;Um pacto com o próprio corpo;. É assim que Ronaldo Sampaio, um dos fundadores da Associação dos Tatuadores e Perfuradores do Brasil (ATPB) define a relação de quem fez tatuagem ou colocou um piercing no corpo. Ele foi um dos presentes no 2; Brasília Art Tatto, evento que termina neste domingo (16/9) e que, de acordo com a organização, reuniu, desde sexta-feira cerca mais de 10 mil pessoas no Centro de Convenções Ulisses Guimarães.
Em sua segunda edição, o Brasília Art Tatoo reúne amantes e profissionais de tatuagem e piercing de diversos cantos do país para trocar experiências e apresentar as novidades do segmento. De acordo com Roberto Quindere, conhecido como Gibi, e um dos organizadores do evento, 50 expositores de diversas cidades do país, apresentaram seus trabalhos. Foram também realizados workshops e apresentados os mais recentes equipamentos usados no setor.
;Nosso objetivo é mostrar que os profissionais que trabalham neste ramo estão investindo muito em segurança. Queremos mais tranquilidade para as pessoas que querem fazer uma tatuagem ou colocar um piercing;, disse Gibi, que aplica piercings em Brasília há quase dez anos
De acordo com Gibi, os profissionais do ramo estão se organizando e investindo mais na qualidade dos equipamentos e nos procedimentos de aplicação. ;A feira está apresentando a terceira tinta homologada pelo Ministério da Saúde para ser usada pelos profissionais de tatuagem. Assim, as pessoas saberão exatamente que tipo de produto estão usando;. O Ministério da Saúde reconhece apenas três tipos de tintas para o uso em tatuagens. A mais recente foi liberada no final do primeiro semestre.
Além das tintas, outro destaque da feira é o uso de biqueiras descartáveis. Biqueira é o equipamento ao qual se acopla uma agulha e que conduz a tinta até a pele. Até pouco tempo, o aço era o material mais usado. Após cada uso, o tatuador tinha que esterilizar o equipamento. ;Agora existe uma biqueira descartável, que vem lacrada, o que dá mais segurança para o tatuador e para o cliente;, afirma João Bosco, representante de uma loja de materiais para tatuagem.
Ele revela também que o segmento já dispõe de cosméticos específicos para facilitar a cicatrização após o procedimento. ;Antes, os profissionais indicavam pomadas de farmácia. O problema é que elas não foram feitas necessariamente para a cicatrização de tatuagens. Agora dispomos de cosméticos desenvolvidos para este fim, aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Outro ponto levantado pelos participantes da feira é a necessidade de organização dos tatuadores. Ronaldo Sampaio, da ATPB, diz que os profissionais do setor estão se organizando mais, inclusive para conseguir a regulamentação da atividade. Ele fala do Projeto de Lei 2104/2007, que trata da regulamentação da atividade de dermopigmentação artística (tatuagem e perfuração corporal - piercing) e das condições de funcionamento dos estúdios para o exercício da tividade.
Com mais de 15 no ramo, Sampaio é um profissional reconhecido e respeitado pelo trabalho de organização da categoria. Ao falar sobre os passos que vêm sendo dados para a organização dos profissionais e melhorar as condições de saúde na atividade, ele destaca a parceria com o Ministério da Saúde, que lançou em agosto o concurso cultural Arte, Prevenção e Hepatites Virais para Tatuadores e Manicures. As inscrições podem ser feitas até o dia 20 de setembro.
;Tatuadores e manicures trabalham com instrumentos cortantes e acabam se submetendo a muitos riscos, inclusive a doenças como a hepatite. O concurso é uma forma de conscientizar mais as pessoas para a importância dos cuidados com a saúde, tanto do tatuador quanto do cliente;, afirma Sampaio. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 33 mil pessoas são infectadas anualmente no Brasil por hepatites virais.
Sobre a polêmica na abertura do evento, na qual a Vigilância Sanitária flagrou um profissional fazendo uma tatuagem sem os devidos procedimentos de segurança, a organização informou que foi uma conduta isolada e que não pode ser generalizada para os demais expositores. ;Infelizmente tivemos entre os expositores uma pessoa sem profissionalismo e que não estava usando todos os equipamentos de segurança. A Vigilância Sanitária notificou o evento e o profissional foi retirado. A própria Vigilância [Sanitária] reconheceu que foi um caso isolado;, informou Gibi, pela organização do evento.
Prática cada vez mais comum, sobretudo entre jovens, a aplicação de piercings e tatuagens requer atenção devido à possibilidade de se contrair doenças, como difteria, aids e hepatites de A a G. Por isso, é necessário procurar um profissional capacitado e que siga os procedimentos sanitários.
Tatuagens em adolescentes também geram polêmica. No Brasil, não há única legislação que discipline as atividades de tatuador e body piercing. Cada estado define os procedimentos necessários e disciplina inclusive a idade mínima para fazer o procedimento.
No Distrito Federal, a Lei 4.398, de 2009, institui normas para instalação e funcionamento de estabelecimentos que executam procedimentos inerentes à pratica de tatuagem e body piercing. Contudo, a lei não aborda a questão da idade. Em São Paulo, uma lei estadual de 1997 proíbe a tatuagem em menores de 18 anos, mesmo com a autorização dos pais.