postado em 19/09/2012 11:09
O verdadeiro desbravador da escuridão tem 60 anos e pedala uma bicicleta. Edgar Ferreira de Oliveira luta, todos os dias, contra o analfabetismo e o cansaço. Ele percorre, à noite, 24km, sendo 20km em estrada de chão. O percurso separa a moradia dele, em um assentamento rural, da Casa de Paulo Freire, em São Sebastião, onde ele começa a desvendar as letras. O horário da aula, das 19h às 21h, não é empecilho para o estudante dedicado. Segundo o professor e fundador da instituição voltada à alfabetização de jovens e adultos, Elias Silva, a assiduidade de Edgar o impressiona. Ele o acompanha há um ano e meio. Durante o dia, as mãos calejadas trabalham a massa usada na edificação de casas, mas, ao cair do sol, elas repousam sobre o lápis e desenham as primeiras palavras, universo antes desconhecido para o pedreiro.
Desde 1973, Edgar abraçou Brasília como lar. Natural da Bahia, ele deixou o estado de origem em busca de trabalho, assim como milhares de pessoas que migraram para a capital federal. Lá, ficaram lembranças e uma família. Pai de quatro filhos, confessa ter perdido notícias de alguns, pessoas que não encontra há mais de duas décadas. ;O mais velho, que hoje mora em São Paulo, já veio me visitar. Aí eu disse: ;Quem gosta vem, os que não gostam ficam por lá;.; O pedreiro casou-se na cidade baiana de Campo Alegre, mas as idas e vindas ao Distrito Federal culminaram na separação do casal. ;Um dia, eu cheguei em casa e a mulher tinha feito a minha mala. Tentei morar com o meu pai, mas não deu certo. Acabei vindo para cá, cidade que corre vento. O lugar é bom demais;, disse.
Edgar não tem a Carteira de Trabalho assinada nem emprego fixo, por isso, a quantia que recebe varia a cada mês, depende da função desempenhada na obra da vez. Mas, normalmente, o valor não passa de um salário mínimo. Dinheiro que, segundo ele, supre apenas o básico. ;É difícil sobrar para comprar um sapato. Mas agora é mais fácil porque não tenho que pagar aluguel;, explica. Atualmente, o homem que levanta paredes vive sozinho em um barraco improvisado feito com tábuas no Núcleo Rural Capão Comprido. Na moradia, há apenas um quarto sem divisórias. ;O nosso banheiro é o cerrado e, para tomar banho, a gente se vira, arruma uma lata. Se eu ganhar terra, quero fazer uma casa com três cômodos;, revelou.