Cidades

Mais de 63% de mulheres interrompem gestação após exames com profissionais

Pesquisa aponta que, antes de decidirem interromper a gestação, mais de 63% das brasileiras foram atendidas por profissionais de saúde e fizeram exames até comprovar a suspeita. Para especialistas, é nesse momento que o Estado deveria agir a fim de reduzir danos e mortes

postado em 22/06/2012 09:48

Parte do problema está revelado. Dados oficiais apontam 220 mil curetagens feitas por ano na rede pública em função de abortos, ao custo de aproximadamente R$ 35 milhões. O índice revela ainda que, aos 40 anos, uma em cada cinco brasileiras já interrompeu ao menos uma gravidez na vida, metade delas com complicações. O percurso traçado desde o atraso menstrual, entretanto, ainda era um capítulo obscuro nesse tema tão polêmico para a sociedade. Estudo inédito, financiado pelo Ministério da Saúde e obtido pelo Correio, jogou luz sobre a questão, mostrando que mais de 63% das mulheres utilizaram exames de sangue e ultrassom para ter certeza da gestação. Isso indica que se submeteram a profissionais de saúde anunciando a suspeita da concepção não planejada. Esse contato, momento em que seria possível adotar uma política de redução de danos, não as impediu de optarem por formas inseguras para dar cabo da gravidez.

Sob o título Itinerários e métodos do aborto ilegal em cinco capitais brasileiras, o estudo, feito a partir de entrevistas com 122 brasileiras, traz o dado revelador exatamente no momento em que o governo federal, sob pressão social e política, desistiu da ideia de discutir um serviço de aconselhamento na rede pública a quem não deseja ter um filho. ;Verificar que a maior parte delas, antes de abortar, apresentou-se a um profissional de saúde é importante porque desmistifica a ideia de que confirma a gravidez por sinais corporais e mostra onde está a porta de entrada para a redução de danos. É nessa hora que a rede de saúde pode informá-las sobre todos os cuidados e os riscos no caso de um aborto provocado;, defende a antropóloga Debora Diniz, uma das autoras do estudo.

Do universo pesquisado, 71% das mulheres eram negras e 42% fizeram o primeiro procedimento antes dos 19 anos. Dessas, 54% já tinham filhos. Clínicas clandestinas e introdução de sondas no útero foram os métodos utilizados por 43% delas. Pouco mais da metade usou o misoprostol (princípio ativo do Cytotec) associado a chás e ervas. Quase 40% do total necessitou de internação devido a complicações. A presença de um marido ou namorado é proporcional à idade. No caso das mulheres mais jovens, só 39% contavam com um parceiro, enquanto entre as maiores de 21 anos, os homens estiveram presentes em 60% dos casos.

Pesquisa aponta que, antes de decidirem interromper a gestação, mais de 63% das brasileiras foram atendidas por profissionais de saúde e fizeram exames até comprovar a suspeita. Para especialistas, é nesse momento que o Estado deveria agir a fim de reduzir danos e mortes

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