postado em 21/12/2012 17:04
Uma ornamentação natalina tem causado discórdia no prédio residencial Millenium, na quadra 204 de Águas Claras. Um síndico notificou alguns moradores para tirarem banners, luzes pisca-piscas ou qualquer outro tipo de enfeite da sacada dos apartamentos. Caso a ordem seja descumprida, os inquilinos podem ser punidos administrativamente com multa de um terço até 10 vezes a taxa do condomínio. A alegação para a proibição, expressa na notificação, é a de "zelar pelo cumprimento de todas as normas pertinentes à preservação e manutenção da ordem, comodidade, tranquilidade, conservação e segurança do condomínio", além de desvirtuar os padrões estéticos.
Há 12 anos morando em Águas Claras, a professora aposentada Lindalva Barbosa de Araújo, 59 anos, foi notificada esta semana e recebeu um prazo de 24 horas para desfazer a ornamentação. Na sacada do apartamento, ela colocou um banner com a palavra "paz" e algumas luzes ao redor. Lindalva disse ter colocado o mesmo banner durante outros natais e ficou surpresa com a nova regra. "Esse é um enfeite que só fica no período natalino e a gente não entende o porquê disso. Tem tanta coisa mais importante para um síndico se preocupar. Eu sempre coloquei luzes e ninguém nunca reclamou. Mesmo os prédios tombados de Brasília estão iluminados. Não sei qual critério ele usou para decidir pela retirada", disse Lindalva.
Para o marido dela, o servidor público Alício Pereira de Araújo, 56 anos, a proibição é exagerada. "Não sei se ele não gosta de compartilhar esse momento, mas a ornamentação é tradição em Brasília e não vamos tirar. A medida é abusiva e desrespeitosa", avaliou.
Moradora do 3º andar, a nutricionista Patrícia Pessoa da Silva Sereno, 30 anos, recebeu uma ligação do porteiro na última sexta-feira pedindo para que ela retirasse um banner de um metro de comprimento e meio metro de largura. Nele, há uma imagem de Cristo e a frase "Divino menino Jesus, abençoe esta casa". A moradora foi obrigada a retirar o ornamento. "Ele disse que, de acordo com o regimento, o banner não podia ser colocado. Fiquei indignada. No ano passado eu coloquei o mesmo enfeite e não tive problema. Estamos vivendo na ditadura. Não sei qual a opinião do novo síndico, mas ele está radicalizando", acredita. Para ela, falta espírito natalino. "Realmente me senti incomodada porque sou católica e é uma época festiva na qual toda a cidade está iluminada. Só este prédio que está morto", reclamou.
A postura do síndico também incomodou a moradora do 9º andar, Lúcia Maria da Graça Dias de Oliveira, 58 anos. Ela enfeitou a sacada com lâmpadas coloridas no início deste mês. Até agora, ela não foi notificada a retirar, mas soube pelos porteiros que a determinação é de retirar as luzes. "Para mim ainda não chegou o comunicado, mas nem se chegar eu vou tirar. Antigamente o prédio ficava belíssimo com a iluminação e os enfeites e agora nem parece que estamos numa época diferente", destacou. Moradora do bloco há 12 anos, ela disse nunca ter passado por situação parecida. "Nunca encontrei um morador para dizer que era contra os enfeites ou que não gostava. Sempre discutíamos tudo em assembleia, mas o síndico quer assumir tudo sem consultar ninguém. Eu ornamento porque acho lindo e proporciona um clima de alegria. Sem isso, a sensação é de tristeza. Parece que continua a mesma rotina", lamentou.
Por meio de nota, o síndico Daniel Justino de Moraes disse que a medida não tem por objetivo "inibir as comemorações, seja por ocasião do Natal, Ano Novo, Carnaval, Páscoa, vitória do time de futebol de coração, etc., mas apenas evitar que tais comemorações extrapolem aquilo que estabelecem as normas". Ele disse que quatro moradores foram notificados após o enfeites terem sido questionados por outro condômino, que tinha colocado uma faixa de locação do apartamento, o que é proibido. Ele teria instalado a faixa "porque observou, em outros apartamentos, a colocação de elementos visuais, inclusive, comemorativos", informa a nota. Segundo o síndico, as normas valem para todos e que a reclamação não corresponde à vontade da maioria.
Confira a reportagem da TV Brasília
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