postado em 28/01/2012 08:39
Parcerias com empresas públicas e privadas sustentam as escolas de negócios em Brasília. Em média, sete em cada 10 alunos dessas instituições pertencem a grupos firmados por meio de convênios. O pesado investimento em qualificação dos funcionários tem acirrado a concorrência e provocado o mercado a apostar em professores de alto nível, ampliar o leque de cursos oferecidos, além de melhorar a infraestrutura das instalações. Na disputa por estudantes, turmas são montadas de acordo com as necessidades das organizações e os descontos chegam a 40%.
A depender da opção escolhida, garantir um MBA no currículo pode custar perto de R$ 25 mil. Viagens técnicas, para o Brasil ou mesmo para o exterior, turbinam as despesas com a pós-graduação. Ter o curso pago pela empresa ; ou ao menos parte dele ; é a oportunidade que muitos profissionais esperam para voltar a estudar. Do lado dos empregadores, capacitar a equipe virou diferencial. Algumas empresas, incentivadas pela turma dos recursos humanos, resolveram destinar percentual fixo do faturamento anual para formar os colaboradores.
De olho nessa tendência, escolas de negócios com atuação em Brasília se apressam para fechar as parcerias do ano. Até março, a busca por convênios deve ser intensa. Representantes das instituições de ensino costumam visitar as empresas para avaliar as necessidades da equipe. Coordenadores acadêmicos e gestores da firma definem juntos a programação dos chamados cursos in company. Há a possibilidade de as aulas, inclusive, serem realizadas no próprio ambiente de trabalho. Entre as áreas mais procuradas, estão as de gestão, gerenciamento de projetos, finanças e marketing.
Aposta
Para as escolas, as parcerias representam um ótimo negócio, uma vez que minimizam os gastos com publicidade e reduzem quase a zero o índice de inadimplência. A proximidade com o poder público faz da capital do país uma boa praça para as instituições focadas em pós-graduação, sobretudo com o discurso em voga de profissionalização do funcionalismo. ;A presença maciça de órgãos do Estado diferencia o mercado de Brasília dos demais. Todo servidor precisa, hoje em dia, ser um bom gestor público;, afirma a diretora da Universa Escola de Gestão, Renata Sanches.
O aumento da demanda levou a Fundação Universa a apostar em um investimento milionário ao erguer a sede na Asa Norte, inaugurada em junho de 2011. As parcerias com ministérios, bancos e empreiteiras, entre outros, respondem por 70% das matrículas. No Ibmec Brasília, aberto em 2008, a proporção é a mesma. ;A cidade tem um público especial. Grande parte da demanda parte do poder público;, reforça Antônio Kronemberger, gestor de parcerias e soluções corporativas do Ibmec, que este ano já fechou cinco turmas com empresas, bancos e agências reguladoras.
A Fundação Getulio Vargas (FGV), no mercado brasiliense desde 1999, possui atualmente 20 projetos em conjunto com a iniciativa privada, conselhos regionais e associações. Além de montar grupos fechados, os clientes podem distribuir os funcionários entre os cursos convencionais, com direito a descontos entre 10% e 30%, a depender da quantidade de matrículas. O diretor da FGV em Brasília, Kleber Pina, lembra que convênios com o funcionalismo só não são mais frequentes porque os órgãos públicos têm restrições para firmá-los.
Empresários da cidade perceberam a ânsia dos empregadores por formação e também passaram a explorar um nicho de mercado voltado para palestras e cursos rápidos. As parcerias são fundamentais para a N Produções, empresa desse segmento que já associou seus 11 eventos anuais a quase 50 marcas. Cerca de 70% do público dos encontros ; são, em média, 3 mil pessoas em cada um deles ; fazem parte de um grupo cujos ingressos são custeados, pelo menos em parte, pelos apoiadores. Um palestrante cobra até R$ 90 mil. As entradas individuais chegam a R$ 300.
O diretor executivo da N Produções, José Paulo Furtado, comenta que existem cerca de 80 mil empresas registradas na Junta Comercial do Distrito Federal e, por isso, na avaliação dele, há muito espaço para crescimento desse mercado. ;Percebemos uma deficiência muito grande de capacitação. Dentro e fora do serviço público, as empresas entenderam que o profissional não está chegando pronto;, diz. Tem crescido, completa ele, a demanda por conteúdos considerados mais simples, como vendas e motivação, atendimento, criatividade e gestão de tempo.
Mais rápidas
MBA refere-se à sigla em inglês de Master of Business Administration, usada para descrever cursos de mestrado em administração de negócios. No Brasil, o termo se popularizou e passou a ser a aplicado a especializações lato sensu ; mais rápidas e, geralmente, menos aprofundadas do que o mestrado ;, com enfoque não somente em administração.
Exigência de bom desempenho
As empresas fazem questão de acompanhar o desempenho dos funcionários nas escolas de negócios. Algumas exigem das instituições relatórios periódicos para checar a frequência dos alunos bancados por elas e avaliar o investimento. ;As empresas pagam, mas querem retorno;, afirma um dos gestores do Ibmec Antônio Kronemberger. Segundo ele, a pressão faz com que os estudantes resultado de parcerias se dediquem até mais do que aqueles que pagam o curso com dinheiro do próprio bolso. ;Se ele não tem a pressão financeira, tem a pressão do emprego;, acrescenta Kleber Pina, diretor da FGV.
Um dos principais laboratórios clínicos de Brasília tem parceria com a FGV e a Fundação Dom Cabral. Mais de 100 funcionários, a maioria com cargos de liderança, já foram treinados às custas da empresa ou com bolsas de até 80%. Os boletins são sempre checados. A gerente de gestão e recursos humanos, Juliana Alcântara, diz que o investimento vale a pena. ;A gente percebe na prática o resultado diferenciado do profissional capacitado;, justifica. Todos os anos, são destinados 5% do faturamento médio do laboratório para a formação da equipe.
A cientista da computação Simone Rocha, 30 anos, concluiu um MBA em administração estratégica de sistemas de informação pago pela empresa de tecnologia para a qual trabalha. Para isso, precisou ter a proposta de projeto final do curso aprovada pela firma. Após quatro anos no mercado, ela já pretendia encarar uma pós-graduação, mas reconhece que a oportunidade da bolsa serviu de incentivo para concretizar os planos. ;Valeu a pena. Os conhecimentos que adquiri durante os dois anos de estudos são aplicados no meu dia a dia na empresa;, comenta. (DA)