Cidades

Análise da notícia: Que os governantes governem

Ana Dubeux
postado em 10/04/2012 15:40
Policiais militares, em Operação Tartaruga desde fevereiro passado, comemoram a morte de cidadãos vitimados pela violência urbana. O governo finge que a greve branca não existe e nós, 2,5 milhões de brasilienses, estamos tomados pela perplexidade, bem aqui nas barbas do poder federal. Há ou não há uma ordem pública capaz de assumir a responsabilidade pelos desmandos na segurança, pelo abandono a que estamos sendo condenados no dia a dia de nossas atividades e de nossas famílias?

Há ou não um comando efetivo que trate com o rigor necessário as mortes, os sequestros, os roubos e os estupros dentro e fora das cercanias do Plano Piloto? Quem são os malfeitores, os responsáveis pela desordem, além dos bandidos que nos intimidam nas ruas? Não é uma questão político-partidária, como tudo passou a ser tratado, sobretudo depois do advento das redes sociais. Não é vermelho contra azul, ou contra verde, como a cidade costuma se dividir nas eleições.

Não é uma disputa cromática, é uma situação que, de tão grave, beira a um estado de emergência. A capital do país, da presidente Dilma, dos mais altos cargos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, e dos milhões de brasilienses anônimos, está vivendo dias de estupor, trabalhando, estudando, transitando pela cidade ou mesmo dentro de casa, sob a contínua ameaça da violência. Não poucos estão sendo consumidos pelo pânico, dados os casos subsequentes de assaltos seguidos de morte ou acompanhados de sequestro e violência sexual.

Há uma máquina do Estado que abriga corporações das mais bem pagas do país, mas que está paralisada por uma lassidão poucas vezes vistas na tão curta história da cidade. Há alguém aí? Alguém responde pelos atos de violência que se repetem num estarrecedor à-vontade? Brasília está sitiada pelos criminosos e não se ouve uma voz que diga: ;Chega, vamos agir, vamos às ruas, vamos buscar os recursos jurídicos e administrativos para trazer o policiamento de volta à cidade;. Não nos faltam recursos, nos falta vontade. Há um vazio de decisão, um vácuo de coragem, no comando da questão.

Solução existe, mas ela está soterrada pelo vício do poder público brasileiro, o de empurrar com a barriga até o derradeiro limite. E qual seria? Até que uma grande catástrofe acorde os que comandam a cidade para a gravidade do que vem acontecendo. Ou até que os brasilienses percam a paciência, já é passada a hora, e ocupem as ruas para exigir que os governantes governem, os policiais policiem e a Justiça julgue. Parece muito, mas é apenas e tão-somente a obrigação moral e funcional daqueles a quem elegemos e a quem pagamos o salário.

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