Antonio Temóteo
postado em 18/01/2012 08:00
Após recuar da decisão de derrubar a árvore da espécie pau-de-balsa (Ochroma pyramidale), localizada na Quadra 415 da Asa Norte, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) garantiu que cortará o vegetal em até 20 dias. A empresa aguarda apenas o fim do processo de reprodução de uma família de joões-de-barro que está em um dos galhos para eliminar a árvore. Contrários ao posicionamento da Novacap, os moradores do Bloco G desistiram de acionar a Justiça, pois acreditam que o decreto que rege as remoções de árvores seja um trunfo do governo (veja O que diz a lei).
Os problemas entre os servidores da Novacap e os moradores da 415 Norte começaram na primeira semana de 2012, quando técnicos da empresa estiveram no local para derrubar a árvore, uma espécie nativa da Amazônia, com cerca de 10m de altura, plantada no início da construção de Brasília entre a escola classe da quadra e o Bloco G. Para tentar solucionar o impasse, a comunidade encaminhou à Administração Regional de Brasília uma carta e sugeriu a construção de escoras como alternativa ao corte.
Segundo a arquiteta Roseli Palissari, 48 anos, moradora do Bloco G, a comunidade não questiona os laudos técnicos da Novacap nem a veracidade das lesões encontradas na árvore. Entretanto, ela defende que a derrubada do vegetal seria uma agressão à paisagem, à cultura e à harmonia da região. ;Não estamos discutindo laudo técnico, mas é falta de cuidado do governo deixar de ouvir uma demanda da população. Queremos fazer uma escora para que a árvore morra ali;, completou.
O doutor em botânica pela Universidade Estadual de Campinas e professor da Universidade de Brasília José Elias de Paula analisou o vegetal e constatou que a estrutura precisa ser cortada porque pode cair a qualquer momento. Ele também alertou que esse tipo de espécie não deve ser plantada em quadras residenciais. ;As árvores do meio urbano devem ter até seis metros de altura e ser de uma espécie que não perca a folhagem em períodos de estiagem. Dessa forma, proporcionam sombra, não ameaçam a fiação elétrica e não correm risco de cair por causa de ventanias;, detalhou.
O chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Rômulo Ervilha, explicou que o risco de queda da árvore é iminente e, por isso, o corte será feito. Este ano, a empresa derrubou 14 árvores na Esplanada dos Ministérios, comprometidos pelo mesmo problema. Em 2011, foram eliminados outros 1.714 na cidade. ;Também fazemos um trabalho de replantio e este ano pretendemos plantar 90 mil mudas em todo o DF. O trabalho começa hoje (ontem) no Parque das Garças, no Lago Norte, com 1.500 mudas;, adiantou Ervilha.
Praga
As árvores do DF têm sido atacadas por um besouro, Euchroma gigantea, que deposita seus ovos nais raízes e nos troncos. As larvas desses ovos se alimentam dos tecidos vegetais. Dessa forma, ocorre a perda de sustentação e aumenta muito o risco de queda
O que diz a lei
O Decreto n; 14.783, de 17 de junho de 1993, regulamenta a poda, o corte e o remanejamento de árvores no Distrito Federal. Qualquer dos trabalhos deve ser feito mediante um laudo produzido por engenheiros florestais. Além de responsabilizar a Novacap em caso de quedas já comunicadas pela população, o decreto confere poder à autarquia para, mediante laudo, arrancar ou remanejar espécies ou autorizar outra empresa regulamentada a fazê-lo, em caso de risco iminente de queda ou de danificação de fiações ou encanamentos, por exemplo. A norma também obriga a companhia, a cada corte, a plantar 30 mudas caso se trate de uma planta nativa, ou 10 se for uma espécie exótica. Ainda de acordo com o texto, o governo não pode cortar lenhosas nativas ou exóticas raras; de expressão histórica, beleza e raridade; em terrenos com declividade superior a 20%; e as localizadas em áreas de preservação permanente ou reserva ecológica. Outras 12 espécies também são tombadas e só podem ser retiradas em casos extremos: copaíba, sucupira-branca, pequi, cagaita, buriti, gomeira, paudoce, aroeira, embiruçu, perobas, jacarandás e ipês.