algumas das obras paradas no DF:
; Vila Olímpica do Setor O de Ceilândia
; Vila Olímpica de Planaltina
; Obras de infraestrutura em Arapoanga
; Execução da drenagem e da pavimentação em Mestre d;Armas
; Duplicação da DF-047 (Estrada Parque Aeroporto)
; Obras de pavimentação em Planaltina
; Obras do corredor Eixo-Norte
; Construção do VLT entre o aeroporto e a Asa Sul