Cidades

Vendedora é morta no dia da campanha pelo fim da violência contra mulher

O crime coincide com o exato dia em que o Banco Mundial lança, com a colaboração de celebridades, uma campanha para sensibilizar a população para o problema

postado em 01/03/2013 19:22
Em 2011, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, registrou 70.270 atendimentos a mulheres vítimas da violência

, a apenas uma semana do Dia Internacional da Mulher (comemorado em 8 de Março), deixa evidente que o fim da violência contra a mulher ainda está longe de ser alcançado. O crime coincide com o exato dia em que o Banco Mundial lança, com a colaboração de celebridades, uma campanha para sensibilizar a população para o problema.

Segundo o Mapa da Violência, publicado em 2012, pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), mais de 92 mil mulheres foram assassinadas no país entre os anos de 1980 e 2010. Durante o período, o número de assassinatos de mulheres mais de três vezes, saltando de 1.353 casos para 4.465 registros. Tendência que, segundo especialistas, se manteve nos últimos dois anos.

Em 2011, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, registrou 70.270 atendimentos a mulheres vítimas da violência. A maioria delas tinha entre 15 e 29 anos e foi agredida por maridos ou namorados. Caso da comerciária Fernanda Grasielly Almeida Alves. Esfaqueada pelo companheiro na manhã de hoje (1;), no interior de uma loja do shopping de Brasília onde trabalhava, ela não resistiu ao ferimento e morreu no local. Detido por seguranças, o homem foi levado para a 3; Delegacia de Polícia.



[SAIBAMAIS]A morte da comerciária coincide de forma trágica com o início do Mês da Mulher e com o lançamento da campanha do Banco Mundial. A campanha conta com a participação de atores como Cauã Reymond, Gabriel Braga Nunes e Thiago Fragoso e de atletas como o judoca Flávio Canto. Eles aceitaram posar, gratuitamente, segurando cartazes onde se lê a frase "Homem de Verdade Não Bate em Mulher", mote da campanha. Uma das fotos oficiais traz a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes. Militante na luta pelos direitos das mulheres, Maria da Penha ficou paraplégica após o ex-marido tentar matá-la. Na luta para que o agressor fosse punido, Maria da Penha acabou inspirando a aprovação da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006.

A proposta do Banco Mundial é que cidadãos de todo o país participem da iniciativa. Para tanto, basta tirar uma foto segurando um cartaz com a mensagem "Homem de Verdade Não Bate em Mulher" e postar no Instagram ou no Twitter (@worldbanklac) com a hashtag #souhomemdeverdade.

Em nota, o Banco Mundial explica que o objetivo da campanha é acabar com o estigma de que a Lei Maria da Penha é contra os homens. ;A igualdade entre os gêneros é fundamental para o desenvolvimento e a produtividade econômica. Os homens não perdem nada quando os direitos femininos são promovidos. Pelo contrário, estudos indicam que relações equilibradas são boas para as mulheres, homens e famílias;, argumenta a diretora do Banco Mundial para o Brasil, Deborah Wetzel.

Segundo o sociólogo Julio Jacobo, responsável pela elaboração do Mapa da Violência no Brasil, os dados do Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, revelaram que, em comparação com 2006 e anos anteriores, o número de assassinatos de mulheres chegou a apresentar uma ligeira queda em 2007, primeiro ano de vigência da Lei Maria da Penha. As ocorrências, contudo, voltaram a aumentar a partir de 2008.

;Por um lado, provavelmente aumentou o nível de denúncias apresentadas pelas mulheres. O que antes pertencia a estrita esfera privada, familiar, hoje entrou para a esfera pública, propiciando as denúncias;, disse Jacobol. Em relação ao Mapa da Violência, o sociólogo defende que o grande número de assassinatos está frequentemente associado a uma conjuntura marcada por um elevado nível de tolerância à violência contra a mulher.

;Os mecanismos por meio dos quais essa tolerância atua em nosso meio podem ser variados, mas um é preponderante: a culpabilização da vítima como forma de justificar essa forma de violência. É o que ocorre, por exemplo, quando se diz que uma mulher estuprada foi quem provocou o incidente. Ou que ela se vestia como ;vadia;", acrescentou Jacobo.

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