Cidades

Supostos PMs usam a web para fazer apologia à violência e exaltar excessos

Corregedoria da PM classifica o caso como "gravíssimo" e abre sindicância

postado em 12/07/2012 06:22

Corregedoria da PM classifica o caso como
Ao se valer do anonimato da internet, supostos policiais militares alimentam e postam vídeos no YouTube fazendo apologia à violência e enaltecendo os excessos cometidos em operações realizadas pela corporação. O vídeo mais recente, inserido no fim de junho, manda um recado para quem ;desafiar; o batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam). ;Se tentar fugir da Rotam, vai se dar mal. Se tentar trocar tiro com a Rotam, é assim que vamos responder;, dizem as legendas enquanto aparecem cenas de carros destruídos e baleados. Na sequência, surge um homem ensanguentado e aparentemente morto após levar um tiro na cabeça.

Descritas no site como o ;Dia a dia da Rotam DF;, as imagens continuam com fotos e trechos de exercícios do batalhão. Nos segundos finais do vídeo, há mais um alerta. São exibidas fotos de nove homens, com olhos cobertos por uma tarja preta, que teriam sido presos pela tropa de elite. Eles seriam os exemplos daqueles que ;tentaram a sorte com a Rotam e se deram mal;.

O coronel Paulo Roberto Oliveira, comandante da Corregedoria da Polícia Militar, considerou o vídeo ;gravíssimo; e, de imediato, abriu uma sindicância para apurar a responsabilidade pela publicação. ;Vai totalmente contra o que defendemos para a atuação policial;, disse ao Correio. Se ficar comprovado que houve dolo, ofensa ou incitação à violência, os autores, caso sejam policiais, podem responder a um processo administrativo. Eles estarão sujeitos a sanções que vão desde a redistribuição de função até a expulsão.

Outro vídeo, apesar de ter mais de dois anos de publicação, ainda chama a atenção no YouTube. Aparecem nele imagens do confronto entre a cavalaria da PM e manifestantes do Movimento Fora, Arruda na Praça do Buriti, em 9 de dezembro de 2009. Intitulado ;Choque montado bate pesadão PMDF; tem quase 27 mil acessos e 150 comentários, alguns recentes. Com o som ao fundo de ;Bate pesadão, bate pesadão, bate pesadão. Manda o inimigo para o chão;, música do grupo Apocalipse 16, aparecem cenas de policiais agredindo quem protestava deitado no Eixo Monumental. As imagens foram postadas no YouTube em página dedicada aos policiais militares.

Muitos autores dos comentários dão a entender que são membros da PM. Alguns inclusive teriam participado da operação na área central de Brasília. Além das referências homofóbicas, os internautas chamam os manifestantes de ;maconheiros; e ;vagabundos;. ;Maconheiro estudantezinho de m; rebelde sem causa. Acertei vocês, hein? Menininhos criados pela avó. Ou seja, cambada de gays;, atacou o usuário Spyderman 156, em um post de dois meses atrás. Outro, identificado como Operacional 6, se disse até ;excitado; com a atuação da cavalaria. ;Choque, viva o choque (tropa)... Fico até excitado vendo a p; nesses maconheiros ... Eu queria estar sentando o p; nesses maconheiros;, escreveu.

Para o presidente do Conselho de Direitos Humanos da Secretaria de Justiça, Michel Platini, o segundo vídeo incita a agressividade policial. ;Cria uma cultura de violência. Sabemos que é apenas uma minoria dentro da PM que pensa assim, mas a corporação precisa dar uma resposta à sociedade;, defende. Segundo ele, as imagens serão analisadas na próxima reunião do conselho, que deve ocorrer daqui a duas semanas. ;Conforme deliberarmos, podemos até pedir na Justiça que o vídeo seja removido;, afirma.

Para o corregedor-geral da PM, esse caso é mais complicado do que o primeiro porque as imagens foram amplamente divulgadas, não apenas pelo mesmo usuário. Ainda assim, se ficar entendido que a produção incentiva a violência, uma investigação pode ser aberta para apurar o episódio. Os comandantes à frente da operação policial na Praça do Buriti respondem a processo por lesão corporal.

Orkut


Supostos PMs também usam uma comunidade do site de relacionamentos Orkut para comentar notícias e zombar da população e do governo do DF. Com 4.976 membros, o espaço virtual é restrito a membros da corporação. Um tópico, criado na última terça-feira, comemora o aumento da criminalidade na capital federal. ;A pergunta que a imprensa faz é: por que cresceu (a violência) se as operações e o número de PMs nas ruas aumentaram? O que responde é desmotivação e pé no freio! (sic);, postou um deles.

Outro torce para que os índices de violência continuem aumentando: ;Tomara que aqui fique igual ao Rio de Janeiro, Recife, Belém. Depois, lá na frente, vão saber o motivo. Não sou mendigo para aceitar um salário defasado destes, não faço mais nada, só volto ao normal quando tivermos aumento decente;. Em fevereiro, PMs deflagraram a operação tartaruga, que consistiu em atrasar o atendimento das ocorrências.

A professora da Universidade Católica de Brasília Marcelle Figueira, especialista em segurança pública, avaliou que os vídeos refletem a distorção do papel da corporação atualmente. ;A PM foi criada para mediar e solucionar conflitos, não para bater em possíveis bandidos;, explica. Para a pesquisadora, falta um posicionamento firme do governo, principalmente da Secretaria de Segurança Pública. ;O PM parece não saber mais qual é o seu papel dentro das instituições de segurança.; A Secretaria de Segurança informou, por meio de assessoria de Comunicação, que cabe à PM resolver o assunto internamente, por se tratar de uma questão administrativa. Acrescentou que a corporação não é subordinada, mas apenas vinculada à pasta.

Corregedoria da PM classifica o caso como

Assista aos vídeos

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