Cidades

Camelôs voltam a invadir Setor Comercial após ganharem shoppings populares

Levados para shoppings populares de Ceilândia e da Rodoferroviária, os ambulantes voltaram a ocupar os espaços entre os prédios destinados a pedestres do Setor Comercial Sul.

Antonio Temóteo
postado em 17/01/2012 08:00

Para o comércio, os informais atrapalham os negócios por ofertarem produtos mais baratos e de baixa qualidade
Os vendedores ambulantes voltaram ao Setor Comercial Sul (SCS). Em seis quadras da região é possível encontrar camelôs espalhados pelos corredores entre os prédios. A presença dos comerciantes informais incomoda quem circula ou trabalha no local. Para atravessar as marquises dos edifícios era preciso fazer um ziguezague entre as barracas montadas e os produtos que ocupavam o piso e as calçadas. Apesar da invasão, a Secretaria de Ordem Pública e Social (Seops) garantiu que, pelo menos três vezes por semana, toda a área central de Brasília é fiscalizada.

Quem caminhava pelas quadras do setor encontrava uma variedade de produtos. Sapatos, bolsas, CDs e DVDs piratas, relógios, fones de ouvido, carregadores de celulares, frutas e sombrinhas. Tudo estava exposto em pequenas bancas ou no chão. Até uma arara de roupas com vários modelos de camisetas era usada por um dos ambulantes. Apesar da presença ostensiva, os camelôs trabalhavam tranquilos na manhã de ontem, sem fiscais para coibir a ilegalidade.

O vendedor de uma loja de calçados, que preferiu não se identificar com medo de represálias dos ambulantes, disse que a presença dos informais atrapalha as vendas do comércio do SCS. Segundo ele, alguns clientes compram produtos mais baratos, mas de baixa qualidade. Além disso, ele reclamou da falta de fiscalização. ;Eles voltaram de vez. Tiram o nosso sossego e roubam as vendas de quem trabalha regularmente. As autoridades precisam tomar uma providência porque isso é uma vergonha;, reclamou.

A Administração Regional de Brasília admitiu o problema. De acordo com a assessoria de imprensa, o órgão não tem poder de fiscalização. En reuniãorealizada recentemente entre representantes das polícias Militar e Civil, da Agência de Fiscalização do DF (Agefis) e do Seops ficou acertado que cabe à Administração Regional apenas comunicar a presença dos camelôs em locais proibidos. A remoção dos ambulantes é de responsabilidade da Seops e da Agefis.

De acordo com a Seops, desde novembro último, 21 mil produtos foram apreendidos na área central de Brasília durante a Operação Presença. Os trabalhos consistiram na ocupação de áreas de grande movimentação de pessoas, antes da chegada dos ambulantes. As equipes de fiscalização permaneceram nos locais por pelo menos 12 horas. Segundo o órgão, os grupos são coordenados pela secretaria e contam equipes formadas por fiscais da Agefis e policiais militares. Para explicar o retorno dos ambulantes ao SCS, técnicos da pasta avaliam que a grande circulação de pessoas pelo Setor Comercial Sul atrai os vendedores ambulantes.

A fim de acabar com o problema, a secretaria prometeu continuar com operações integradas que envolvem outros órgãos para inibir o comércio ilegal, por meio de ações repressivas e preventivas. Também serão retomadas as atividades Operação Garrote, que investigou a chegada da mercadoria ilegal no DF. Em dezembro último, depois de cinco meses de investigações, foram apreendidos seis ônibus com produtos sem nota fiscal na BR-040. A mercadoria abasteceria o comércio ilegal no DF.

A secretaria alertou que, por não terem o selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), os produtos vendidos por ambulantes apresentam baixa qualidade e podem oferecer riscos à saúde. Conforme a Seops, investigações da Interpol revelaram que o tráfico de produtos piratas está associado ao crime organizado. Dados da Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM) mostraram que o mercado fonográfico tem prejuízos anuais de R$ 500 milhões em impostos não recolhidos devido à falsificação de CDs no Brasil. Segundo a secretaria, os prejuízos afetam também o mercado de trabalho. Cerca de 96 mil empregos deixam de ser criados no país, de acordo com pesquisa do Instituto Ipsos.


Empresa francesa
A empresa independente foi fundada em 1975, na França, a fim de fornecer pesquisas de marketing, propaganda, mídia, satisfação do consumidor e de opinião pública e social. Com capital aberto, a Ipsos é administrada por profissionais de pesquisa. Desde 1999, suas ações são negociadas na Bolsa de Paris. No Brasil, ela está entre as maiores empresas de pesquisa de mercado. Tem escritórios em 44 países e atua em mais de 100.

Desvio de finalidade

Há quatro anos, o Governo do Distrito Federal (GDF) promoveu uma varredura em áreas consideradas tradicionais pela exploração dos informais. Os ambulantes foram transferidos para os shoppings populares ; um próximo à Rodoferroviária e outro, em Ceilândia. A reorganização da região administrativa e do Setor Comercial Sul foi avaliada como modelo de sucesso pelo governo local para erradicar o comércio ilegal de rua.

O shopping perto da Rodoferroviária, inaugurado em 2008, abrigou camelôs dos setores Comercial e Bancário Sul, do Conic, da Avenida W3 Sul e da Esplanada dos Ministérios. Para a governo, a solução era a mais adequada para acabar com o comércio irregular, acusado de alterar a paisagem da área central de Brasília, tombada como patrimônio histórico e cultural da humanidade, além de interferir na escala monumental idealizada pelo urbanista Lucio Costa. O Correio denunciou com exclusividade, em 7 de novembro de 2010, uma série de irregularidades no Shopping Popular. Alguns boxes foram transformados em grandes lojas, com a venda de produtos de luxo, como jet skis e carrinhos de golfe.

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