postado em 18/01/2012 18:24
O peixe tem se tornado um item alimentar cada vez mais presente no prato dos moradores do Distrito Federal. Entre 2007 e 2011, o consumo anual de pescado por habitante passou de 12,8 kg para 14 kg, bem mais do que a média nacional ; que é de aproximadamente 9 kg por pessoa. Diante da perspectiva de expansão do setor, o Governo do Distrito Federal (GDF) promove ações para incentivar tanto a produção como a comercialização. São exemplos a criação de ponto comercial específico, o fornecimento de equipamentos para venda e conservação do produto e a realização de cursos de capacitação e treinamento para os piscicultores.Lançado em dezembro do ano passado pela Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (Seagri), em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura, o Mercado de Peixe de Brasília é uma das principais ações para incentivar o consumo de pescado no DF. Localizado nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa), o mercado recebeu investimentos de cerca de R$ 1 milhão, que incluíram infraestrutura inovadora, aquisição de um caminhão frigorífico, instalação de fábrica de gelo e compra de equipamentos.
O Mercado de Peixe tem como objetivo propiciar a criação de um núcleo dinâmico de comercialização e consumo. ;Nossos peixes são da melhor qualidade, produzidos em tanques instalados em cidades como Brazlândia ou Planaltina. A ideia é oferecer o peixe fresco como diferencial e, do ponto de vista econômico, melhorar a vida dos produtores e ampliar o segmento;, afirma o secretário de Agricultura do DF, Lúcio Valadão.
Existem hoje, na região do DF e Entorno, cerca de 200 produtores familiares que atuam na piscicultura. Juntando pais, filhos, irmãos e primos, são aproximadamente 1.000 pessoas que vivem do peixe. O secretário de Agricultura destaca que o mercado de peixe tem a função de permitir que o agricultor ou piscicultor comercialize seu produto sem intermediação, mas as ações não podem nem devem parar por aí.
Capacitação ; Em outra frente, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) inicia nesta quarta-feira (18) uma série de 12 cursos voltados para a capacitação de pequenos agricultores interessados em começar a produzir pescado. O primeiro deles tem como tema Piscicultura Básica, com aulas na Granja do Ipê, no Park Way. O local conta com auditório, 20 tanques para piscicultura ; com área total de 1,02 hectare ; e laboratório para reprodução de peixes.
Outros cursos, programados para serem realizados ao longo de 2012, envolvem treinamento e formação dos produtores em temas como reprodução de peixes nativos, tratamento específico de lambaris e carpas e práticas de manejo. Todos os cursos têm o intuito de orientar sobre as técnicas e cuidados que precisam ser tomados para tornar a piscicultura uma atividade rentável e não apenas de subsistência. São ministrados em cargas horárias variáveis entre oito e 16 horas, com direito a certificado. A Seagri dispõe ainda de programação para grupos específicos de produtores, técnicos e estudantes do DF ou de outros municípios do Entorno.
De acordo com o coordenador do Núcleo de Tecnologia em Piscicultura e Pecuária da Emater-DF, Lincoln Nunes Oliveira, em 2012 deve haver uma procura maior pelos treinamentos e aulas, em função da instalação do mercado. ;O fato de o Mercado de Peixes ser um espaço de beneficiamento e comercialização, questões que representam os maiores gargalos de quem produz peixes, incentiva mais produtores a se inserirem nesta atividade;, ressaltou.
Para Elmar Wagner, um dos representantes da Associação dos Aquicultores e Pescadores Artesanais da Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno (Haja Peixe Ride/DF), existem dois tipos de produtores no DF. Alguns, mais antigos, foram contemplados com programas governamentais da década de 80 e dominam as técnicas. Já os mais novos têm pouca experiência e carência desse tipo de treinamento. ;Eles possuem boa vontade, mas não conseguem sequer transportar o peixe direito;, contou, ao falar sobre a importância da capacitação.
O produtor Erival Igreja Nascimento, no ramo há cinco anos, sabe bem o que é isso. ;Nossa maior dificuldade é o movimento de tirar o peixe e levar para o ponto de venda, o chamado manejo pós-pesca;, destacou ele, que trabalha com a família.
Ampliação ; No mercado de peixe, as vendas são crescentes. No primeiro dia de funcionamento, em 17 de dezembro, foram ofertados 93 quilos. Diante da alta demanda, os piscicultores tiveram que ampliar a oferta. No último sábado, chegaram a oferecer 647 quilos e se preparam para levar quantidade maior nas próximas vezes.
;O mercado foi programado para funcionar todos os sábados das 7h às 17h, mas a regra tem sido abrir às 7h e ficar até a hora em que ainda tiver peixe;, disse, rindo, o piscicultor Elmar Wagner, ao contar que teve dia em que às 10h a produção inteira já tinha sido vendida. O que tem mudado pouco é o perfil do público consumidor, formado por uma média de 300 pessoas a cada sábado e à procura de quantidades maiores.
;Por aqui tem bem mais gente que gosta de peixe do que se pode imaginar;, afirmou o comerciante Gilson França. ;Esse mercado mudou a vida das pessoas que vivem no DF, gostam de peixe e agora podem encontrar o produto fresquinho;, completou.
;Quando a gente compra peixe fresco, o sabor, o cheiro, a maciez, tudo fica diferente. Adorei quando soube que em Brasília já temos um lugar assim;, comemorou o servidor da Justiça Federal João Carlos Oliveira.
As declarações têm razão de ser. No local, as paredes brancas, o vidro que predomina em praticamente todas as instalações e a estrutura organizada se destacam. Como se não bastasse, o formato do mercado de Brasília, por si só, contrasta com espaços para venda de peixes observados nos tradicionais mercados brasileiros, onde o pescado costuma ser oferecido em balcões imprensados entre vários outros produtos.
Haja Peixe ; O Mercado de Peixe de Brasília tem como gestora a Haja Peixe Ride/DF. A entidade reúne cerca de 80 produtores e foi criada recentemente. ;Trabalho com o cultivo de peixe desde 1981 e nunca vi uma política governamental deixar as pessoas que atuam no setor tão estimuladas;, comentou Elmar Wagner, engenheiro agrônomo que já foi diretor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Também tem sido grande a quantidade de produtores que vão todos os sábados ver de perto as vendas ; como Erival Nascimento. Segundo ele, o pescado oferecido no mercado permite margem de lucro de R$ 2 a mais por quilo. ;Não é só pela melhoria no negócio. O aprendizado é muito grande, tanto que faço questão de vir aqui pessoalmente;, relatou, tomando para si o dito popular que diz que a prosperidade de todo negócio se dá pelo ;olho do dono;.
Expansão ; De acordo com a Seagri, a produção de peixe no DF e Entorno tem enorme margem para expansão, uma vez que os produtores locais só conseguem fornecer 14% (5,3 toneladas) do consumo anual (que é de 31,3 toneladas). Os outros 86% necessários para suprir a demanda são trazidos de fora ; o que encarece e, muitas vezes, empobrece a qualidade do produto.