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Demora na definição de local para desfiles de carnaval atrapalha escolas

A maioria das escolas de samba de Brasília faz hora extra para garantir a folia. Demora na definição do local dos desfiles e na liberação da verba do GDF atrasa o movimento

postado em 31/01/2012 08:00
Capela Imperial: escola de samba, segundo a direção, trabalha em turno dobrado para garantir um bom desfile
A 15 dias do carnaval, as escolas de samba do DF ainda têm muito trabalho pela frente. Os primeiros dias do ano representaram momentos de incerteza para os organizadores da festa. Com local indefinido e dúvidas quanto à data da liberação da verba, os carnavalescos terão de trabalhar dobrado nas vésperas da folia para garantir que tudo esteja impecável para os desfiles. Mas o ânimo fez com que as seis escolas concorrentes do grupo especial deixassem seus sambas-enredos prontos. Os barracões estão movimentados. Fantasias e carros alegóricos também se encontram em processo de montagem. A expectativa é aumentar o número de pessoas na avenida, saltando de 6 mil para 12 mil figurantes.

Para não atrasar mais ainda os preparativos para a festa, a União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo de Brasília (Uniesb) firmou uma linha de crédito com os fornecedores de material de confecção de fantasias no valor de R$ 100 mil. De acordo com o presidente da entidade, Geomar Leite, a greve dos vigilantes também afeta o andamento dos trabalhos. ;O nosso maior problema é o acesso à verba. O dinheiro está travado porque não conseguimos sacar ou movimentar montantes maiores com os bancos fechados pela falta de segurança;, explica. O DF tem 20 escolas filiadas à Liga, sendo seis delas pertencentes ao grupo especial, nove de acesso e cinco blocos de enredo ; grupos que desfilam com menor estrutura e pessoal que as escolas.

Geomar comenta que outro complicador é a falta de lojas de material carnavalesco. ;Aqui ,nós encontramos 45% do material, como madeira, ferragem, alguns tecidos e panos, mas somos muito carentes na parte de finalização, como brilhos e pedrarias.; Nesta semana, ele está no Rio de Janeiro acompanhando as compras de algumas das escolas que conseguiram sacar o dinheiro antes da paralisação dos vigilantes. Outras cidades visitadas são Goiânia, Belo Horizonte e São Paulo. Mesmo com as dificuldades, o presidente da Uniesb promete um belo carnaval no Ceilambódromo.

Homenagens
A escola Capela Imperial sofre com o atraso da liberação da verba. Seus integrantes vão desfilar no grupo especial depois de seis anos em destaque no de acesso, e prometem fazer bonito na avenida como forma de comemoração do retorno. ;Estamos trabalhando em dois turnos, ensaiando todos os sábados. Envolvemos toda a comunidade da cidade. Todo mundo cheio de gás, muito feliz com a conquista. Vai dar tempo;, garante a presidente da escola, Cíntia Aquino. A Capela está produzindo 900 fantasias. O samba-enredo homenageia Elis Regina, fazendo alusão aos 30 anos da morte da cantora. A escolha do tema, para Cíntia, é de grande importância para um carnaval bem-sucedido.

Tradicional na cidade, a Acadêmicos da Asa Norte conseguiu se organizar para não precisar esperar a transferência da verba do GDF. Mesmo assim, a demora atrapalha a conclusão de alguns detalhes. ;Começamos a trabalhar em outubro. As fantasias estão bem adiantadas, mas, sem o dinheiro, ainda não conseguimos pagar a mão de obra contratada;, comenta o presidente da agremiação, Robson Farias. Ele diz ainda que faltam mais detalhes nos carros. Com 1.100 componentes, a escola fará homenagem aos 50 anos da Universidade de Brasília no Ceilambódromo.

Veterano na folia brasiliense, o Rei Momo Antônio Jorge Sales, 40 anos, segue firme na missão de animar o desfile. Eleito pela sexta vez, ele conquistou o público pelo carisma e o samba no pé. ;Ganhei em quesitos como simpatia, desenvoltura e irreverência;, resume. Para ele, qualquer um pode ser rei no carnaval. ;O personagem do Rei Momo existe para mostrar que no carnaval as pessoas podem extravasar os sentimentos, a alegria, por mais que você esteja fora dos padrões físicos de beleza;, define.

O Rei Momo Jorge Sales: seis carnavais seguidos na preferência

Bloco tradicional

O Pacotão, um dos blocos mais tradicionais de Brasília, escolheu a marchinha tema para o carnaval deste ano no último sábado: a música Lavanderia Ficha Limpa conquistou a torcida. A disputa durou cinco horas, até que a plateia cantou e aplaudiu a canção de Paulo de Varadero e Jamelão Joe, o Brother. A composição condena a corrupção com um refrão direto: ;Esculhambou geral /Esculhambou geral /Tem lavanderia no Supremo Tribunal;. As críticas são dirigidas à presidente da República, Dilma Rousseff; ao governador do DF, Agnelo Queiroz; e ao ex-candidato a presidente José Serra. O Pacotão comemora 34 anos de fundação. Nesse tempo, alcançou fama por suas marchinhas mordazes que são entoadas nos dias de folia, na W3, sempre pela contramão.


Entenda o caso
Definições a compor

A primeira parcela da verba destinada para o carnaval, de R$ 2,5 milhões, foi depositada no dia 26 deste mês pelo GDF. A próxima parcela, de R$ 2 milhões, tem previsão de ser repassada na sexta-feira. A última, de R$ 500 mil, só será depositada após o carnaval e a integral prestação de contas. O valor total de gastos do GDF em 2012 para a folia será de R$ 11,9 milhões. A Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) pediu mais informações à Secretaria de Cultura quanto aos trâmites para a realização da festa.

Surgiu polêmica em torno do local de realização dos desfiles, que pode mudar em 2013. De acordo com o GDF, existe o projeto de que a festa volte a ocorrer no Plano Piloto. Há duas semanas, a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), insatisfeita com a festa em Ceilândia, cogitou não sair na avenida este ano. Os componentes estavam reunidos ontem à noite para definir se participariam do processo, mas ainda não haviam chegado a um consenso até o fechamento desta edição.

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