Cidades

Documentos guardados em apartamento revelam episódios do Brasil Colônia

Renato Alves
postado em 15/07/2012 11:12
Por três décadas, documentos centenários que contam parte da história de Minas Gerais e do país estão guardados em um apartamento do Bloco F da 311 Sul. Alguns desses papéis vêm sendo preservados há séculos por integrantes de uma família com origem em Portugal e detentora de títulos do Império, que veio para o Brasil na época das sesmarias, se mudou para o interior mineiro no auge do ciclo do ouro e acabou se estabelecendo, em sua maioria, no Distrito Federal. O mistério em torno desse tesouro começa a ser desvendado por uma das herdeiras, com a ajuda de uma antropóloga da Universidade de Brasília (UnB). Elas pesquisam milhares de páginas e fotografias, amareladas pelo tempo. Ambas decidiram, há um mês, abrir as duas malas de couro nas quais estavam o acervo. Desde então, marcam encontros semanais para identificar o conteúdo %u2014 também entraram em contato com o Arquivo Histórico de Minas Gerais e o Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, para uma possível restauração e guarda dos documentos. Há dezenas de autorizações emitidas pelo Reino de Portugal para exploração de fazendas e jazidas em Minas; mapas feitos à mão para a construção de estradas de ferro e da topografia de cidades, serras e fazendas da região de Ouro Preto; cartas pessoais; todo o tipo de registros cartorários; e retratos em preto e branco produzidos nos primórdios da fotografia. O mais antigo documento identificado até agora data de 1793 e partiu da Corte Portuguesa. Existe ainda uma carta de sesmaria (leia Memória) assinada por D. Manoel de Portugal, de 1821, e fotos feitas em Paris, em 1891. Os retratos mostram integrantes da família Lobo Leite, dona de tal acervo. Por muito tempo, ela foi a mais influente de Congonhas (MG). Tanto que dá nome a um povoado afastado do centro da cidade histórica, próximo ao município de Ouro Branco (MG). O distrito tem o segundo maior e mais importante conjunto arquitetônico da cidade. O primeiro é o do centro histórico de Congonhas, onde, entre outros, ficam os mundialmente conhecidos profetas de Aleijadinho. Lobo Leite também denomina a estação ferroviária de Congonhas. E dos representantes mais ilustres da família está o engenheiro Francisco Lobo Leite Pereira (1843-1920), chefe do prolongamento das Estradas de Ferro Central do Brasil (leia Para saber mais). A maioria dos documentos guardados no apartamento da 311 Sul pertencia a ele, que instruiu os filhos a preservar os papéis e, assim, criou-se uma tradição. A família doou grande parte dos arquivos ao Arquivo Público Nacional, em 1947. Outro tanto se perdeu com o abandono do casarão da família Lobo Leite. Construído no século 19, no povoado de Lobo Leite, o imóvel sofreu até um incêndio. Doado ao poder público, é restaurado pela prefeitura.

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