Adriana Bernardes
postado em 25/01/2012 07:24
Diariamente, um motorista é flagrado a cada 50 minutos dirigindo sob efeito de álcool no Distrito Federal. Ao longo do ano passado, a fiscalização emitiu 10.499 multas por infração à Lei Federal n; 11.705/2008 ; 497 a mais do que em 2010. É o maior número de autuações desde a edição da lei seca. Em 2007, foram apenas 1.008 multas. Um ano depois, quando a tolerância zero à combinação álcool e volante entrou em vigor, o número foi duas vezes e meia maior: 2.658 e, desde então, não parou de crescer (leia quadro).Apesar do crescimento dos flagrantes, é difícil afirmar se o motorista tem ignorado a legislação com maior frequência ou se a fiscalização está mais eficiente. Nas ruas, a população não tem dúvidas: a fiscalização afrouxou e o motorista abusa da sorte. Uma pesquisa feita por estudantes de medicina e de enfermagem da Universidade de Brasília (UnB), entre outubro e novembro de 2011, com 503 alunos da instituição mostrou a ineficácia do Estado para coibir o mau hábito. Desse total, um terço admitiu que dirige depois de beber. Proporcionalmente, o resultado revela que pelo menos 10 mil dos 27 mil universitários têm o mesmo hábito.
O número de quem admitiu a infração na UnB é praticamente o mesmo das autuações em todo o DF. ;A mistura álcool e direção é um fenômeno muito maior do que se consegue flagrar. Não tenha dúvida de que os dados obtidos no universo instituição podem ser estendidos para a comunidade;, disse o coordenador da pesquisa e doutor em segurança de trânsito, David Duarte.
Para Duarte, as falhas em coibir esse tipo de infração e as mortes no trânsito associadas à combinação álcool e direção não se limitam a ação do Estado. Ele cita como exemplo o acidente no último fim de semana, na BR-070, em que seis jovens morreram. ;Houve negligência da família, da sociedade ; que viu os adolescentes, inclusive menores de idade bebendo e não denunciou à polícia ;, do dono do estabelecimento comercial que vendeu bebida alcoólica aos menores, da polícia e da fiscalização;, enumera.
Hábito mantido
Na tarde de ontem, um grupo de três amigos bebia em um dar do Sudoeste. Um deles, tomava suco de laranja e conduziria o carro. Mas isso não é comum entre eles. Os jovens entre 23 e 24 anos admitem que continuam dirigindo após beber. Com a lei seca, procuram bares perto de casa para escapar da fiscalização. Os três conhecem pelo menos uma pessoa que perdeu a CNH por desrespeitar a legislação. Ainda assim, não abandonaram o hábito.
Após capotar o carro alcoolizado, o estudante Paulo Henrique de Oliveira, 23 anos, tomou um susto. ;Hoje, se vou dirigir, bebo uma cerveja a noite toda. Quando quero beber mesmo, vou de táxi. Fico imaginando se eu tivesse machucado alguém no acidente. Porque se as consequências fossem só para mim, tudo bem. Eu pagaria pelos meus atos, mas como eu ficaria se tivesse matado ou ferido uma terceira pessoa?;, pondera o rapaz, que, na tarde de ontem, decidiu que seria o amigo da vez.
O amigo dele, o estudante Carlos Cavalcante Albuquerque Neto, 23 anos, mora em João Pessoa. Segundo ele, blitz da lei seca por lá só em ocasiões especiais, como fim de ano e carnaval. Ismael Paz Santos Filho, 24, é consultor de vendas e reclama do valor do táxi e da falta de transporte público. ;Se saio do Cruzeiro para balada no Lago Sul, gasto R$ 80 mais a despesa de bebida e do ingresso. E não tem transporte público para você voltar. Isso é ridículo;, critica.
Apesar de a sensação geral ser de que as blitzes diminuíram desde 2008, o diretor-geral do Departamento de Trânsito (Detran), José Alves Bezerra, sustenta que o número de operações atualmente é até maior, assim como a quantidade de flagrantes. ;Nesse período, a frota e a quantidade de condutores cresceram e o nosso quadro de servidores continua o mesmo. Mas temos boas expectativas com a contratação dos 100 agentes do concurso que vai acontecer este ano;, diz. Com o incremento no quadro, a meta é ter 20 equipes simultaneamente nas cidades com os maiores números de acidentes fatais. Atualmente são 10 por noite. ;Sabemos que, quanto mais fiscalização, menos mortes. Com a Operação Funil, temos expectativas de bons resultados;, comentou.
O que diz a lei
Saiba o que dizem os artigos da Lei n; 11.705/2008:
Artigo 165
Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência é infração gravíssima, punida com multa de R$ 957 e suspensão do direito de dirigir por um ano.
Artigo 306
É proibido conduzir veículo automotor com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a seis decigramas (ou 0,30 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões),ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Além das medidas acima, a pessoa responde criminalmente por dirigir alcoolizado e pode ser detida por seis meses a três anos, ser multada e ter a CNH suspensa ou ficar proibida de obter a permissão ou a habilitação para dirigir.
As multas
2006 - 353
2007 - 1008
2008 - 2.658
2009 - 6.838
2010 - 10.002
2011 - 10.499