Pela segunda vez no ano, as chuvas fazem estragos na Cidade de Goiás, mais conhecida por Goiás Velho por ter sido a primeira capital do estado vizinho do Distrito Federal. Duas pontes antigas e avenida principal do centro histórico estão interditados desde a manhã de terça-feira (31/1), quando, após quatro horas de temporal, o córrego Manoel Gomes e o Rio Vermelho encheram e destruíram parte da calçada, da rua de pedra e do muro de contenção do manancial de água.
Homens do quartel do Corpo de Bombeiros em Goiás Velho estão em alerta desde a madrugada de terça-feira. Eles interditaram as ruas que margeiam o rio e isolaram as pontes que poderiam oferecer riscos a pedestres e veículos. "O nível da água começou a baixar na manhã de hoje (quarta-feira), mas ainda chove. Por isso estamos de plantão, na beira do rio", contou o comandante dos Bombeiros em Goiás Velho, major Jailton Figueredo.
Em função do casario e ruas centenários, o município distante 141km de Goiânia e 310km de Brasília detém o título de Patrimônio da Humanidade, dado pela Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Por causa das chuvas do início do ano, em 20 de janeiro, a Goiás Velho e outros cinco municípios do estado tiveram seus pedidos de situação de emergência acatados pela Defesa Civil goiana. A cidade histórica sofreu com outra cheia do Rio Vermelho, em 7 de janeiro.
Na última terça-feira, a chuva começou por volta das 4h. Por volta das 9h, o nível da água do Rio Vermelho já alcançava as pontes que ligam os dois lados do centro histórico. Entre elas, a vizinha à casa da poetisa Cora Coralina (1889-1985), transformada em museu e principal atração da cidade.
Uma cheia ocorrida em 20002 danificou parte da Casa de Cora Coralina, incluindo manuscritos de poesias da autoria. Quase tudo acabou restaurado, em um trabalhou que durou anos. Dezenas de outros casarões históricos e vias da cidade também foram danificadas.
Memória
Na virada de 2001 para 2002, Goiás Velho sofreu perdas irreparáveis de construções e objetos centenários com o temporal que caiu por dois dias. O grande volume de água fez transbordar o Rio Vermelho, que corta a cidade, e atingiu todas as construções ribeirinhas, entre elas a casa de Cora Coralina, hoje um museu. O muro da residência foi derrubado e a edificação foi invadida pela correnteza, que levou com ela objetos e anotações pessoais insubstituíveis da poetisa.
A cidade havia recebido o título de Patrimônio da Humanidade em dezembro, menos de um mês antes da inundação. A reconstrução das residências foi motivo de grande briga entre a prefeitura e o instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois muitas das adaptações feitas nas casas nos últimos anos não foram mantidas no projeto de restauração.
Já em janeiro de 2011, fortes chuvas deixaram 123 pessoas desalojadas em Goiás Velho. Duas casas centenárias foram totalmente destruídas. O Rio Vermelho transbordou, causando ainda interdição de três pontes. Na zona rural, outras oito pontes, de madeira e concreto, foram levadas por córregos e ribeirões. Além do trânsito dos moradores, os incidentes interromperam o escoamento da produção agrícola, principalmente leiteira, uma das bases da economia de Goiás Velho.