postado em 12/06/2012 10:10
Localizado a apenas 15 quilômetros da região central de Brasília, o Lixão da Estrutural ; principal depósito de resíduos da capital ; é um dos locais com maior concentração de exploração do trabalho de crianças e adolescentes no Distrito Federal (DF), segundo auditores fiscais do Ministério do Trabalho. Na última sexta-feira (8/6), a Agência Brasil acompanhou a operação de fiscalização da pasta em busca de mão de obra infantojuvenil. No local, foram flagradas sete crianças nessa situação. Um grupo de meninos e meninas fugiu quando percebeu a chegada dos fiscais.Com aproximadamente 10 quilômetros quadrados de extensão, o local recebe mais de 2 mil toneladas de lixo por dia, praticamente tudo o que a população da capital joga fora. O terreno público onde está o lixão é usado pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU-DF), serviço a cargo do governo. A administração do local e a separação do lixo, entretanto, são terceirizadas e feitas atualmente pela Quebec Ambiental, que deveria ser responsável por não permitir a entrada ou o trabalho de crianças no local. Logo na entrada da área, há uma placa indicando a proibição.
Durante a fiscalização, a empresa foi autuada pelo ministério devido à constatação de trabalho infantil. Em casos de flagrante, os auditores preenchem uma ficha de identificação com os dados da criança e a enviam para o conselho tutelar que entra em contato com os responsáveis para determinar o afastamento do menor do local. A Quebec informou que mantém seguranças no local para evitar a entrada dos jovens, assim como oferece serviço de assistência social para casos em que seja constatado trabalho infantojuvenil. A empresa admitiu que há menores no lixão, mas argumentou que toma todas as medidas cabíveis.
De acordo os fiscais do trabalho, a empresa mantém no terreno um campo de futebol que atrai as crianças e funciona como argumento para que elas sejam autorizadas a entrar no lixão, quando, na verdade, vão para trabalhar. O que os menores catam é revendido a empresas de reciclagem. A maioria das crianças encontradas no local estava na área onde são jogados lixo orgânico e produtos vencidos de vários supermercados. Tanto adultos quanto crianças dividem os restos de alimentos com cachorros, cavalos, ratos, urubus e milhares de moscas.
Esses menores são levados ao lixão, na maior parte das vezes, pelos próprios parentes ; pais, avós, tios, irmãos ;, com a justificativa de necessidade ou falta de alternativas. ;Eu trago porque ele é desobediente, me dá trabalho. Ele vem para não ficar na rua, que tem muito vagabundo. Senão é impossível;, justificou a mãe de um adolescente de 15 anos que foi encontrado trabalhando no local, Maria Santana.
[SAIBAMAIS];Querem que elas saiam, mas não têm pelo que sair. Tem que ter incentivo para as crianças. Se eu deixo os pequenos trancados em casa, o vizinho chama o conselho tutelar. Se for adolescente, se envolve em crime, com drogas ou gangues;, explicou o catador Edílson Gonçalves, que trabalha no lixão há 17 anos e assumiu levar os filhos para trabalhar quando é preciso. ;Aqui é ideal para trabalhar. É a salvação de muita gente;, disse. ;Às vezes a gente fica com o coração apertado porque a família é, de fato, carente, tanto de renda quanto de pensamento. Os pais acham que é bom. Esses são adolescentes que não têm vontade de estudar, mas têm de trabalhar. Se houvesse algum investimento, seriam uma mão de obra excelente;, informou a coordenadora de combate ao trabalho infantil no DF, Lourdes Zenaro.
Segundo ela, a maioria dos menores é menino e a idade média é 14 anos. Eles ganham cerca de R$ 600 por mês. O dinheiro serve para complementar a renda da família ou para comprar o que os pais não podem dar. ;Uso [o dinheiro] para comprar bicicleta, computador, celular, videogame. É bom porque ganho o dinheiro, é ruim porque fico cansado. Mas quero começar a estudar direito. Eu quero servir o Exército, se me aceitarem;, disse L.R., 14 anos, que ganha cerca de R$ 500 por mês revendendo o que encontra no lixão. Ele está no 5; ano do ensino fundamental e foi reprovado três vezes.
No DF, apenas três auditores de trabalho infantil são responsáveis pela fiscalização da região e de mais 13 municípios de Goiás e do Tocantins. ;Não sabemos onde há crianças, temos que procurar. Não é como outras fiscalizações, em que há muita denúncia. Há uma grande carência de auditores;, informou a fiscal Lourdes Zenaro.